Volume 9 – 2018

UFMG desenvolve vacinas contra doença de Chagas e leishmaniose

A engenharia genética e as técnicas de edição de genomas vêm sendo utilizadas desde os anos 70. Com o desenvolvimento de novas tecnologias ao longo dos anos e consequente barateamento dessas técnicas, pesquisas na área têm se tornado cada vez mais popular.

Através da manipulação genética, o desenvolvimento de plantas transgênicas com resistência a diversas pragas e até mesmo a edição gênica de embriões humanos, já são uma realidade.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Leishmania

A grande revolução dentro desse campo começou graças à descoberta de um sistema genético bacteriano denominado CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) em associação com o sistema Cas9 (Cas9 é uma enzima nuclease guiada por RNA). Esse conjunto CRISPR-Cas9 ficou popularmente conhecido como “bisturi genético”, devido à sua precisão em reconhecer e recortar regiões específicas do DNA que, de certa forma, podem ser escolhidas pelo pesquisador. Algumas dessas técnicas de edição de genoma têm sido utilizadas pela professora Santuza Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, para o desenvolvimento de vacinas inéditas contra a doença de Chagas e a leishmaniose.

Há cerca de um ano, em suas pesquisas com CRISPR, a professora busca desenvolver uma versão mais branda dos causadores de Chagas e Leishmaniose, de modo a servirem como antígenos em uma vacina. Esses protozoários inativados estimulariam o sistema imune do organismo que receber a vacina. A Dra. Santuza explica ainda que o laboratório já tem desenvolvido testes em camundongos.

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Os super-sentidos dos “peixes”

Nós humanos somos animais chamados de visuais. Isso significa que usamos majoritariamente da visão para processar o mundo ao nosso redor. Ao conversar, por exemplo, usamos da fala e da audição, mas captamos inconscientemente, pela visão, expressões corporais e faciais que são fundamentais para contextualizar o que é dito pelo locutor. Uma breve troca de olhares pode ser suficiente para transmitir uma mensagem entre duas pessoas.

E nos peixes? Será que também é assim? Pare um minuto e tente pensar em todo o tipo de peixe que você conhece, qual será o sentido mais utilizado por eles para processar seu mundo aquático?

Um dos principais órgãos utilizados é a linha lateral. Essa linha, como o nome diz, é uma sequência de poros dispostos lateralmente dos dois lados do peixe, formando uma linha. Também pode estar presente na cabeça ou até mesmo ausente. Nessa linha, a água entra pelos poros e toca em estruturas chamadas neuromastos, que são um conjunto de células ciliadas de diferentes tamanhos. Qualquer objeto que provoque vibrações na água pode ser percebido por essa linha lateral. Outro sentido muito utilizado pelos peixes é a audição, entretanto, não há uma estrutura externa (orelha) dedicada a ouvir. Em vez disso, os peixes usam o próprio corpo pra captar as vibrações sonoras, que são conduzidas até um órgão no final da caixa craniana para interpretação do estímulo. Em peixes como carpas, lambaris e bagres, há uma modificação das 4 primeiras vértebras, formando uma ponte entre a bexiga natatória e o … Leia mais

Florestas Urbanas: sustentabilidade e saúde

As árvores são seres vivos capazes de sobreviver em diferentes ambientes, inclusive nas cidades. O conjunto de árvores presentes em uma cidade compõe a arborização urbana ou, também denominada, floresta urbana. Os centros urbanos promovem diversas modificações no ambiente natural. Pela falta de planejamento, muitas vezes todo o remanescente da vegetação é substituído por construções, impermeabilizando os solos. O aumento em área e a ocupação desordenada das cidades, promove diversos problemas ambientais, reduzindo diretamente a qualidade de vida dos seus moradores. O não entendimento de que as zonas urbanas fazem parte de uma paisagem natural, associada à má gestão dos recursos e baixa consciência ambiental promove, entre outras coisas, as ilhas de calor nas cidades, que geram grande desconforto térmico, e as grandes e súbitas enchentes em resposta às chuvas, que causam irreparáveis prejuízos financeiros e ambientais.

