Tosse, chiado e falta de ar?

Tatiana Frehner Kavalco

A asma é uma doença pulmonar muito comum, sendo de maior impacto em populações afrodescendentes e latinas que vivem nos grandes centros urbanos. Sua prevalência vem aumentando em algumas regiões do mundo, devido principalmente às mudanças climáticas e ambientais pelas quais o planeta passa.

A asma ocorre em pessoas de todas as idades, mas é predominante nos primeiros anos de vida (aproximadamente metade dos casos surge antes dos 10 anos). Na infância ocorre mais nos meninos e em torno dos 30 anos a proporção é equilibrada entre homens e mulheres. É uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias, ou seja, é causada por um estado de inflamação persistente mesmo quando na fase sem sintomas. A asma é marcada pelo engrossamento da parede das vias respiratórias, causado pela contração do músculo dos brônquios (broncoconstrição). Juntamente com a diminuição do diâmetro das vias respiratórias, ocorre uma grande resposta imunológica, gerando edema local (inchaço) e produção de muco espesso.

Os estímulos mais comuns que desencadeiam uma crise de asma são agentes alérgicos (às vezes relacionados com estações do ano – pois o regime hídrico e temperatura mudam a umidade e constituição do ar), a poluição do ar e do meio ambiente, fatores relacionados ao trabalho, infecções respiratórias, estresse emocional e exercício (geralmente as crises começam depois do esforço e não durante o exercício).

Exemplos de agentes alérgicos são: pólen; penas, pelos, poeiras, soros e secreções de animais e insetos; ácaros do mofo; poeiras de vegetais (como carvalho, cereais, farinha, mamona, grãos de café verdes); compostos farmacêuticos (como antibióticos); enzimas biológicas (como detergentes de lavanderia e enzimas pancreáticas); sais metálicos; compostos químicos e plásticos industriais; vírus respiratórios; fumaça; cheiros fortes; alterações climáticas e ingestão de alguns alimentos.

Clinicamente a asma caracteriza-se por períodos assintomáticos e de crises de falta de ar ou desconforto respiratório (dispnéia), tosse geralmente sem secreção e chiado no peito (sibilância). Tipicamente, as crises são de curta duração (minutos a poucas horas), mas pode haver casos de crises mais freqüentes e duradouras, com algum grau de fechamento (obstrução) das vias respiratórias. Ainda há casos graves com obstrução acentuada por dias ou semanas, que é o “estado de mal asmático”. Pode levar à insuficiência respiratória e raramente leva à morte.

No início da crise a pessoa refere um aperto no peito, seguido da tosse seca; a respiração torna-se rude e bem fácil de ouvir; o chiado é marcante tanto para inspirar (puxar o ar) quanto para expirar (soltar o ar); a expiração é mais prolongada; a respiração e o batimento do coração aceleram; a pressão arterial pode aumentar um pouco e o tamanho do tórax aumenta. Se a crise for grave ou prolongada o som da respiração pode desaparecer e o chiado ficar mais agudo. Os músculos parecem ficar mais visíveis e a função pulmonar fica muito mais comprometida.

O término da crise asmática geralmente é marcado por tosse produtiva com eliminação do muco espesso que às vezes assume forma tubular. Nos casos extremos o chiado pode diminuir ou desaparecer e a tosse não conseguir eliminar o muco.

 

 

Tosse, chiado e falta de ar

 

 

O resultado final dessas alterações na função pulmonar é o aumento da resistência para respirar, diminuição das quantidades de ar respirado (principalmente o expirado/eliminado de maneira forçada), grande distensão dos pulmões e do tórax, aumento do trabalho respiratório ou da força que se faz para respirar, alteração no funcionamento dos músculos usados para respirar, e a alteração na quantidade/concentração dos gases no sangue (desfavorecendo a nutrição do corpo). Em pessoas com asma grave geralmente há indícios de alterações cardíacas e vasculares associadas.

Os sintomas da asma podem ser aliviados espontaneamente ou com tratamento, dependendo do grau de severidade. O tratamento é baseado no uso de medicamentos que revertem o processo inflamatório e que inibem a broncoconstrição, e na eliminação do(s) agente(s)/estímulo(s) do ambiente (medida mais eficaz).

Como tantas outras enfermidades, a asma depende mais do controle que podemos fazer do ambiente em que vivemos do que do uso de fármacos. A manutenção da qualidade do ar é fundamental para pessoas que apresentam hipersensibilidade possam manter a sua qualidade de vida.

 

Tatiana Frehner Kavalco é fisioterapeuta (UNIOESTE) e médica (UFPel) e faz residência médica (UFSM).

 


 

Como citar esse documento:

Kavalco, T.F. (2010). Tosse, chiado e falta de ar. Folha biológica 1 (4): 3

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