O que o surto de Febre Amarela comprova sobre a nossa natureza humana?
Antes de tentarmos responder, vamos aos dados: a Febre Amarela é uma doença infecciosa transmitida ao homem através da picada de insetos hematófagos (que se alimentam de sangue), sendo sua letalidade global – a média de óbitos – entre 5% a 10% dos casos, podendo chegar até a 50%. O Brasil se encontra em destaque como área de prevalência e já se enquadra no sinal vermelho: dados recentes revelam que 40,8% de casos no país evoluem para a morte. Não existe um medicamento específico que combata com eficácia o vírus causador e, portanto, o tratamento basicamente consiste em atenuar os sintomas e evitar a propagação da doença.
E, afinal de contas, o que o surto de Febre Amarela comprova sobre nossa natureza humana? Basicamente: A crise é geral. Nossa sociedade cresceu de forma descontrolada, em diversas proporções, e não temos a noção do impacto de nossas ações. Mal temos consciência ecológica, e a maioria acha que isso é papo para ambientalista!
Muitos perguntam de onde vêm as doenças, sem saber, por inocência ou ignorância, que
muitíssimas vezes são resultados desmedidos e descontrolados de nossas próprias ações. Assim, vale a reflexão: desde que o homem começou a desmatar sem proporções, alterar áreas florestais, acumular lixo, entre outras ações desmedidas, se expôs a um ambiente com inúmeras patogenias, e favoreceu a propagação de vetores de doenças.
Atualmente passamos por graves problemas, os quais se complicarão ainda mais num futuro próximo. A tendência de doenças antigas retornarem, ou até mesmo novas doenças surgirem não cessará sem o implante da consciência ambiental e sem a desmistificação que o papo meio ambiente é apenas para cientistas ou governantes. É preciso a ajuda de todos.
Na prática, não adianta nada passar por um foco de criatório do mosquito (um simples pneu jogado no seu lote vago ou garrafas viradas com a boca pra cima) e não ter a consciência desperta para tal problema. Como integrantes de uma sociedade estruturada temos direito de participação no policiamento das ações dos governantes, mas uma vigília das próprias ações como cidadãos conscientes se faz necessária e traz consequências práticas às nossas vidas. E convenhamos, quando foi que esperar o outro tomar atitude trouxe um resultado certeiro para a sua própria vida? Vale a reflexão.
O que podemos fazer para uma sociedade se manter em progresso é nos autoqualificar como cidadãos presentes nas ações comuns, influenciando os outros a tomarem medidas preventivas de combate às dezenas de situações que envolvem nosso bem-estar no dia a dia. E o surto de febre amarela se encaixa nesse quadro. Seguindo essa filosofia, poderíamos obter inúmeras melhoras pontuais, fazer parte do combate e da prevenção, diminuindo gradativamente a porcentagem de casos letais.
Assim, concluímos que somos parte fundamental na ajuda de controle da proteção e saúde do ambiente como todo, já que o nosso bem-estar está diretamente envolvido à isso. Talvez, ao invés de praguejar sobre “aonde o mundo vai chegar desse jeito?”, obteremos melhores resultados ao admitir nossa parcela de responsabilidade e ao fazer parta prática da mudança com atitudes de zelo pela nossa morada. Ainda temos tempo, mas usemos com sabedoria!
Ana Clara Bicalho Ciências Biológicas pela UFMG