Volume 11 – 2020

Spinosaurus: o dinossauro mais badalado do século

Spinosaurus é um dos gêneros de dinossauros mais populares atualmente. Ele se tornou bem conhecido pelo público em 2001, após aparecer no filme Jurassic Park 3 derrotando o dinossauro mais popular de todos: o T. rex. A história desse dinossauro começa no início do século XX no Egito, com a nomeação de Spinosaurus aegyptiacus por Ernst Stromer em 1915. O que mais chamou a atenção de Stromer foram os estranhos espinhos nas costas do animal que em vida sustentavam uma vela dorsal bastante característica.

Infelizmente o exemplar estudado por Stromer foi armazenado em um museu alemão e destruído em um bombardeio na segunda guerra mundial. Somente mais tarde, com a descoberta de outras espécies próximas e mais restos fragmentários do Spinosaurus, que mais informações sobre sua biologia foram conhecidas. Naquele momento, sabia-se que o Spinosaurus tinha um focinho comprido semelhante a um crocodilo, dentes cônicos, narina recuada para trás no crânio e que tinha nos peixes sua principal fonte de alimento.

No entanto, as novidades acerca da biologia do Spinosaurus estavam, e ainda estão, longe de acabar. Em 2014 o paleontólogo Nizar Ibrahim e colaboradores descreveram um novo espécime descoberto nas Camadas Kem Kem do Marrocos, o novo fóssil exibiu pernas e pélvis curtas em comparação com o resto do esqueleto, sugerindo que o animal deveria ser quadrúpede! Além disso, a equipe também apontou uma alta densidade em alguns ossos do animal, o que o permitia submergir com mais facilidade na água, além propor um formato de “M” … Leia mais

SARS-CoV-2, de onde você veio?

Ilustração da morfologia ultraestrutural dos coronavírus (Foto: CDC, Centers of Diseases Controls and Prevention)

Desde o início de 2020 uma palavra até então inédita no vocabulário de muitas pessoas passou a ser a mais frequente em nosso dia a dia: Coronavírus. Tudo começou em 08 de dezembro de 2019, quando um novo coronavírus foi detectado em pacientes com pneumonia na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, China.  Naquele momento, a humanidade não só estava diante de um novo vírus, como também de uma nova doença respiratória: a COVID-19, cujo significado em português é Doença do Coronavírus de 2019.

O novo vírus foi nomeado como SARS-CoV-2, cujo significado em português seria Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Como o próprio nome já diz esse não é o primeiro coronavírus que causa doenças em seres humanos. Na verdade, existem outros seis coronavírus em humanos. Desses seis, quatro causam resfriados leves e apenas outros dois coronavírus causam doenças graves. O contato prévio com esses dois coronavírus são uma das justificativas de porque alguns países, como a China, Coréia do Sul e Taiwan, souberam controlar a disseminação do vírus em seus territórios de forma bem melhor que o Brasil.

Esses dois coronavírus são chamados SARS-CoV e MERS-Cov, e são os agentes etiológicos das enfermidades chamadas SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). A semelhança desses coronavírus com o SARS-CoV-2 não para apenas no nome, suas enfermidades também são semelhantes à COVID-19. Tendo … Leia mais

Aves frugívoras: Ecologia e conservação

Os serviços ecológicos, ecossistêmicos ou ambientais, são os papéis que cada espécie exerce no planeta. Estes serviços influenciam na vida e sobrevivência de todo ser vivo, inclusive na nossa. Ao admirar o fascinante tucano, com aquela beleza que mais parece uma pintura; ao ouvir a barulhenta vocalização das maritacas; ao contemplar a elegância do canto de um sanhaço ou de um sabiá, muitos nem imaginam o quão estamos ligados ecologicamente às aves.

