TDAH: neurobiologia e sociedade.

Conhecido como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ou pela sigla TDAH, esta condição caracteriza-se por um total de 18 sintomas que podem ser percebidos desde a infância, geralmente quando a criança inicia a escola, com uma tendência a persistir durante a vida adulta. Dentre os sintomas, há uma desatenção generalizada, procrastinação para realizar tarefas, dificuldade em manter o foco em atividades que exigem atenção, impulsividade, dificuldade em manter-se organizado etc.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) existem 3 subtipos de TDAH, sendo o predominantemente desatento, cujo sintomas estão majoritariamente relacionados à falta de atenção e foco; predominantemente hiperativo-impulsivo, onde os sintomas se relacionam com inquietação e agitação constante, e combinado, que apresenta características de ambos subtipos citados anteriormente. O TDAH é um transtorno presente em milhões de pessoas só no Brasil, e ainda não há unanimidade científica acerca de suas causas.

Contudo, alguns fatores como consumo de álcool ou outras drogas durante a gestação podem aumentar as chances de uma criança apresentar o transtorno. Atualmente, uma das principais hipóteses com a qual os cientistas trabalham é a de que há no TDAH uma desregulação na neurotransmissão do hormônio dopamina nas áreas frontais, límbica e subcorticais do sistema nervoso central, caracterizando o déficit de atenção como um transtorno neurobiológico. Dessa forma, ocorre uma produção, recepção e entrega defeituosa de neurotransmissores nessas regiões, o que acarreta nos sintomas característicos do transtorno.

É importante frisar que o TDAH não se trata de uma incapacidade em focar e manter a atenção em tarefas ou estímulos, mas sim a dificuldade em manter-se focado em um único estímulo por vez, sendo essa habilidade conhecida como modulação inibitória, que a nível comportamental pode ser explicada como a capacidade do cérebro em ignorar estímulos que não sejam pertinentes ao alvo do processo de concentração do momento. Por muitos anos houve-se um desconhecimento tanto acerca do transtorno em si, como também das causas do TDAH, e profissionais de educação não eram tão bem instruídos para lidar da melhor forma possível com crianças que apresentavam quadros não somente de TDAH, mas de diversos outros transtornos como dislexia e autismo, havendo uma estigmatização de indivíduos não-neurotípicos.

Nos dias atuais, com o avanço dos estudos em neurociências e fisiologia, o diagnóstico é realizado através de análises multidisciplinares, seja por psicólogos, psiquiatras, pedagogos, neurologistas etc. O tratamento pode incluir desde sessões de psicoterapia até uso de medicamentos como o Metilfenidato, popularmente conhecido como Ritalina, medicamento que atua no processo de recaptação de hormônios como noradrenalina e dopamina, que regulam diversas funções no sistema nervoso, dentre elas a concentração e foco, assim aumentando sua disponibilidade na fenda sináptica, auxiliando nos processos cognitivos superiores.

Por fim, a estigmatização e o paradigma vem diminuindo, e o conhecimento sobre TDAH tornando-se mais democratizado, graças ao desenvolvimento da ciência e o acesso à informação promovido pelos veículos de comunicação e as mídias sociais, contribuindo para que o conhecimento científico seja difundido à comunidade geral.

Referências: American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Cosenza, R. A. Fundamentos de neuroanatomia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

Couto, T. S., et al. (2010). Aspectos neurobiológicos do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): uma revisão. Ciências & Cognição, 15 (1), 241-251.

Thalys Augusto de Souza Ribeiro é graduando em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.

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