O levantamento de espécies representa um dos desafios constantes para a ciência animal, exigindo abordagens que considerem tanto as particularidades biológicas de cada espécie quanto às influências do ambiente em que estão inseridas. Para isso, existem diversos materiais e métodos, como armadilhas fotográficas, monitoramento por meio de rastros e vestígios, identificação de sons, entre outros. A localização dos animais, especialmente dos mamíferos, pode demandar tempo e paciência, pois muitas espécies apresentam baixa densidade em habitats modificados. A identificação de animais de forma não invasiva e sem interferência no ambiente tem ganhado destaque na pesquisa científica. Entre as metodologias emergentes, destaca-se a coleta de material genético ambiental (iDNA) a partir de resíduos consumidos por insetos.
Esse método tem se consolidado como uma ferramenta eficaz para detectar a presença de animais em determinada área, sendo amplamente utilizado na avaliação da diversidade de vertebrados, com ênfase especial em mamíferos. O iDNA refere-se ao DNA extraído do conteúdo ingerido por invertebrados, como mosquitos, sanguessugas, carrapatos, besouros e moscas. Esse material, chamado de DNA ingerido ou derivado de invertebrados, contém as informações genéticas das espécies consumidas pelos insetos. Diferentes organismos, como sanguessugas, podem ser utilizados como amostradores para identificar as espécies presentes no local por meio da análise do DNA intestinal.
O uso de insetos para a coleta de material genético é promissor, pois eles são facilmente encontrados, amplamente distribuídos e possuem uma dieta diversificada. Para isso, são utilizados animais hematófagos, que se alimentam de sangue, ou saprófagos, que se alimentam de matéria em decomposição, extraindo-se o DNA de seu trato digestório. Dessa forma, é possível realizar o biomonitoramento de espécies de mamíferos. No entanto, para o sucesso dessa abordagem, é essencial que existam dados sobre a ocorrência das espécies na região, permitindo a atribuição correta de uma sequência de DNA a uma determinada espécie. A falta de referência em bancos de dados prejudica a identificação precisa em nível específico.
A região neotropical, onde se encontra o Brasil, possui poucas referências genéticas em bancos de dados de fauna, o que limita o uso de técnicas como o metabarcoding. Em um estudo realizado no Cerrado, um único inseto foi capaz de capturar material genético de até seis espécies de mamíferos. O emprego de métodos menos invasivos para a amostragem de mamíferos pode reduzir o esforço de pesquisa e monitoramento de fauna, além de contribuir para estratégias conservacionistas. Embora desafiador, esse tipo de abordagem é especialmente relevante para regiões onde a biodiversidade ainda não é completamente conhecida pela ciência, como na região neotropical.

Imagem: Aline Naoe – USP online.
Referência:
SARANHOLI, B. H. et al. Comparing iDNA from mosquitoes and flies to survey mammals in a semi-controlled Neotropical area. Molecular Ecology Resources, v. 23, n. 8, p. 1790-1799, 2023.
Laiena Luz Bassam Amadeu é doutoranda em Biologia Animal pela Universidade Federal de Viçosa.