Florestas Urbanas: sustentabilidade e saúde

As árvores são seres vivos capazes de sobreviver em diferentes ambientes, inclusive nas cidades. O conjunto de árvores presentes em uma cidade compõe a arborização urbana ou, também denominada, floresta urbana. Os centros urbanos promovem diversas modificações no ambiente natural. Pela falta de planejamento, muitas vezes todo o remanescente da vegetação é substituído por construções, impermeabilizando os solos. O aumento em área e a ocupação desordenada das cidades, promove diversos problemas ambientais, reduzindo diretamente a qualidade de vida dos seus moradores. O não entendimento de que as zonas urbanas fazem parte de uma paisagem natural, associada à má gestão dos recursos e baixa consciência ambiental promove, entre outras coisas, as ilhas de calor nas cidades, que geram grande desconforto térmico, e as grandes e súbitas enchentes em resposta às chuvas, que causam irreparáveis prejuízos financeiros e ambientais.

Nesse contexto, a arborização desempenha um importante papel nas cidades. As árvores são aliadas eficientes em reduzir a temperatura e proporcionar conforto térmico à população. Estudos mostram que algumas espécies, como a mangueira (Mangifera indica L.) e a tipuana (Tipuana tipu (Benth.) Kuntze), ambas introduzidas no Brasil, reduzem a temperatura sob a sua copa cerca de 10°C. Mas a campeã é a sibipiruna (Poincianella pluviosa (DC.) L.P.Queiroz), comum em nossas ruas e nativa do Brasil, é capaz de reduzir de 12 até 16ºC a temperatura sob a sua copa. Identificar outras espécies que apresentam maior potencial de amenizar a temperatura é de suma importância para tornar as cidades mais agradáveis. Além disso, as áreas verdes nas cidades, como parques e praças, permitem grande infiltração de água, recarregando os lençóis freáticos e reduzindo os alagamentos.

Diversos estudos comprovam que a ampla arborização e consequente melhoria ambiental, diminuem o estresse, a depressão, reduzem a agressividade e melhoram convívio da comunidade. A arborização de cidades deve ser prioridade no planejamento urbano básico, pois o sistema verde da cidade promove grande economia nos sistemas de saúde e na reparação de danos ambientais.

Mas, para que as árvores funcionem como uma floresta urbana, é necessário o conhecimento da biologia de cada espécie, isto é, seu ciclo de vida, padrão de crescimento, época e tamanho das flores e dos frutos e local de origem. Em relação à origem, devem ser priorizadas as espécies que ocorrem naturalmente nas matas da região, pois as mesmas já são adaptadas às condições ambientais locais, demandando menos tratos, e interagem com a fauna, em especial polinizadores, destacando-se abelhas, borboletas e beija-flores, e dispersores, em especial aves e morcegos. As aves têm estreita relação com a arborização, pois usam as mesmas como abrigo e fonte de alimento direto, como néctar e frutos.

As linhas contínuas de árvores também atuam como corredor biológico, permitindo o transito de animais entre áreas verdes e parques. A presença de animais no ambiente urbano traz novas perspectivas de lazer e valorização da biodiversidade para os moradores das cidades, que muitas vezes não tem acesso a áreas naturais para contato com a fauna. O planejamento correto da arborização permite a integração das cidades com o ambiente ao seu redor, proporcionando um manejo em nível de paisagem, um ambiente agradável, saudável e biodiverso.

Gislene Rodrigues dos Santos é Engenheira Florestal pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Rúbia Santos Fonseca é Bióloga pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, Mestre e Doutora em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa – UFV.

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