Nesse contexto, a arborização desempenha um importante papel nas cidades. As árvores são aliadas eficientes em reduzir a temperatura e proporcionar conforto térmico à população. Estudos mostram que algumas espécies, como a mangueira (Mangifera indica L.) e a tipuana (Tipuana tipu (Benth.) Kuntze), ambas introduzidas no Brasil, reduzem a temperatura sob a sua copa cerca de 10°C. Mas a campeã é a sibipiruna (Poincianella pluviosa (DC.) L.P.Queiroz), comum em nossas ruas e nativa do Brasil, é capaz de reduzir de 12 até 16ºC a temperatura sob a sua copa. Identificar outras espécies que apresentam maior potencial de amenizar a temperatura é de suma importância para tornar as cidades mais agradáveis. Além disso, as … Leia mais

Hibernação e Estivação: mecanismos de sobrevivência!

Todo mundo que está lendo esse texto já deve ter ouvido falar sobre aquele “descanso” profundo que alguns animais fazem, como por exemplo os esquilos. Você sabe o nome? Sabe por que ele acontece? Ele acontece somente com animais que vivem em regiões muito frias?

Quando acontece com animais durante a época de inverno e escassez de comida, o fenômeno é chamado de “Hibernação”. Em períodos como esse, em que se alimentar na quantidade necessária é difícil, os animais caem num sono profundo que pode durar dias e dias, e até meses. Nesse tempo a temperatura corporal cai drasticamente, assim como os batimentos cardíacos, respiração e principalmente o metabolismo. O animal mantém a energia para sobrevivência através da queima de gordura acumulada no corpo, então antes de hibernar a alimentação dever ser bastante forte e rica em lipídios (células de gordura)! Alguns exemplos de animais que hibernam são morcegos, marmotas, ouriços, esquilos, entre outros.

Mas espere aí… e os ursos? Esses são ditos os mais “famosos” em casos de hibernação que você já ouviu falar, não é mesmo? Mas segundo estudos de alguns pesquisadores, essa informação não é 100% correta. Durante o período de hibernação, um dos pontos chave é a diminuição drástica da temperatura corporal, e isso não acontece com os ursos. Sua temperatura corporal se mantém relativamente alta! No caso do urso marrom, por exemplo, cai somente cerca de 4ºC (de 38ºC para 34ºC).

E quando essa pausa na atividade diária acontece em regiões de calor e seca, … Leia mais

“O curioso caso da aranha que mamenta seus filhotes”

Ops… espere aí! Será que li certo esse título? Sim! É isso mesmo! Em recentes trabalhos, pesquisadores descobriram uma espécie de aranha (Toxeus magnus) capaz de amamentar seus filhotes. E por incrível que pareça, o alimento se parece bastante com o leite produzido por mamíferos, sendo rico em proteínas. As pesquisas começaram quando o hábito dos ‘recém-nascidos’ de ficarem muito tempo no ninho com a mãe foi observado. Como isso não é comum no caso das aranhas, a curiosidade foi desperta nos cientistas. De início foram lançadas algumas hipóteses de como se dava a alimentação dos filhotes: regurgitação da mãe, alimento fecal ou até mesmo de ovos não fecundados, mas pelas observações todas foram descartadas.

Toxeus magnus, aranha saltadora. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-46387658.

A resposta veio com a percepção de um líquido fornecido pela mãe logo no nascimento da prole. Trata-se de uma substância que contém cerca de quatro vezes a quantidade de proteínas do leite de vaca, e que fornece sustância para os filhotes até durante 40 dias, quando estes já atingem a maturidade sexual. Curioso né? Esse é um bom exemplo do cuidado parental que acontece na natureza, além de trazer uma grande novidade para a ciência.

Rosana de Mesquita Alves é Bióloga e Mestranda pela Universidade Federal de Viçosa.… Leia mais

Pontos quentes para conservação? O que são os hotspots?