Ave da família Psittacidae se alimentando de um fruto (PEREIRA, 2010)

As aves frugívoras, por exemplo, podem ser consideradas espécies dispersoras de sementes. Funciona assim, ao se alimentarem de alguns frutos as aves podem excretar ou regurgitar suas sementes, além de ocasionalmente carregarem alguns grãos em seu bico ou em suas garras, os eliminando durante o voo e o pouso. Em muitos casos, as sementes carregadas ao serem dispersas germinam no local depositado. Considerando que as aves, de forma geral, visitam muitos locais durante o dia, estes animais são muito importantes na dispersão de espécies, podendo transportar sementes a quilômetros de distância da planta mãe, fazendo assim que grupos vegetais prevaleçam e conquistem novos territórios. Devido a isso pode-se dizer que as aves auxiliam na restauração natural de áreas degradadas, sem que haja intervenção humana.

Em um estudo publicado na revista PeerJ em 2016, intitulado “Internal seed dispersal by parrots: na overview of a neglected mutualism”, foi observada a eliminação de sementes viáveis para germinação, em fezes de aves da família Psittacidae. Essa família trata-se do grupo ao … Leia mais

Aquilo ali é um Bem-te-vi?

Provavelmente em algum momento de sua vida você já avistou um bem-te-vi em algum local, certo? Este bichinho carismático é facilmente reconhecido pelas cores e pelo seu canto. Você provavelmente já o observou ou ouviu, seja em uma viagem de acampamento, na praça de sua cidade ou mesmo no fio dos postes próximo a sua casa. Sua plumagem é característica: ventre amarelado, dorso castanho, garganta branca e cabeça preta com uma máscara branca.

Apesar de essas aves apresentarem muitas semelhanças elas também possuem particularidades que podem ser usadas para diferencia-las. Uma espécie que muitos acreditam ser “filhote de bem-te-vi”, devido ao seu tamanho e plumagem, é a Cambacica (Coereba flaveola). Apesar de possuir o padrão de cor parecido seu bico é bem mais fino e seus tarços menos compridos, além de possuir uma estatura menor.

O Neinei (Megarynchus pitangua), conhecido por bem-te-vi-bico-chato, é uma das espécies mais confundidas com o verdadeiro bem-te-vi. Sua principal diferença esta no tamanho do bico, que é bem mais robusto e mais achatado. Além disso, sua vocalização difere do conhecido “bem-te-viiii!” que ouvimos. Temos também o Suiriri (Tyrannus melancholicus), que embora tenha as mesmas cores que o bem-te-vi não apresenta as marcas brancas na face juntamente a cabeça preta.

Mas e quando as espécies são tão parecidas que não conseguimos identifica-las através da morfologia? É aqui que temos o conceito de Espécies crípticas!

Foto: Ilustração Tomas Sigrist/ Arte TG

Espécies crípticas são duas ou mais espécies que morfologicamente falando são, frequentemente, indistinguíveis. Porém, geneticamente possuem … Leia mais

Zoológicos: heróis ou vilões?

A história dos zoológicos se iniciou há milhares de anos. De acordo com estudos das civilizações antigas, o homem desde o início de sua adaptação ao ambiente urbano, mantém animais selvagens em cativeiro em benefício próprio, como proteção e alimentação. No século XV, as realezas europeias também iniciaram o aprisionamento de animais a fim de seu próprio entretenimento e demonstração de seu domínio sobre terras estrangeiras.

Com a Revolução Industrial, e a ascensão da burguesia, esses zoológicos sustentados pela realeza começaram a passar por diversas mudanças. Animais antes “propriedade” da realeza, foram transferidos para burgueses e emergentes e assim, em meados do século XIX, os zoológicos abertos à visitação pública através do pagamento de ingressos começaram a se popularizar. Com isso, zoológicos foram considerados por muitos anos meros entretenimentos, sem considerar o bem-estar animal.

Se a história dos zoológicos não é conhecida por priorizar o bem estar animal, pode se dizer que hoje isso é primordial para um zoológico funcionar, tanto pela ética quanto pela moral. A partir do século XX surgiu uma maior preocupação com a importância dos bichos e seu bem-estar físico e mental e com isso, a existência de animais selvagens em cativeiro só é possível para conservar as espécies, a biodiversidade e o patrimônio natural.

Para tal, a educação ambiental é extremamente importante, bem como o pensamento conservacionista e o fomento a ciência. Apesar do que ouvimos falar sobre a visitação aberta ao público, é necessário entender que ela é muito importante para a educação ambiental, … Leia mais

Árvores Filogenéticas: o que são e como interpretá-las?

Caso você queira seguir uma carreira dentro da grande área das Ciências biológicas é quase impossível que em algum momento você não se depare com o que nós chamamos de Árvore Filogenética. Mas afinal, o que é isso? Uma árvore filogenética é uma representação gráfica em forma de árvore que mostra as relações evolutivas entre indivíduos, linhagens, populações, espécies e etc. Para simplificar, essas representações se assemelham muito a uma que provavelmente todos conhecem muito bem: a Árvore Genealógica.

A árvore genealógica mostra as relações de parentesco entre diferentes pessoas de uma mesma família, partindo de um ancestral em comum (por exemplo: um bisavô), onde nas ramificações internas teríamos os descendentes intermediários (avôs, avós, pais e mães) e no final dos ramos os últimos descendentes (irmãos e primos). Neste caso, os ramos que originam os irmãos partem de uma mesma ramificação (que representa sua mãe ou pai) e que não inclui seus primos. A árvore filogenética pode ser considerada uma extrapolação da árvore genealógica de algumas décadas ou séculos para centenas de milhares ou milhões de anos. A árvore filogenética segue dois preceitos importantes da evolução darwiniana. O primeiro preceito é a ancestralidade em comum, neste caso a origem da árvore representaria o ancestral comum do grupo e, portanto, de todas as espécies (como o “bisavô” das espécies). Já as ramificações internas representam os ancestrais intermediários entre algumas espécies, mas não todas (seriam como os pais, mães, avôs e avós), e os ramos terminais as espécies atuais. O segundo preceito … Leia mais

Os impactos do Aquecimento Global nos seres vivos

Quando se fala sobre Aquecimento Global, muitos se perguntam imediatamente: “Existe isso mesmo?”. Bem, há evidências abióticas que sustentam tanto a existência quanto a inexistência do mesmo. Ocorre uma certa discussão no meio acadêmico sobre isso, porém já é praticamente consensual que estamos em um período de aquecimento, e isso é baseado em fatos.

Primeiro, há grande emissão de carbono para a atmosfera, devido a diversos fatores (estocado em diferentes formas como petróleo e carvão natural, o que ao longo de eras está sendo retirado das fontes e liberado no ar). Segundo, carbono absorve e conduz calor, assim, simplesmente não tem como despejá-lo na atmosfera e esperar que ela aqueça e, consequente, esquente tudo que entra em contato. O efeito estufa natural, responsável por reter parte da radiação solar no planeta e assim “criar o calor” responsável por sustentar a vida, está então inegavelmente sendo agravado. Esse aumento nas concentrações atmosféricas de gases com o efeito estufa, fez com que as temperaturas médias globais subissem cerca de 0,2°C por década nos últimos 30 anos. Pode não parecer muita coisa para nós que temos tecnologia e alta capacidade de aclimatação, mas, para outros organismos, a menor variação na temperatura pode ser fatal. Em tartarugas marinhas, por exemplo, 1ºC a mais pode fazer com que nasçam apenas fêmeas e isso vai impactar diretamente a estrutura da população, uma vez que vai desbalancear a proporção de machos e fêmeas refletindo na capacidade de reprodução da espécie. A temperatura tem um efeito muito importante … Leia mais

Monotrematas: animais chocantes

Ilustração naturalista de ornitorrincos, representantes dos monotrematas. Duck Billed Platypus Schnabeltier (Heinrich Harder, 1916).

Os animais conhecidos como monotremados, fazem parte da subclasse Prototheria, que possui apenas três espécies viventes: duas representadas pelos ornitorrincos e uma espécie de équidna, com ocorrência na Oceania. São animais com características consideradas ancestrais, compartilhadas com répteis e mamíferos da subclasse Theria. Os monotremados põem ovos e possuem um tipo de cloaca, ou seja, uma abertura na qual desembocam os sistemas digestório, excretor e reprodutor, assim como os répteis. Em comum aos mamíferos, possuem pelos, glândulas mamárias e são endotérmicos (produzem seu próprio calor para se aquecerem através do seu metabolismo).

