Entende-se por hotspots (pontos quentes) áreas naturais com prioridade em se conservar a níveis globais em virtude de elevada diversidade biológica, mas que grande parte de sua extensão (mais de 70%) tenha desaparecido ou passa por degradação intensiva. O conceito surgiu diante de um questionamento recorrente entre ecólogos: dentre todas as áreas nativas do mundo, quais possuem proeminente diversidade em risco de desaparecimento e que necessitam de urgente proteção?
A expressão hotspots foi empregada no ramo da biodiversidade em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myers, no entanto, não existiam indicadores quantitativos para tal definição. Contudo, a partir de 1996, uma região deveria abrigar pelo menos 1.500 espécies vasculares endêmicas, ou seja, exclusivas do local, além de ter 75% de sua vegetação inicial derrubada para ser considerada hotspot.
Na atualidade existem 35 hotspots, os quais denotam uma riqueza de 77% de todos os animais terrestres, sendo que mais de 40% são endêmicos e abrigam quase 50% de toda a diversidade da flora existente num espaço que corresponde a 2,3% do território mundial. Logo, se todos estes locais fossem destruídos, a humanidade perderia mais de 75% das espécies de répteis, aves, mamíferos e anfíbios e praticamente 25% da riqueza vegetal global. Não obstante, o extermínio de somente uma dessas áreas seria uma perda inestimável, dado que todos os hotspots possuem biodiversidade única. Isso causaria uma catástrofe em todos os seguimentos da vida, já que se perderia o avanço em todas as ciências, como por exemplo, potencialidades para a cura de doenças como AIDS e câncer, alimentos ainda não descobertos e a ligação com a cultura e história das civilizações. No Brasil existem dois hotspots, a Mata Atlântica e o Cerrado. A Mata Atlântica foi o primeiro a sofrer modificações humanas, já que se concentra no litoral, local de chegada e colonização inicial dos Portugueses. A sua urbanização foi intensa ao ponto de se desenvolver os centros mais populosos da América do Sul (Rio de Janeiro e São Paulo), ocupando boa parte de sua porção. Este processo fez com que uma extensão natural de 1.200.000 km² fosse reduzida para menos de 60.000 km² (5%). Ressalta- -se que a maior parte deste total remanescente (4,1%) se encontra protegido por lei em unidades de conservação. Este hotspot guarda 20.000 espécies vegetais vasculares catalogadas, sendo 8.000 de ocorrência exclusiva. A fauna também é valiosa, 1.020 espécies de aves, 340 anfíbios, 261 mamíferos e 197 espécies de répteis. Por essa razão, dentre todos os hotspots, este é o mais criticamente ameaçado.
Ocupando um território original de 2.000.000 km², detendo 5% das espécies mundiais e 30% da biodiversidade brasileira, o Cerrado é outro importante hotspot nacional. Diferente da Mata Atlântica, está situado em meio ao continente, predominantemente no Brasil Central. No século XVIII se iniciavam os primeiros esforços de melhoria de infraestrutura, industrialização e avanço na pesquisa agropecuária e de solos nesta localidade, culminando num importante polo do agronegócio do país. Contudo, este crescimento gerou a derrubada de mais de 55% de sua cobertura primária. O domínio retém aproximadamente 12.000 espécies de plantas sendo 4.000 endêmicas. Além disso, abriga 837 espécies de aves, 199 mamíferos, 150 anfíbios e 120 espécies de répteis. Estes números fizeram com que o Cerrado brasileiro fosse eleito a savana neotropical mais rica de todas as nações.
Apesar de tamanha importância, menos de 3% da área remanescente se encontra protegido na forma de unidades de conservação de proteção integral. A pressão exercida pelo crescimento populacional descontrolado sem se preocupar com o meio ambiente trouxe enormes prejuízos para biodiversidade do planeta. Através da consciência de proteção destas áreas foram propostos os hotspots ecológicos e alguns poucos instrumentos protetores de áreas estratégicas para conservação. No entanto, muito ainda deve ser feito, bem como criação de leis, parques e principalmente a conscientização, em razão dos recursos naturais serem finitos. O Brasil possui a flora mais rica do planeta. Sua conservação, permitirá mais pesquisas científicas e o uso racional da biodiversidade, trazendo novas perspectivas e levará o país ao avanço rumo à Bioeconomia. Vamos conservar esses bens naturais da biodiversidade!
Márcio Venícius Barbosa Xavier Graduando em Engenharia Florestal Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Instituto de Ciências Agrárias Montes Claros, MG, Brasil.