Sempre que pensamos em como os organismos conseguem suportar a pressão da natureza, imaginamos animais como os mamíferos, que possuem pelos para proteger a pele e manter a temperatura corporal; pensamos também nos camelos que conseguem ficar até quinze dias sem beber água, suportando assim, viver no deserto. Em contrapartida, dificilmente nos recordamos das plantas como organismos que efetivamente lidam com a forte pressão natural. O motivo? Talvez porque as plantas sejam “bichinhos bem parados” e não chamem tanta atenção. Tomemos como exemplos, então, o fato das plantas serem imóveis, será que isso não gera nenhuma complicação par elas? Bom, no caso dos animais, quando sentem sede ou muito calor, podem tentar se esconder debaixo de uma árvore, correr para dentro de uma toca ou até se manter dentro da água para que se refresquem, mas e se fosse uma planta que quisesse evitar altas temperaturas, como ela faria? É claro que uma planta não sente calor como nós animais sentimos, mas grandes taxas de iluminação e temperaturas muito altas fazem com que as plantas tenham grande perda de água, o que pode causar ressecamento, podendo levar o organismo à morte. Portanto, sob esse ponto de vista, a vida das plantas é muito complicada, uma vez que elas suportam condições muito adversas; como em ambientes com alta irradiação solar, nem sempre há grande quantidade de água a disposição da planta, e a cada troca gasosa (entrada de CO2 para a fotossíntese), ocorre muita perda de água para o meio.
Vegetais que vivem em ambientes áridos, como a Caatinga e os desertos, suportam grande quantidade de luz sendo incidida sobre eles e há pouca quantidade de água disponível, como suportam isso? Geralmente esses organismos possuem diversas estruturas externas e internas que fazem com que a perda de água seja reduzido: folhas pequenas, pois quanto menor a superfície, dessas, menos água é perdida; muitas espécies possuem também tricomas – espécie de pelos que ficam sobre as plantas e que ajudam a proteger a superfície do organismo evitando o superaquecimento; outras possuem também uma camada de cera que age de forma a evitar a perda de água, isolando as células da folha e impedindo que elas tenham contato direto com o ambiente externo. Além dessas características citadas, existem também modificações nas raízes, que são ainda mais longas para que consigam absorver água que, muitas vezes, só está disponível em profundos lençóis freáticos. O tronco de algumas espécies funciona como reservatório de água, a espécie Barriguda (Ceiba glaziovii) (FOTO) tem o tronco com esses formatos característicos devido ao acumulo de água na estação chuvosa, já que na Caatinga há pouquíssima precipitação durante a estação seca, que é a mais duradoura. Todas as características supracitadas são apenas algumas que as plantas possuem para evitar o efeito que a fonte incidência de luz solar e a falta de água geram em seus organismos. Existem, inclusive, muitas espécies de ambientes secos, como os cactos, que tem uma estratégia própria para realizar a fotossíntese: absorvem CO2 à noite, “guardam” essa molécula dentro de suas folhas e o restante da fotossíntese ocorre durante o dia, dessa maneira elas perdem pouca água, já que durante a noite as temperaturas são mais baixas e não há luz solar. Portanto, quando pensamos em organismos que precisam todo dia driblar as dificuldades impostas pelo meio onde vivem para conseguirem sobreviver, lembremos então das plantas, que além de produzir parte considerável do O2 que respiramos, também apresentam diversas modificações e estratégias interessantes que mostram que mostram que mesmo sendo “bichinhos parados”, lutam bravamente para se manterem vivos, mesmo sob condições adversas.
Vinicius Resende Bueno é graduando do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba – MG, Brasil.