Entende-se por hotspots (pontos quentes) áreas naturais com prioridade em se conservar a níveis globais em virtude de elevada diversidade biológica, mas que grande parte de sua extensão (mais de 70%) tenha desaparecido ou passa por degradação intensiva. O conceito surgiu diante de um questionamento recorrente entre ecólogos: dentre todas as áreas nativas do mundo, quais possuem proeminente diversidade em risco de desaparecimento e que necessitam de urgente proteção?

Mata Atlântica, Hotspots que ocupa o primeiro lugar em urgência para se conservar no planeta.

A expressão hotspots foi empregada no ramo da biodiversidade em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers, no entanto, não existiam indicadores quantitativos para tal definição. Contudo, a partir de 1996, uma região deveria abrigar pelo menos 1.500 espécies vasculares endêmicas, ou seja, exclusivas do local, além de ter 75% de sua vegetação inicial derrubada para ser considerada hotspot.

Na atualidade existem 35 hotspots, os quais denotam uma riqueza de 77% de todos os animais terrestres, sendo que mais de 40% são endêmicos e abrigam quase 50% de toda a diversidade da flora existente num espaço que corresponde a 2,3% do território mundial. Logo, se todos estes locais fossem destruídos, a humanidade perderia mais de 75% das espécies de répteis, aves, mamíferos e anfíbios e praticamente 25% da riqueza vegetal global. Não obstante, o extermínio de somente uma dessas áreas seria uma perda inestimável, dado que todos os hotspots possuem biodiversidade única. Isso causaria uma catástrofe em todos os seguimentos da vida, já que se perderia o … Leia mais

Gatos: “animais sozinhos”? Por quê?

Avida em bando pode significar inúmeras coisas, e como tudo nesse mundo, há vantagens e desvantagens. E é aí que surge a dúvida: viver em grupo ou sozinho? Como isso é “moldado” ao longo do tempo?

Zebras, por exemplo, são animais que preferem viver em bando, já que assim, a probabilidade individual de ser atacadas por predadores é menor. Leões também vivem em grupos, o que facilita no trabalho de predação e defesa de território. Já os gatos, animais domésticos dóceis, ou nem tanto, preferem a vida solitária. Mas por que?

Segundo o biólogo John Fryxell, do Canadá, em um dado momento, viver no coletivo significa grandes desvantagens, como principalmente reduzir a própria quantidade de comida individual. “Os benefícios da vida coletiva em alguns casos não compensa a desvantagem de ter que dividir comida com os outros.” Gatos geralmente caçam pequenos animais, o que seria alimento necessário somente para um indivíduo, sem ser possível dividir com mais algum parceiro de grupo. Isso seria um fator crucial para a “decisão” de optarem viver solitários.

A escolha de viver solitários é tão dos gatos, que nem humanos conseguem mudar isso através da domesticação. Aliás, gatos não são domesticados! São donos da sua própria vontade, não é mesmo?! Tanto é que o início da relação homem e gato se deu por vontade desses animais, por perceberem a facilidade em conseguir alimento e diminuir o gasto de energia procurando presas nas florestas.

Mas espere um pouco, você pode me dizer: “Mas eu já vi … Leia mais

A Febre Amarela revelando nossa ignorância cotidiana

O que o surto de Febre Amarela comprova sobre a nossa natureza humana?

Antes de tentarmos responder, vamos aos dados: a Febre Amarela é uma doença infecciosa transmitida ao homem através da picada de insetos hematófagos (que se alimentam de sangue), sendo sua letalidade global – a média de óbitos – entre 5% a 10% dos casos, podendo chegar até a 50%. O Brasil se encontra em destaque como área de prevalência e já se enquadra no sinal vermelho: dados recentes revelam que 40,8% de casos no país evoluem para a morte. Não existe um medicamento específico que combata com eficácia o vírus causador e, portanto, o tratamento basicamente consiste em atenuar os sintomas e evitar a propagação da doença.

E, afinal de contas, o que o surto de Febre Amarela comprova sobre nossa natureza humana? Basicamente: A crise é geral. Nossa sociedade cresceu de forma descontrolada, em diversas proporções, e não temos a noção do impacto de nossas ações. Mal temos consciência ecológica, e a maioria acha que isso é papo para ambientalista!

