Desde o surgimento dos primeiros seres vivos na Terra até os dias de hoje, muitas mudanças ocorreram em nosso planeta, tais como as variações de temperatura, oscilações na quantidade de oxigênio na atmosfera e intensas atividades vulcânicas. Algumas dessas modificações foram tão bruscas que conseguiram modificas ou excluir completamente os organismos que viviam naquela época.
Alguns dos organismos que possuíam essa susceptibilidade de sobrevivência eram as trilobites, pertencentes ao filo Arthropoda, ao qual também fazem parte os insetos modernos. Esses animais viveram nos antigos oceanos durante cerca de 300 milhões de anos, entre os períodos Cambriano (há 550 milhões de anos) até o Permiano (há 250 milhões de anos). O surgimento das trilobitas está associado à explosão cambriana, onde a maioria dos filos e classes dos animais marinhos com esqueleto, viventes daquela época, apareceram rapidamente no registro fóssil.
As trilobitas possuíam um corpo oval, achatado e segmentado, o qual era dividido em três partes: cabeça, tórax e cauda, e é devido à essa divisão em três lobos a escolha do nome “Trilobites”. Além disso, possuíam um exoesqueleto composto por quitina e carbonato de cálcio, o que favoreceu os processos de preservação em fossilização dos seus exemplares (tais compostos conferem alta rigidez). Ao longo de seu crescimento, as trilobites sofriam várias mudas, descartando seu exoesqueleto sucessivamente, tal como ocorre hoje com os artrópodes. Esse pode ser um dos motivos de se encontrar tanta abundância de indivíduos desse grupo no registro fóssil.
Acredita-se que, em sua maioria, se tratava de animais marinhos bentônicos, ou seja, aqueles que vivem no fundo dos oceanos. Além disso, eram também cosmopolitas (encontrados no mundo todo). No Brasil, por exemplo, já foram encontrados registros fósseis de representantes desse grupo nas bacias do Paraná e Amazonas.
Do ponto de vista evolutivo, as trilobites se destacam pela sua extraordinária diversidade morfológica. Analisando os registros fósseis, é possível a identificação e classificação de mais de 1500 gêneros distintos e de 20000 espécies, as quais se diferem no formato, hábito de vida e tamanho (desde 1mm até mais de 70 cm). Por esta razão, é considerado como um dos grupos de animais extintos mais diversos que já habitaram a Terra. Essa sua diversidade de formas sugere que esses animais ocupavam um extenso nicho ecológico, assim possuíam diversos modos de vida, o que também incluía uma variedade de ocupações nos níveis tróficos, já que sua alimentação poderia ser filtradora, detritívora ou carnívora (predadora ou carniceira).
Outro fator marcante desse grupo, eram os olhos compostos de várias lentes em cada, o que é, de acordo com alguns evolucionistas, algo bastante complexo e sofisticado para aquele período. Esse fato acabou surpreendendo diversos pesquisadores, os quais acreditavam que os animais evoluíam suas características de algo mais simples para o mais complexo, ou “melhorado”. A questão é que esses olhos eram muito sensíveis aos movimentos e à variação de luz, eram constituídos de um mineral chamado calcita, o que conferia às lentes rigidez e não permitiam o ajuste do foco, assim como acontece nos olhos humanos. Porém, ela também podia eliminar as distorções de imagem, auxiliando assim as trilobites na busca por suas presas e fuga de predadores. Isso reforça que Evolução não significa melhoria, mas apenas mudança.
As trilobites eram animais fantásticos, abundantes e tão complexos quanto qualquer organismo encontrado atualmente. Conseguiram reinar nos oceanos antigos por milhões de anos e o formato de seus olhos pode ser uma das chaves para entender seu sucesso adaptativo e ampla diversidade de espécies. Além disso, o compreendimento das características e morfologias desse grupo, vem em auxílio para a ciência na construção da história evolutiva da vida na Terra, justificando a tamanha importância do grupo.
Texto: Beatriz Cranchi Pazetto, Graduanda em Ciências Biológicas