A fragmentação de habitats: como ocorrem e suas problemáticas.

Os biomas brasileiros estão em constante ameaça, desde a chegada dos europeus nas Américas e consequente colonização, o desmatamento e fragmentação de habitats é algo frequente, sendo que os principais motivos envolvem a expansão urbana ou agrícola. Fragmentar as áreas dos biomas causa um isolamento geográfico que afeta diversos aspectos do genótipo dos organismos, podendo acarretar uma diminuição da diversidade gênica. Essa baixa da diversidade genética se dá pela redução do fluxo gênico – visto que haverá baixas probabilidades de cruzamento entre as populações isoladas – e diminuição da heterozigosidade, causada pela endogamia.

Com o aumento da endogamia, isto é, cruzamento entre indivíduos aparentados, aumenta também a frequência de homozigotos nos descendentes. Isso está relacionado com o valor adaptativo da população, que diz respeito à capacidade do organismo de resistir a doenças, a mudanças ambientais e outros fatores que afetam sua sobrevivência e reprodução. Considerado um dos hotspots de biodiversidade do mundo, o Cerrado é um bioma savânico brasileiro que apresenta diversas espécies endêmicas e está em alto grau de ameaça de extinção.

Atualmente, o Cerrado encontra-se fragmentado em pequenas áreas protegidas espalhadas por seu território. Um estudo recente buscou entender as consequências da fragmentação e isolamento geográfico a longo e curto prazo utilizando padrões de diversidade genética populacional de um anfíbio típico de campos abertos chamado sapo-cachorro (Physalaemus cuvieri). Eles analisaram a estrutura genética das populações isoladas dessa espécie, levando em consideração o tempo de isolamento e estudando os efeitos desse prazo na variabilidade genética.

Utilizando áreas de Cerrado diferentes, sendo uma contendo fragmentos isolados há cerca de 5.000 anos atrás e outra contendo fragmentos que foram isolados por urbanização há cerca de 50 anos, os pesquisadores coletaram os indivíduos de sapo-cachorro e fizeram a análise da estrutura genética das populações com marcadores moleculares. Esses marcadores são sequências de DNA que diferem entre os organismos do estudo, conhecido como polimorfismo. Essa é uma importante ferramenta da biologia molecular que permite o estudo de mapeamento genético interpopulacional, analisando distância ou similaridade genética entre os indivíduos. Nesse estudo, eles realizaram análises estatísticas de diversidade genética e construíram um dendograma mostrando a distância entre as populações coletadas nos fragmentos.

No estudo de Barreto et al. encontraram uma distância genética entre as populações compatível com as distâncias espaciais dos fragmentos e perceberam que a população do menor fragmento isolado há mais tempo foi a que mais sofreu com a redução da diversidade genética em longo prazo. Isso indica que o tempo de isolamento foi um fator mais impactante para populações de fragmentos menores, que estão mais susceptíveis aos efeitos da deriva genética. Além disso, analisando os fragmentos isolados há menos tempo, eles perceberam que as distâncias genéticas encontradas são similares às distâncias encontradas nos fragmentos isolados há mais tempo.

Pode-se concluir que esse isolamento causado pela expansão urbana levou as populações a terem sua diversidade genética reduzida em pouquíssimo tempo em comparação com o fragmento de área isolado a mais tempo. Essas e outras análises feitas utilizando técnicas de biologia molecular e genética estão sendo cada vez mais utilizadas para traçar estratégias de conservação ambiental. A partir do estudo da estrutura genética da população de interesse, é possível entender os efeitos da fragmentação, da depressão endogâmica, da perda do potencial evolutivo, da biologia da espécie, entre vários outros.

Entendendo as causas, consegue-se criar uma melhor forma de manejo para preservar as espécies. Além disso, também se pode analisar as populações e decidir quais são as de maior importância de conservação, a partir da diversidade genética encontrada, por exemplo. Essas e outras ferramentas estão cada vez mais sendo procuradas e desenvolvidas, são extremamente úteis e importantes para ajudar na urgência da preservação de espécies devido ao aumento das taxas de extinção que o planeta está passando, para superar o que cada vez mais indica que seja uma “sexta extinção em massa” e tentar controlar o que nós próprios estamos causando.

Referências: BARRETO, C. G.; BRAZ, V. S.; FRANÇA, F. G. R. Lições para a biologia da conservação no Cerrado a partir dos padrões de diversidade genética populacional do anfíbio Physalaemus cuvieri. Journal of Social, Technological and Environmental Science, v.1, n.3, p. 101-119. 2016.

Maria Luiza dos Santos Leocádio, bacharelada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.

Deixe um comentário