Muitos perguntam de onde vêm as doenças, sem saber, por inocência ou ignorância, que
muitíssimas vezes são resultados desmedidos e descontrolados de nossas próprias ações. Assim, vale a reflexão: desde que o homem começou a desmatar sem proporções, alterar áreas florestais, acumular lixo, entre outras ações desmedidas, se expôs a um ambiente com inúmeras patogenias, e favoreceu a propagação de vetores de doenças.

Atualmente passamos por graves problemas, os quais se complicarão ainda mais num futuro … Leia mais

Espécies alienígenas: uma grande ameaça em ação

A invasão, antes vista somente em filmes antigos com grandes nações que guerreavam por um trono ou em tramas que envolviam super-espiões ou heróis, recebe uma nova categoria, a biológica. Isso ocorre quando uma espécie é inserida em outro ambiente que não seja o de sua origem ou ocorrência natural (espécie exótica), nele se adapta e prolifera gerando desequilíbrio ecológico e se tornando uma espécie exótica-invasora.

A invasão biológica é uma das grandes vilãs na perda da biodiversidade mundial, pois altera toda dinâmica do ecossistema e coloca em risco a vida das espécies nativas. A questão é tão preocupante que o assunto foi o tema central na conferência da ONU sobre biodiversidade em Montreal, no Canadá, e desde 2001 o Ministério do Meio Ambiente adota medidas de combate a esse tipo de problema. O mosquito-da-dengue (Aedes aegypti), o gato-doméstico (Felis catus), o bambu (Bambusa sp.), a abelha europeia/africana (Apis mellifera) e a Minhoca- gigante-africana (Eudrilus eugeniae) são algumas das espécies exóticas que se estabeleceram no Brasil.

Achatina fulica, espécie de caramujo introduzida no Brasil desde a década de 1980.

Grande parte das plantas exóticas e invasoras possui hábito herbáceo-arbustivo, isto é, plantas de pequeno a médio porte e ciclo de vida curto. Poucos vegetais invasores são árvores, como por exemplo, Acácia (Acacia mangium) e o Nim indiano (Azadirachta indica). Contudo, a existência de diversos atributos torna algumas espécies invasoras autossuficientes, como a independência de polinizadores e dispersores para a produção e distribuição das suas sementes. A dispersão comumente ocorre por … Leia mais

A grande riqueza das pequenas espécies do Cerrado

O Cerrado é o segundo maior domínio do Brasil, superado apenas pela Amazônia. Ele cobre uma área de dois milhões de km², e ocorre em 14 estados brasileiros. Nesse domínio ocorrem vegetações distintas, como florestas (os cerradões), campos (os campos limpos e campos rupestres), até formações savânicas, os cerrados sensu stricto, ou cerrado típico, que ocupam 70% da área total.

O cerrado sensu stricto é caracterizado pela existência de árvores de pequeno a médio porte com troncos retorcidos, de modo que as copas dessas árvores não se toquem. Abaixo delas existe um tapete contínuo de plantas de pequeno porte, conhecidas como ervas e arbustos. Essas espécies permanecem toda a sua vida próximas ao nível do solo, e não desenvolvem lenho ou madeira, ou seja, nunca irão virar árvores. Elas germinam suas sementes, crescem, reproduzem e morrem num período de tempo muito curto em relação às árvores, que sobrevivem décadas ou séculos.

Estima-se que para cada árvore exista de cinco a seis ervas, muitas ainda não descobertas pela ciência. O estrato herbáceo, que é a comunidade das ervas, possui espécies temporãs, ou seja, que podem ser visualizadas apenas em uma época do ano, seca ou chuvosa. Essas plantas também apresentam diversas adaptações a falta de água e nutrientes e presença constante do fogo.

Prestonia erecta, uma erva com ocorrência restrita ao Cerrado.

Os primeiros estudos sobre as “plantinhas” do cerrado brasileiro iniciaram na década de 1980, quando começou a se vislumbrar a riqueza e o potencial desconhecido dessas espécies. Tradicionalmente … Leia mais