A ciência na Roma antiga

 

Flávia Fróes de Motta Budant

Quando o assunto é ciência na Antiguidade, é normal que sejamos expostos atextos e dados  enciclopédicos, mais ilustrativosdo que explicativos. Pouco comum é que nos falem de que forma os antigos encaravam o fazer científico, que era o estudo dos mecanismos da Natureza, e de que maneira isso estava inserido no cotidiano e como se relacionava com a cultura local. É claro, podemos falar só  sobre as descobertas de cada povo – quem mediu a Terra primeiro, qual foi o primeiro homem a falar  em átomo –, mas entender como chegaram a elas nos ajuda a compreender como era de verdade a  ciência naquele tempo. Temos a mania de achar que a nossa época é a mais avançada – temos computadores hipervelozes, enviamos sondas espaciais para explorar a vizinhança galáctica e, acima de  tudo, não atribuímos acontecimentos da natureza a entidades sobrenaturais enfurecidas. Somos  evoluídos. No entanto, devemos admitir que os antigos também tinham um raciocínio tão complexo  quanto o nosso, por mais que não dispusessem da mesma tecnologia.

Para fugir do óbvio, vamos falar  de um povo pouco lembrado quando o assunto é ciência: os romanos. É preciso saber que os estudos,  em Roma, não eram conduzidos por qualquer um, e nem mesmo divulgados a todos. O desenvolvimento  cultural se restringia a uma elite, que mandava os filhos estudar com professores  gregos ou na própria Grécia. Como dizia o poeta Horácio, apesar de os romanos terem conquistado os  gregos, eram os helênicos que … Leia mais

Alelopatia

Luciano Bueno dos Reis

Quando olhamos para um campo ou mata, diferentemente da aparente calma e convívio harmônico entre as plantas e outros componentes dos ecossistemas, grandes batalhas podem estar sendo travadas entre as plantas. Na competição por luz, água e nutrientes, as plantas podem lançar mão de diversas estratégias e armas para sobrepujar suas adversárias.
Dentre essas estratégias, as plantas podem usar um vasto arsenal bioquímico, com substâncias secretadas pelas raízes, volatilizadas pelas folhas ou mesmo resultantes da decomposição de partes mortas do vegetal. Tais compostos podem interferir no crescimento de outras plantas ou mesmo de microrganismos do solo. Essa interferência no crescimento de uma planta sobre a outra, por meio de uma substância química liberada, é conhecida como alelopatia.
Diversas classes de compostos podem agir como substâncias alelopáticas. Contudo,
o modo de ação de cada substância muitas vezes não é conhecido. Outras vezes, nem mesmo a substância responsável pelo efeito alelopático é identificada. Dessa forma, este é um campo que ainda demanda muita pesquisa científica básica.
Essas pesquisas na área de alelopatia podem ser bastante simples, já que os testes iniciais são realizados comumente verificando o efeito de extratos vegetais sobre a germinação de sementes como as de alface e tomate. E, identificada a ação alelopática, pode-se investir na identificação do composto responsável por esse efeito.
Tais estudos e a identificação de compostos que causam efeitos alelopáticos podem ser bastante úteis, não apenas para se conhecer melhor a ecologia vegetal, mas também porque essas substâncias têm potencialidade de … Leia mais

Afinal, somos mamíferos.

Karine Frehner Kavalco

Se fizermos uma busca no Google® pela palavra “mamíferos”, logo nas primeiras entradas vem a definição da Wikipédia: “Os mamíferos constituem uma classe de animais vertebrados, que se caracterizam pela presença de glândulas mamárias que, nas fêmeas, produzem leite para alimentação dos filhotes…”. É claro que esta não é a única característica compartilhada pelos mamíferos, mas até o nome “mamífero” indica da importância da lactação na alimentação dos filhotes neste grupo de animais.

Há mamíferos que tem formas incríveis de amamentar seus filhotes, muito diferentes do que estamos acostumados a presenciar em animais domésticos, de fazenda ou na nossa espécie. Há exemplos extremos, como o ornitorrinco. Esse mamífero que põe ovos não possui mamas, mas o leite escorre por poros, sendo lambido pelos filhotes. Nas baleias jubarte, por exemplo, a fêmea vira seu corpo e fica com as mamas próximas da superfície da água, permitindo que o filhote possa respirar com mais facilidade durante as mamadas.

Independente da adaptação de cada mamífero para a amamentação, o leite produzido sempre possui todos os nutrientes que o filhote precisa, embora seja muito variável entre diferentes espécies e mesmo entre raças de uma mesma espécie. Via de regra, todo leite tem água, minerais, carboidratos, lipídios e proteínas, mas as proporções entre estes compostos variam bastante. O leite pode ser extremamente calórico e rico em gordura, como no caso de mamíferos aquáticos e de regiões frias, ou ser um dos menos gordurosos, Leia mais

