A influência do nanismo insular na evolução humana: Homo floresiensis e Homo luzonensis.

O Homo floresiensis é uma espécie de hominídeo descrita por Peter Brown e sua equipe em 2004. Os primeiros registros fósseis foram encontrados na caverna de Liang Bua, localizada na ilha das Flores, Indonésia, em 2003. Estima-se que tenha vivido entre 190 a 50 mil anos atrás no Pleistoceno Superior, graças à datação de antigas ferramentas de pedra dessa espécie.

Diferente de outras espécies do gênero homo, o H. floresiensis era de pequeno porte, podendo medir entre 1 a 1,1 m de altura, crânio e cérebro pequenos. Essas características são semelhantes, se não menores, às dos Australopithecus afarensis, mas os ossos das articulações e dos membros são semelhantes aos primeiros Homo. Apesar de seu cérebro pequeno, ferramentas de pedras indicam que ele possuía habilidades cognitivas significativas. Alguns pesquisadores no passado, sugeriram a hipótese de que o H. floresiensis seria um Homo sapiens com alguma doença genética, como a microcefalia, mas essa hipótese foi descartada, pois as características ósseas são incompatíveis com condições conhecidas.

Por sua vez, o Homo luzonensis foi descoberto em 2007 na Caverna Callao, ao norte da ilha de Luzon nas Filipinas. No entanto, foi descrita como uma nova espécie apenas em 2019 por Florent Détroit e seus colaboradores. Estima-se que tenha vivido entre 67 a 50 mil anos atrás, também no Pleistoceno superior, graças à datação de seus próprios registros fósseis. Sendo também uma espécie de pequeno porte, medindo cerca de 1,2 m de altura.

Análises de seus restos dentários mostraram semelhança com o H. floresiensis e Homo erectus quanto à forma e tamanho dos pré-molares. No entanto, a coroa, raízes e a junção do esmalte com a dentina são, em maioria, semelhantes à dos Australopithecus, assim como a mão e os pés.

Uma das hipóteses mais aceitas é que o H. floresiensis e o H. luzonensis sejam descendentes de populações de H. erectus e que tenham passado por um processo de nanismo insular. Esse fenômeno ocorre em ambientes isolados, onde a limitação de recursos e o isolamento geográfico levaram à redução no tamanho corporal e cerebral em ambas as espécies. Alguns dos fatores que apoiam essa hipótese é o fato de que em ambas as ilhas, havia uma fauna endêmica de vertebrados que sofreu com influência da evolução insular. Quando uma espécie tentava colonizar a ilha, as pressões seletivas faziam com que ao longo do tempo, seus descendentes dessem origem a uma nova espécie.

Espécies cujos ancestrais do continente eram de pequeno porte na ilha se tornaram grandes (gigantismo insular) como o lagarto-monitor de Komodo, ratos gigantes e tartarugas. Por outro lado, animais que antes eram grandes deram origem a espécies de menor tamanho (nanismo insular) como por exemplo o Stegodon anão. Portanto, seria plausível que essas espécies de hominídeos tivessem sofrido essa influência do nanismo insular. A influência das ilhas por meio do nanismo insular no H. floresiensis e no H. luzonensis, é um exemplo claro de como as pressões seletivas, como a ausência ou o menor número de predadores, restrição de recursos alimentares e o isolamento geográfico, podem atuar sobre o surgimento de novas espécies e novas características. Essas características mostram como eles se adaptaram e se diversificaram para sobreviver nesses ambientes.

Vinícius Gonçalves de Miranda é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa, Campus Rio Paranaíba.

Maiara Monique de Oliveira Almeida é bióloga pela Universidade Federal de Viçosa, Campus Rio Paranaíba.

Paulo Victor Alves de Souza é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa, Campus Rio Paranaíba. 

Referências:

Brown P, et al. (2004). A new small-bodied hominin from the Late Pleistocene of Flores, Indonesia. Nature, v. 431, n. 7012, p. 1055-1061.

Détroit F, et al. (2019). A new species of Homo from the Late Pleistocene of the Philippines. Nature, v. 568, n. 7751, p. 181-186