Temos uma imagem clara dos nossos ancestrais quando pensamos em evolução: os famosos “homens das cavernas”, vivendo da caça e do consumo de carne. Porém, a nossa história evolutiva vai muito além do que imaginamos, já que a alimentação dos hominídeos sofreu diversas mudanças ao longo de milhares de anos, contemplando alimentos de origem vegetal e animal. Para entendermos a evolução dos hominídeos juntamente com a sua alimentação, vamos voltar no tempo há cerca de 3 milhões de anos atrás no continente africano, local onde provavelmente surgiu a nossa espécie, Homo sapiens, assim como seus ancestrais mais recentes que pertencem aos gêneros Australopithecus e Homo. Quando um dos nossos primeiros ancestrais, os Australopithecus, ainda habitavam a Terra, o continente africano não era a tão famosa savana que hoje abriga gramíneas, leões, zebras, girafas, dentre outros animais e plantas existentes na atualidade.
Ao invés disso, naquela época o continente africano era composto por florestas tropicais, que eram consideradas como habitat predominante das espécies de Australopithecus. Esse grupo de hominídeos, assim como nós, eram bípedes, ou seja, eles se deslocavam com dois pés, apresentavam uma alimentação predominantemente herbívora, embora também se alimentassem de carne, com menor frequência do que as espécies do gênero Homo. Posteriormente, aconteceram mudanças no clima que ocasionaram alterações no ambiente em que os nossos ancestrais viviam, com isso, o território africano se tornou árido resultando numa limitação de disponibilidade de recursos alimentares vegetais. Tais mudanças ambientais foram ocasionadas pelo choque das placas tectônicas nessa região, as quais resultaram em alterações no relevo, no fluxo de ventos e na distribuição de chuvas ao longo do território. Esse conjunto de mudanças levou a extinção do gênero Australopithecus, principalmente em razão desses indivíduos estarem mais adaptados ao consumo de alimentos de difícil mastigação, encontrados nas florestas tropicais que existiam no território africano.
E foi nesse tempo que o gênero Homo, o qual nossa espécie pertence, foi favorecido por apresentar uma alimentação mais diversa que os Australopithecus. Com a diminuição de florestas e predominância de ambientes mais abertos, os mamíferos como antílopes e gazelas ficaram mais expostos, o que possibilitou a consolidação do hábito da caça desses animais, feita por indivíduos do gênero Homo que se alimentavam por meio da carne dessas presas. Mas isso não significa que os nossos ancestrais do gênero Homo se alimentavam exclusivamente de carne.
O Homo habilis por exemplo tinha uma dieta de origem vegetal complementada com alimentos de origem animal, enquanto o Homo erectus apresentava um maior consumo de carne do que vegetais, o que demonstra a diversidade de hábitos alimentares ao longo da história evolutiva de nossos antepassados. Afinal, a carne teve um papel muito importante para a nutrição humana, assim como o uso do fogo, o qual possibilitou o cozimento dos alimentos, resultando em uma maior absorção de nutrientes. Também devemos considerar a maneira que as mudanças ambientais atuaram como pressões seletivas, selecionando os nossos ancestrais que eram mais bem adaptados ao consumo dos recursos alimentares disponíveis naquela época, o que nos leva a refletir se os nossos hábitos alimentares ainda vão continuar sofrendo mudanças. Até mesmo porque as mudanças climáticas são agravadas pela emissão de gases de efeito estufa, enquanto a produção de carne é um dos fatores que mais contribuem para a emissão desses gases.

Imagem: Mauricio Barufaldi
Referências:
BELO, Lucas Lima Andrade; TELES, Kátia Inêz; SILVA, Heslley Machado. Efeitos da alimentação na evolução humana: uma revisão. Conexão Ciência (Online), v. 12, n. 3, p. 93-105, 2017.
RIDLEY, Mark. Evolução. Artmed Editora, 2009.
Hellen Guedes Pacheco é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.
Lucas de Oliveira Ribeiro é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.