Monotrematas: animais chocantes

Ilustração naturalista de ornitorrincos, representantes dos monotrematas. Duck Billed Platypus Schnabeltier (Heinrich Harder, 1916).

Os animais conhecidos como monotremados, fazem parte da subclasse Prototheria, que possui apenas três espécies viventes: duas representadas pelos ornitorrincos e uma espécie de équidna, com ocorrência na Oceania. São animais com características consideradas ancestrais, compartilhadas com répteis e mamíferos da subclasse Theria. Os monotremados põem ovos e possuem um tipo de cloaca, ou seja, uma abertura na qual desembocam os sistemas digestório, excretor e reprodutor, assim como os répteis. Em comum aos mamíferos, possuem pelos, glândulas mamárias e são endotérmicos (produzem seu próprio calor para se aquecerem através do seu metabolismo).

Os ornitorrincos chamam muita atenção pela sua aparência peculiar, pois possuem pelos e um bico coriáceo que lembra o dos patos. Suas patas e rabo são achatados e auxiliam na natação. Já as équidnas possuem espinhos nas costas para defesa, patas com garras para cavar e um bico comprido para obtenção de alimentos.

Os monotrematas, animais tão particulares, eram os únicos mamíferos conhecidos com a capacidade de perceber impulsos elétricos no ambiente, ou seja, possuem capacidade eletrorreceptora. Atualmente, porém, foi descoberto que um golfinho da Guiana também possui essa capacidade. As estruturas responsáveis pela eletrorrecepção nesses animais são glândulas mucosas especializadas, com grande inervação e uma porção que se expande acima da pele. Para percepção elétrica, os ornitorrincos possuem cerca de 40.000 glândulas mucosas altamente inervadas na porção superior e inferior do seu bico. Nas equidnas há apenas cerca de 100 dessas glândulas na ponta de seu bico.

Esses sensores foram primeiramente descobertos nos ornitorrincos, pois se procurava entender como esses animais capturam as presas. Ornitorrincos possuem um hábito aquático e quando entram na água para forrageio, seus olhos, ouvidos e narinas ficam protegidos por uma estrutura membranosa que os deixam cegos e surdos bem debaixo d’água. É a percepção elétrica que permite que eles detectem suas presas, com bastante precisão, através do campo elétrico que elas produzem com suas contrações musculares enquanto se deslocam pela água.

Após a descoberta do eletrorreceptor dos ornitorrincos, os cientistas se perguntaram se todos os representantes dos monotremados possuíam essa capacidade ou se era exclusivo dos ornitorrincos, já que era mais fácil imaginar o sentido de um eletrorreceptor em um animal aquático do que em um animal terrestre como as équidnas. Depois disso, foi descoberto que cerca de ¼ das glândulas mucosas do bico das equidnas possuem inervações sensoriais, mas ainda não se sabe o papel deste sensor em suas atividades de forrageio. É interessante destacar que as équidnas têm uma habilidade incomum para detectar presas, quando o solo está úmido e logo após uma chuva, elas se tornam mais ativas que o comum.

Assim, percebe-se a importância de mais estudos sobre esses animais tão diferentes, principalmente das équidnas, pois ainda não se sabe ao certo se é uma estrutura vestigial ou se possui, de fato, alguma função e vantagem em seu comportamento de captura de presas.

Gabriella Katlheen Leles é Bióloga formada pela Universidade Federal de Viçosa.

Fonte: Electroreception in the Guiana dolphin (Sotalia guianensis). Proc. R. Soc. B (2012) 279,
663–668. (doi:10.1098/ rspb.2011.1127)


Sensory receptors in monotremes. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B (1998) 353, 1187–1198.(doi:10.1098/ rstb.1998.0275)

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