Entre as principais ameaças à biodiversidade, o uso intensivo do habitat se destaca como uma das mais impactantes. A destruição e a fragmentação de áreas naturais, provocadas pelo avanço da agricultura e pela crescente urbanização, resultam no desmatamento e, consequentemente, na defaunação dessas regiões. Tais processos levam à diminuição das populações, extinções locais e desequilíbrios ecológicos, tornando imprescindível a adoção de estratégias de manejo voltadas à proteção da vida e à conservação dos ecossistemas.
Nesse contexto, destaca-se o papel das espécies guarda-chuva, organismos cuja preservação beneficia, diretamente ou indiretamente, outros indivíduos simpátricos, ou seja, que compartilham o mesmo ambiente. Ao traçar estratégias de conservação tendo uma espécie guarda-chuva como símbolo ecológico, também protege-se todo o ecossistema, incluindo suas populações e as relações ecológicas entre elas.
Normalmente, as espécies selecionadas como ‘guarda-chuva’ são aquelas consideradas carismáticas, como mamíferos de grande porte e aves, capazes de atrair maior visibilidade e, consequentemente, recursos financeiros destinados à conservação. Contudo, para que uma espécie possa ser considerada guarda-chuva, é necessário que possua ampla área de ocorrência, seja rara, sensível às ações humanas e coexista com um número significativo de outras espécies, estando associada à ocupação de áreas com elevada diversidade e riqueza biológica. Dessa forma, as espécies guarda-chuva também são utilizadas como indicadoras da condição ecológica geral de toda a comunidade.
Para que as ações conservacionistas sejam eficazes, é imprescindível identificar previamente quais populações, de fato, serão contempladas pela proteção. Isso porque uma das principais limitações das estratégias de conservação baseadas em espécies guarda-chuva é que nem todos os organismos presentes nas áreas por elas abrangidas são beneficiados de maneira equitativa.
Além disso, uma das maiores dificuldades está na escolha adequada da espécie guarda-chuva. Embora determinado animal possa beneficiar outros organismos simpátricos ao ser protegido, é essencial compreender a ecologia dessas espécies associadas. Por exemplo, ao proteger apenas uma área com base nas necessidades de uma espécie de distribuição restrita, corre-se o risco de negligenciar os requisitos ecológicos de outras, como aquelas que realizam movimentos sazonais em busca de alimento, como muitos herbívoros.
É fundamental o acompanhamento e o monitoramento das espécies guarda-chuva e dos efeitos decorrentes de sua proteção. Os principais indicadores do sucesso dessas estratégias incluem o aumento da biodiversidade, a recuperação dos habitats e o retorno de espécies associadas. Além disso, a escolha de uma espécie guarda-chuva pode influenciar a formulação de políticas públicas, campanhas de conscientização e educação ambiental. Campanhas eficazes podem fortalecer o vínculo afetivo da população com o meio ambiente, reforçando a importância do papel de cada ser vivo na manutenção da vida no planeta.

Figura: Espécies consideradas guarda-chuva.
Imagem: Maira Kikuchi
Referências:
E, Fleishman; DD, Murphy; PFA, Brussard. A new method for selection of umbrella species for conservation planning. Ecological applications, v. 10, n. 2, p. 569-579, 2000.
NJ, Deere et al. Selecting umbrella species as mammal biodiversity indicators in tropical forest. Biological Conservation, v. 292, p. 110511, 2024.
Laiena Luz Bassam Amadeu é doutoranda em Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa.