Cruzamentos cognitivos permitem que a música desperte outros sentidos além da audição
Imagine você, sentado em seu sofá, ouvindo a sua banda ou seu músico preferido e, de repente, cada batida da bateria começa a parecer azul e cada acorde da guitarra começa a ter um gosto de framboesa. Difícil de imaginar, né? Não se você faz parte de cerca de 4% da população mundial que é sinesteta – indivíduo que possui condição neurológica excepcional, em que um estímulo indutor desperta, de forma involuntária e consistente, outra sensação que não foi estimulada.
Fora dessa condição neurológica que acomete uma pequena parcela da população, é normal que haja certos cruzamentos de modos cognitivos/sensoriais. “Os cruzamentos de modos sensoriais são associações que todos fazemos, geralmente de forma automática, entre uma sensação estimulada externamente e outra sensação. Na fruição musical, essas correspondências sensoriais são constantes e automáticas e, quanto mais intensa é a fruição musical, mais fortes são esses cruzamentos de modos sensoriais” explica Guilherme Bragança, doutor em neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerias.
Tais cruzamentos ocorrem de maneira intuitiva, sem que se perceba. Um exemplo é quando se descrevem os sentimentos provocados por uma música, e em metáforas sinestésicas como “uma canção doce” ou “a voz daquele cantor me acalma, é muito suave”. Músicos, por sua vez, podem apontar que “o som de um trompete é brilhante”, ou “som do fagote é opaco”.
Parece haver um grau latente de sinestesia em todos os indivíduos (levando o nome de weak synesthesia), e é ela que auxilia a construção de associações abstratas entre diferentes campos … Leia mais