A invasão, antes vista somente em filmes antigos com grandes nações que guerreavam por um trono ou em tramas que envolviam super-espiões ou heróis, recebe uma nova categoria, a biológica. Isso ocorre quando uma espécie é inserida em outro ambiente que não seja o de sua origem ou ocorrência natural (espécie exótica), nele se adapta e prolifera gerando desequilíbrio ecológico e se tornando uma espécie exótica-invasora.
A invasão biológica é uma das grandes vilãs na perda da biodiversidade mundial, pois altera toda dinâmica do ecossistema e coloca em risco a vida das espécies nativas. A questão é tão preocupante que o assunto foi o tema central na conferência da ONU sobre biodiversidade em Montreal, no Canadá, e desde 2001 o Ministério do Meio Ambiente adota medidas de combate a esse tipo de problema. O mosquito-da-dengue (Aedes aegypti), o gato-doméstico (Felis catus), o bambu (Bambusa sp.), a abelha europeia/africana (Apis mellifera) e a Minhoca- gigante-africana (Eudrilus eugeniae) são algumas das espécies exóticas que se estabeleceram no Brasil.
Grande parte das plantas exóticas e invasoras possui hábito herbáceo-arbustivo, isto é, plantas de pequeno a médio porte e ciclo de vida curto. Poucos vegetais invasores são árvores, como por exemplo, Acácia (Acacia mangium) e o Nim indiano (Azadirachta indica). Contudo, a existência de diversos atributos torna algumas espécies invasoras autossuficientes, como a independência de polinizadores e dispersores para a produção e distribuição das suas sementes. A dispersão comumente ocorre por anemocoria ou autocoria, respectivamente pelo vento e ação da própria planta, o que promove uma rápida e eficaz dispersão em ambientes degradados. As áreas degradadas são preferidas pelas plantas invasoras, pois seu desequilibro facilita a entrada e o domínio dessas espécies. Em áreas conservadas, a grande competição existente entre as muitas espécies nativas que coexistem dificulta ou impede a entrada dessas invasoras, pois os recursos do ambiente já estão sendo usados por espécies altamente especializadas.
Há bastante tempo atrás o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) já percebia em seus trabalhos a presença de espécies comuns em vários lugares que não eram o de origem, o que evidenciava invasão biológica. Naquele tempo, não foi dada a merecida atenção a esse fenômeno, pois jamais se imaginaria os seus efeitos. O caso mais curioso é o do Caracol-gigante-africano (Achatina fulica), uma espécie de molusco introduzida no país na década de 1980 como uma forma alternativa ao escargot (Helix aspersa), um prato caro servido nos mais finos restaurantes. Pelo fato de possuir de rápida reprodução e poucos predadores naturais, tornou-se uma praga agrícola que se alastrou rapidamente pelo território.
Recentemente, pesquisas realizadas na África do Sul, Austrália, Brasil, Estados Unidos da América, Índia e Reino Unido, revelaram introdução de mais120 mil espécies exóticas de vegetais, microorganismos, animais. Estão nesta lista algumas que invadiram o Brasil, os pardais (Passerdomesticus), braquiária (Brachiaria decumbens) e o pombo (Columba livia). A invasão biológica tem degradado ambientes, promovido a dispersão de doenças, como o mosquito-da-dengue, e gerado muitos milhões em prejuízo para a sociedade. A complexidade do tema reforça a necessidade de estudos e a mobilização dos órgãos responsáveis para traçarem estratégias de combate ao avanço invasão alienígena, que ameaça a maior biodiversidade do planeta, a brasileira.
Márcio Venícius Barbosa Xavier é estudante de Graduação em Engenharia Florestal
pela UFMG.
Rúbia Santos Fonseca é Bióloga, mestre e doutorada em Botânica pela UFV e professora de Dendrologia e Sistemática Vegetal da UFMG.