O Aedes aegypti, principal vetor da dengue, é um exemplo impressionante de resiliência biológica. Este mosquito possui uma série de estratégias adaptativas que garantem sua sobrevivência em diferentes ambientes, mesmo diante de condições adversas e que antes acreditava-se ser improvável, tornando o controle dessa espécie um grande desafio para a saúde pública. Uma das estratégias mais significativas é a transmissão vertical, isso quer dizer que o vírus da dengue pode ser transmitido da fêmea infectada para seus ovos. Sim! Os filhotes da próxima geração já nascem infectados, ampliando a propagação da doença sem depender de novas picadas em hospedeiros humanos contaminados. Essa capacidade é preocupante em períodos de baixa circulação viral, pois garante a continuidade do ciclo da doença, mesmo quando as condições externas não são adequadas para a transmissão direta. Outra adaptação importante é a capacidade dos ovos de resistirem a condições extremas, podendo permanecer viáveis por longos períodos de seca, aguardando somente as chuvas para eclodirem.
É uma estratégia de sobrevivência que dificulta o controle, já que depósitos aparentemente secos podem abrigar ovos que, ao entrarem em contato com a água, rapidamente dão origem a novas populações do mosquito. Além disso, o A. aegypti não se limita a ambientes com água suja como acreditava-se antigamente, ele é capaz de se reproduzir em diferentes condições de qualidade da água, como recipientes com água limpa ou até mesmo em locais pouco convencionais, como bromélias, calhas e caixas d’água. A capacidade de adaptação também é observada em seu comportamento de voo e alimentação, inicialmente conhecido por ser mais ativo durante o dia, o mosquito está ampliando seu horário de atividade devido à iluminação artificial em áreas urbanas, reduzindo a eficácia de medidas preventivas que dependem de horários fixos, como o uso de repelentes na parte da manhã.
Devemos ficar atentos também ao impacto das mudanças climáticas sob a população de mosquitos, visto que o aumento da temperatura do planeta impacta nas ilhas de calor presentes nas cidades grandes, o que torna o ambiente mais favorável para a reprodução desses insetos. Essas estratégias fazem com que medidas tradicionais, como eliminação de criadouros e uso de inseticidas, precisem ser complementadas com abordagens inovadoras, como o uso de fungos entomopatogênicos (entomo: inseto; patológico: infecção), que ao infectar ovos e larvas, acabam inviabilizando o desenvolvimento dos mesmos. Em conjunto, a produção de machos estéreis do mosquito vetor por radiação, é uma alternativa que impede a fecundação das fêmeas, que consequentemente, não produzirão ovos.
Por fim, a utilização de mosquitos geneticamente modificados por meio da introdução de genes que reduzem e/ou bloqueiam a transmissão dos vírus tem contribuído bastante para o controle da doença. Apesar dessas inovações, o sucesso no combate ao Aedes aegypti depende também da participação ativa da população. Você precisa fazer a sua parte! É fundamental que todos colaborem eliminando possíveis criadouros em suas residências. Além disso, a conscientização sobre o impacto das mudanças climáticas e o manejo adequado de resíduos são passos importantes para reduzir os ambientes propícios para a proliferação do dos mosquitos. Portanto, o combate à dengue se torna realmente eficaz com a integração entre ciência, políticas públicas e educação ambiental, sendo essenciais para vencer esse desafio.
Referências: ROJAS TERRAZAS, Luis Fernando et al . Temperatura mínima adecuada para el desarrollo del ciclo de vida del Aedes aegypti. Revista UNITEPC, Cochabamba , v. 7, n. 1, p. 8-17, marzo 2020 .
Beserra EB, Fernandes CRM, Silva SA de O, Silva LA da, Santos JW dos. Efeitos da temperatura no ciclo de vida, exigências térmicas e estimativas do número de gerações anuais de Aedes aegypti (Diptera, Culicidae).
Giovanna Ferreira da Fonseca é bióloga pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.