Peixes e Educação Ambiental

A educação ambiental é um tema desafiante. Inúmeras são as questões ambientais que afetam nosso dia a dia. Poluição do ar e das águas, lixo e reciclagem, proteção da biodiversidade, desenvolvimento sustentável, são apenas alguns dos assuntos frequentemente debatidos e com ações efetivas.
Em relação a proteção da biodiversidade, os aspectos a serem abordados são inúmeros. Muitos deles dependem diretamente do conhecimento sobre a biodiversidade. Por exemplo, uma Unidade de Conservação pode ser proposta com a finalidade de proteger uma espécie ameaçada. No entanto, como conscientizar a população local de que
isto é necessário? Por outro lado, quanto da biodiversidade estamos perdendo por deixarmos
de estudar determinadas regiões que acabam por tornar-se fronteiras agrícolas, por exemplo? Planos de manejo e conservação de espécies só conseguem ser bem sucedidos quando envolvem completamente a comunidade da região, como por exemplo, o projeto TAMAR que envolve as comunidades de pescadores e suas famílias com o objetivo de proteger as
tartarugas marinhas.
O Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva (LaGEEvo) do Campus de Rio Paranaíba
da Universidade Federal de Viçosa iniciou nos últimos meses a etapa de Educação Ambiental de seu projeto “Biodiversidade da Ictiofauna do rio Paranaíba – Estratégias para a Educação Ambiental”. Financiado pela Fundação Grupo Boticário, o projeto consiste de duas etapas. A primeira visa realizar o levantamento da Ictiofauna do rio Paranaíba em seu trecho inicial,
desde as nascentes no município de Rio Paranaíba até o município de Patos de Minas. Na segunda etapa, a equipe do laboratório promove cursos … Leia mais

Desconhecidos e ameaçados

Ana Lúcia Tourinho

 

O que é um opilião?  

Essa questão é bem frequente, mesmo entre alunos de classes de pós-graduação das áreas biológicas e relacionadas. Esses aracnídeos muito abundantes e distribuídos no mundo todo são pouco conhecidos. Possuem hábitos crípticos e noturnos, atingem seu pico de diversidade em regiões tropicais da América do Sul, principalmente o Brasil. Entretanto, diversas espécies brasileiras desses ocultos animais correm o risco de desaparecer do planeta antes mesmo de serem conhecidas.

Os opiliões são aracnídeos.  

Sim, eles parecem aranhas, mas não são. Assim como todas as aranhas, possuem o corpo dividido em dois segmentos, o anterior se chama prosomo ou cefalotórax, e o segundo se chama opistosomo ou abdômen. Também compartilham quatro pares de pernas, um par de pedipalpos (estruturas que parecem pernas, mas são usadas para manusear objetos), e um par de quelíceras (parte do aparelho bucal dos aracnídeos). Porém eles não tecem teias porque não têm fiandeiras (estruturas responsáveis pela emissão dos fios de seda). Além disso, visualmente as duas regiões do corpo dos opiliões não estão separadas por uma cintura como ocorre com o corpo das aranhas.  Ao longo de sua evolução, cinco dos segmentos da região posterior do corpo do animal, o opistosomo, se fundiram à região anterior, o prosomo, formando uma carapaça externa inteiriça chamada de escudo dorsal. Por este motivo a divisão de seu corpo em duas regiões, só pode ser visualmente notada internamente. Diferentemente das aranhas, que possuem muitos olhos (de quatro a oito olhos), eles têm … Leia mais

Conservação ou Preservação?

Willian Lopes Silva

Wagner M. S. Sampaio

 

Os termos Preservação e Conservação são utilizados para estabelecer a relação Homem e Natureza e proteger o meio ambiente, porém são ideologicamente distintos. Esses termos foram introduzidos por dois precursores do ambientalismo Norte Americano com o intuito de proteger o meio ambiente, o naturalista John Muir e o engenheiro florestal e político Gifford Pinchot. O primeiro nos dá o sentido de intocabilidade, onde o ambiente precisa ser preservado no seu estado natural sem nenhuma intervenção humana por ser importante por si mesmo. Já o segundo nos trouxe a ideia da conservação em longo prazo, onde os recursos naturais devem ser usados com parcimônia para não serem esgotados pelas necessidades humanas. As ideias de Muir e Pinchot são muito importantes para proteção da natureza, mas nos trazem um resultado muito diferente quando colocadas em prática e se usadas erroneamente podem trazer prejuízos socioambientais incalculáveis. O Preservacionismo de Muir foi um movimento romântico e espiritual, acreditava que Deus criou o universo para o gozo de todos os seres vivos, e não apenas para os seres humanos. Já o conservacionismo de Pinchot foi um movimento progressista e científico. Fato tão verdadeiro que, por exemplo, a legislação Brasileira e muitos pesquisadores adotam uma integração entre esses termos.  Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis, para garantir a proteção da diversidade biológica de um país é preciso estabelecer um sistema de áreas protegidas. No Brasil, as áreas protegidas incluem as áreas de proteção permanente, … Leia mais

Carbono Zero: um passo a mais para a sustentabilidade .

Daniel Brianezi

Laércio Antônio Gonçalves Jacovine

Ricardo Martiniano dos Santos

O Brasil é um dos principais emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente em função do desmatamento e da mudança no uso do solo. Por outro lado, também é um dos países com maior potencial para reduzir as emissões projetadas até 2030, pois o aumento das suas emissões ocorre em taxas menores que a de outros países em desenvolvimento, como China e Índia, e desenvolvidos; estes sujeitos a quotas de redução obrigatórias.

O Brasil, mesmo estando entre os maiores emissores de GEE, é considerado em desenvolvimento no Protocolo de Quioto (não -Anexo I), por isso não possuía metas de redução até 2012. No entanto, na 15a Conferência das Partes (COP-15), ocorrida no final de 2009 em Copenhague, os países signatários, como o Brasil, se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE de forma voluntária. Para isso, criou-se a Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), que no artigo 12 relata o compromisso nacional de ações de mitigação das emissões de GEE, visando à diminuição de 36,1% a 38,9% das emissões brasileiras projetadas até 2020. Assim, do total das metas de redução de GEE voluntárias que o Brasil propôs em seus NAMAs (Nationally Appropriate Mitigation Action), aproximadamente 90% são originários da agropecuária e da mudança no uso da terra, que representam 75% das emissões de GEE nacionais.

Dentre as medidas estabelecidas pela PNMC para reduzir as emissões de GEE brasileiras está o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que procura Leia mais