Cheiro de quê?

Segundo um trabalho publicado em março desse ano na revista Science, pesquisadores estimam que o nariz humano consegue detectar, através de seus 400 receptores olfativos, mais de 1 trilhão de cheiros ou aromas! Para se ter uma idéia de quão grande é esse número, podemos comparar com o número de estímulos que outros sentidos humanos conseguem distinguir: nosso olho usa três receptores de luz que trabalham juntos para ver até 10 milhões de cores, enquanto que o ouvido pode ouvir “apenas” meio milhão de tons.

Nós somos adaptados para sentir cheiros, e reagir de acordo, assim como outros animais. Existem vários cheiros característicos que você conhece, e que podem ter um significado adaptativo.

Por exemplo, sabe quando começa a chover, e logo você sente aquele cheiro bem agradável de terra molhada? Esse cheiro é chamado Petricor, e acontece devido a uma combinação de duas substâncias: a primeira, um óleo que é liberado por algumas plantas no período de seca e que é absorvido pela terra e pedras argilosas. Esse óleo retarda a germinação de sementes e desenvolvimento inicial da planta.

A segunda é a geosmina, uma molécula que é produzida principalmente por algumas bactérias do grupo Actinobacteria. É possível que sua função seja controle de inimigos, então é liberada no solo antes da chuva para se espalhar melhor pelo ambiente. O olfato humano pode detectar concentrações extremamente baixas de geosmina, a partir de 5 partes por trilhão! Uma hipótese para explicar essa sensibilidade, é que nossos ancestrais usaram esse odor para identificar fontes de água.

É interessante que certos peixes que se alimentam de detritos e sedimentos do fundo dos rios, como por exemplo a carpa e a curimba (papa-terra), podem acumular geosmina em seus tecidos, deixando sua carne com um gosto característico de terra ou barro.

Ok, mas você já ouviu alguém dizer que sentiu o cheiro de chuva antes dela cair?

As descargas elétricas, como os raios, comuns antes das chuvas de verão, dividem as moléculas de nitrogênio (N2) e oxigênio (O2) atmosférico em átomos isolados, levando alguns desses átomos a formar o óxido nítrico (NO), que por sua fez reage com outros componentes da atmosfera, produzindo uma molécula com 3 átomos de hidrogênio (O3). E é através dessa molécula que nosso nariz pode perceber que vem chuva por aí, numa concentração de apenas 10 partes por bilhão. O nome dessa molécula? É o famoso ozônio!

E o cheiro da vovó e do vovô?

Uma pesquisa publicada em 2012 na revista PLOS One indica que as pessoas reconhecem o cheio de idosos não porque eles têm um odor forte, mas sim porque é único comparado às pessoas mais jovens. E se os idosos têm um odor característico, ele é mais agradável do que se pode pensar. Isso se deve a um composto orgânico que é encontrado em maior quantidade no suor e na pele de pessoas acima de 40 anos, que possui um leve odor gramíneo e oleoso, que é agradável à maioria das pessoas.

Mas nem tudo cheira bem nessa história…

Quando animais morrem, liberam um cheiro péssimo e nauseabundo, correto?

Esse cheiro se deve principalmente a dois compostos nitrogenados, a cadaverina e putrescina (que nomes, hein?) que são normalmente são produzidas por bactérias durante a putrefação dos organismos.

Mas então, porque alguns cheiros são agradáveis ao nosso nariz, enquanto outros cheiros são totalmente desagradáveis?

Somos adaptados para diferenciar entre o bom e o mau cheiro porque cheiros distintos devem resultar em diferentes comportamentos.Os maus cheiros nos dão um alerta de baixa qualidade do ar, comida estragada, veneno ou doenças, que demandam uma reação imediata para evitar aquilo que pode representar perigo.

Já os cheiro agradáveis, como o de frutas maduras e frescas não necessitam de uma rápida resposta comportamental, já que não representam perigo algum.A não ser que seja uma ação rápida para sair comendo tudo!

Pierre Penteado é biólogo e Mestre em Biologia Animal

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