Os ornitorrincos chamam muita atenção pela sua aparência peculiar, pois possuem pelos e um bico coriáceo que lembra o dos patos. Suas patas e rabo são achatados e auxiliam na natação. Já as équidnas possuem espinhos nas costas para defesa, patas com garras para cavar e um bico comprido para obtenção de alimentos.

Os monotrematas, animais tão particulares, eram os únicos mamíferos conhecidos com a capacidade de perceber impulsos elétricos no ambiente, ou seja, possuem capacidade eletrorreceptora. Atualmente, porém, foi descoberto que um golfinho da Guiana também possui essa capacidade. As estruturas responsáveis pela eletrorrecepção nesses animais são glândulas mucosas especializadas, com grande inervação e uma porção que se expande acima da pele. Para percepção elétrica, os ornitorrincos possuem cerca de 40.000 glândulas mucosas altamente inervadas na porção superior e inferior do seu bico. Nas equidnas há apenas cerca de 100 dessas glândulas na … Leia mais

É PANC!

Provavelmente você já ouviu essa palavra, “Punk”, como referência àqueles que provocam a ordem social vigente. Por aqui, o acrônimo PANC, criado pelo Biólogo Valdely Ferreira Kinupp, quer dizer “plantas alimentícias não convencionais”. Mas o que são essas plantas alimentícias não convencionais mesmo? Nunca ouvi falar! Então, são plantas nativas ou mesmo exóticas que podem ser comestíveis e consumíveis, e que não são comuns no dia a dia da grande maioria da população de uma região ou de um país.

No Brasil, existe uma grande diversidade de alimentos convencionais e não convencionais, que tornam nossa culinária a soma e o resultado de diversas culturas étnicas. Isso estabeleceu uma rica troca de alimentos, especiarias, condimentos e hábitos alimentares, que muitas vezes se relacionam com a identidade de um lugar ou de uma região. Também revela tradições e potenciais de uma área, considerando que o uso de algumas dessas plantas não convencionais possui fins artesanais (decorativo) e medicinais (chás).

Algumas plantas não convencionais muitas vezes passam despercebidas por nossos olhos, como é o caso da PANC Turnera subulata sm. Nativa da América Tropical, ela se faz presente em praticamente todo o território brasileiro e é popularmente conhecida como Chanana. Talvez você já tenha visto uma de manhã em sua rua. Geralmente elas são encontradas entre passeios nas cidades ou brotam de forma arbustiva, desde que encontre condições favoráveis para crescer. Essa espécie possui algumas características como o tamanho médio de 50 cm de altura, caule pouco ramificado e folhas simples. Suas flores … Leia mais

Vaga-lumes fantásticos e onde habitam

Você se lembra de quando ficávamos encantados ao ver vaga-lumes durante a noite e como nossos olhos curiosos vidravam em suas atraentes luzes, até os perder de vista? Esse show de luzes ao cair da noite fez parte da infância de muitos de nós e serviu de base para diversas histórias e outras produções culturais no Brasil e no mundo. Por que será que isso é menos comum atualmente?

Os vaga-lumes fazem parte do mais diverso grupo de insetos do planeta, os besouros, pertencentes à ordem Coleóptera. São representantes das famílias Lampyridae, Phengodidae e Elateridae, com mais de 2.000 espécies descritas e distribuídas por todo o globo. São predominantes na América do Sul e Ásia, sendo encontrados geralmente em habitats ecologicamente mais diversos, que vão desde manguezais até mesmo campos agrícolas.

A característica mais marcante dos vaga-lumes, sua bioluminescência, se dá pela reação química de uma enzima conhecida como Luciferase, responsável pela emissão da luz visível que prende nossa atenção durante o voo desses animais. Essa luz é importante no ciclo reprodutivo desses insetos, atuando na comunicação intraespecífica, ou seja, comunicação entre os organismos de uma mesma espécie, e na atração de parceiros para reprodução. Além disso, ela tem um papel fundamental na atração de presas para a alimentação, na camuflagem e na proteção dos indivíduos.

Pesquisas recentes mostram que esses organismos estão desaparecendo e apontam que a perda de habitat tem sido a principal ameaça para a conservação dos vaga-lumes. A expansão das áreas urbanas tem um efeito negativo … Leia mais