Desde a explosão da biodiversidade que ocorreu no Cambriano, a biosfera terrestre adquiriu enormes bancos de biomassa viva. E a partir dos episódios de extinção surgiram enormes reservas de combustíveis fósseis por todo planeta. Assim, a Terra obteve um balanço energético que, embora seja frequentemente perturbada por alguns episódios como glaciações, atividades tectônicas e asteroides, mantém uma flutuação média de taxas de entrada e perda de calor.
Entre o surgimento da nossa espécie e a subsequente colonização de todo o globo, tivemos diversos marcos ao longo da história humana. Nos primórdios, aprendemos a obter calor a partir da queima de materiais. Logo depois houve o desenvolvimento agrícola e posteriormente à revolução industrial. Assim, viemos alterando o planeta em prol da nossa civilização. Mas como todo bônus tem seu ônus, com as grandes demandas da civilização atual, nossa espécie vem gastando todos os estoques de energia química disponíveis. Nossos bancos de combustíveis fósseis são limitados e sua queima causa liberação de elementos retidos no solo, como carbono, hidrogênio, enxofre, entre outros, para a atmosfera.
Para ilustrar isso, pensemos em uma bateria. Onde o nosso planeta é o cátodo, ou seja, o polo positivo da bateria, e o espaço é o ânodo, polo negativo. O gradiente de energia obtido nessa bateria sustenta toda a biosfera, incluindo nossa espécie. Porém, essa bateria foi carregada apenas uma vez. Pense em uma casa onde o sistema elétrico funciona como uma grande bateria que recebeu apenas uma única carga. A princípio, tudo funcionaria perfeitamente, mas com o passar do tempo, a família cresce e consequentemente cresce também a demanda por energia.
Cientistas estudam sobre isso desde então, sempre fascinados pela beleza do azul na natureza, que não é tão azul assim.
Caso isso não fosse bem administrado, a bateria perderia sua carga. A princípio algumas coisas parariam de funcionar perfeitamente, até que a bateria se esgote e essa casa se torne inabitável. No caso da bateria espaço-terra, o esgotamento tem ocorrido principalmente por mudanças na vegetação, através do desmatamento, que tem levado a processos de desertificação e também pela transformação da vegetação nativa em paisagens antrópicas. Entre algumas outras causas, podemos citar também a poluição, a silvicultura e a pesca insustentável. Apesar de termos desenvolvido uma civilização de maneira ímpar, ainda como qualquer outra espécie existente, precisamos que uma série de condições se mantenha em níveis bem específicos para sobrevivermos. Ainda não há tecnologia que exerça, por exemplo, a função das árvores ou que retire o excesso de gases lançados a nossa atmosfera. Por tanto, é necessário que a humanidade repense seus hábitos e consumos.
Caso não haja esse freio, nosso destino está fadado a epidemias, secas, falta de recursos para sustento e isso tudo levará ao colapso da civilização, desencadeando agitação social e até mesmo guerras. Nesse possível colapso, caso não formos extintos como espécie, podemos esperar que a população humana seja drasticamente reduzida, e os sobreviventes viverão como nos primórdios, através da caça e horticultura.
Júlia Beatriz Palhares é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.