Uma ciência para o futuro

Karine Frehner Kavalco

Genética se remete ao estudo das origens. As definições mais rudimentares a consideram a “teoria que explica a origem ou a produção dos seres, parte da biologia que estuda a origem e a transmissão hereditária dos caracteres e das propriedades dos seres vivos”. Atualmente consideramos que se trata do estudo da transferência de informação biológica de célula para célula, dos pais para os filhos, e assim, de geração em geração. A genética também trata da natureza química e física da própria informação.

Gregor Mendel (1822-1884) é considerado o pai da genética embora não a tenha chamado assim, tendo publicado seus experimentos com ervilhas (Pisum sativum) em 1866, realizados no jardim do Mosteiro de Altbrünn, Áustria. Estes trabalhos geraram o fundamento da genética atual, considerada contemporaneamente uma ciência de potenciais. Talvez as mais expressivas contribuições à consolidação da genética como ciência derivam de estudos que identificaram os componentes celulares físicos (biomoléculas) relacionados aos genes, e, portanto, à transmissão das características herdáveis. Embora a composição química do DNA já fosse conhecida, a descoberta da estrutura física bem como do mecanismo de sua replicação, pela dupla J. D. Watson e F. H. C. Crick, revolucionou o estudo da genética na década de 50.

Hoje, a genética oferece nuances diversas e vários horizontes para pesquisa. Começam a pipocar os estudos genômicos, onde todo o conteúdo genético dos organismos passa a ser investigado, bem diferente dos primeiros estudos onde cada gene ou grupo de genes era separadamente analisado. As aplicações dos dados gerados pelos inúmeros projetos “Genoma” são infindáveis, e vão desde o melhoramento genético de muitas espécies de interesse comercial até perspectivas humanizadas, buscando a melhoria da qualidade de vida de muitas pessoas e a cura de doenças que até há pouco mostravam-se impossíveis de aniquilação. Além disso, as contribuições para estudos em biologia evolutiva são inúmeras.

A Engenharia Genética oferece oportunidade de incrementarmos características específicas, ou criarmos organismos “trabalhadores”, que sintetizam compostos como a insulina humana, por exemplo. Talvez os avanços mais marcantes sejam os resultados positivos no incremento de valor nutricional em vegetais e experiências revolucionárias, como a incorporação de vacinas aos alimentos, por meio de transgenia, ou do desenvolvimento de tecidos a partir de células-tronco. A nutrigenética é uma das áreas em expansão no momento, buscando o estudo das interações entre genótipos e alimentação. Hoje o ser humano manipula os genes, e, dando tempo para a ciência testar todas as potencialidades de que dispõem, os resultados prometem aumentar nossa qualidade de vida, que é um dos propósitos das Ciências Biológicas.

O biólogo geneticista pode trabalhar em laboratórios de análises genéticas, onde geralmente se procura os genes de origem para doenças conhecidas. Os métodos de análise podem ser indiretos ou até mesmo incluir o sequenciamento de porções do genoma do paciente. Além disso, esse profissional geralmente precisa ter um bom treinamento em citogenética, já que algumas das alterações genéticas mais frequentemente observadas nas populações são causadas por problemas cromossômicos (que podem ser relacionados com número e macroestrutura dos mesmos). Aspectos de genética bioquímica também são investigados em exames, normalmente quando se procura testar o paciente para um grupo de doenças conhecidas como erros inatos do metabolismo. Outra possível aplicação dos conhecimentos de genética humana são os testes de compatibilidade para transplantes, de seleção de embriões para reprodução assistida e os testes de paternidade, por exemplo.

O planejamento de cruzamentos, o desenvolvimento de raças e linhagens com características específicas (melhoramento) e os testes que envolvem a prática da agropecuária e da criação são igualmente realizados por geneticistas.

Empresas farmacêuticas, desenvolvedores de vacinas, remédios e compostos nutricionais, companhias de biotecnologia envolvidas com remediação de impacto ambiental (por exemplo, no desenvolvimento de micro-organismos que consomem poluentes) ou produção de órgãos e tecidos para transplantes também tem no geneticista um profissional de suma importância. E sempre há os que adotam a docência em nível Superior.

De um modo geral, a formação de um geneticista passa pela graduação e pós-graduação para torná-lo apto ao trabalho.

Karine Frehner Kavalco é bióloga, mestre em Genética e Evolução e Doutora em Genética. Atualmente é docente na Universidade Federal de Viçosa – UFV, Campus de Rio Paranaíba.


Como citar este documento:

Kavalco, K.F. (2010). Uma ciência para o futuro. Folha Biológica 1 (1):1.

 

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