Você se lembra de quando ficávamos encantados ao ver vaga-lumes durante a noite e como nossos olhos curiosos vidravam em suas atraentes luzes, até os perder de vista? Esse show de luzes ao cair da noite fez parte da infância de muitos de nós e serviu de base para diversas histórias e outras produções culturais no Brasil e no mundo. Por que será que isso é menos comum atualmente?
Os vaga-lumes fazem parte do mais diverso grupo de insetos do planeta, os besouros, pertencentes à ordem Coleóptera. São representantes das famílias Lampyridae, Phengodidae e Elateridae, com mais de 2.000 espécies descritas e distribuídas por todo o globo. São predominantes na América do Sul e Ásia, sendo encontrados geralmente em habitats ecologicamente mais diversos, que vão desde manguezais até mesmo campos agrícolas.
A característica mais marcante dos vaga-lumes, sua bioluminescência, se dá pela reação química de uma enzima conhecida como Luciferase, responsável pela emissão da luz visível que prende nossa atenção durante o voo desses animais. Essa luz é importante no ciclo reprodutivo desses insetos, atuando na comunicação intraespecífica, ou seja, comunicação entre os organismos de uma mesma espécie, e na atração de parceiros para reprodução. Além disso, ela tem um papel fundamental na atração de presas para a alimentação, na camuflagem e na proteção dos indivíduos.
Pesquisas recentes mostram que esses organismos estão desaparecendo e apontam que a perda de habitat tem sido a principal ameaça para a conservação dos vaga-lumes. A expansão das áreas urbanas tem um efeito negativo nesses insetos, por causa da iluminação noturna artificial à qual eles são sensíveis. Como ela afeta diretamente a produção de luz desses organismos, a iluminação noturna artificial também influência no seu comportamento e impacta negativamente seu ciclo reprodutivo.
Além disso, o avanço do agronegócio e o uso intensivo de agrotóxicos são outros fatores que colocam em risco as áreas naturais e consequentemente a sobrevivência dos vaga-lumes. Os pesticidas, por exemplo, utilizados no controle químico contra pragas em diferentes plantações, resultam no acúmulo de resíduos tóxicos em diferentes ambientes, entrando em contato direto com esses organismos. As altas concentrações na água prejudicam o estágio larval de algumas espécies, já no solo, afetam os ovos ali depositados e o desenvolvimento das pupas. A exposição dos adultos ocorre através de seu contato com a superfície contaminada da folhagem, ao pousarem para se reproduzir ou repousar.
Diversas espécies de fauna e flora encontram-se na mesma situação dos vaga-lumes, com populações em declínio e em risco de extinção devido à falta de atenção e cuidados com o meio ambiente. Um grupo tão diverso e encantador como esse estão diminuindo, devido às mudanças ambientais causadas pelo avanço antrópico.
O Brasil é o país que abriga a maior biodiversidade do mundo e situações como essas trazem à tona a necessidade de se abordar temas de conservação ambiental de forma cotidiana. Esses debates devem ser levados às escolas e à comunidade, trazendo a importância de se preservar o meio ambiente como uma parte fundamental da manutenção da vida humana.
Lorenne Kellen Leite de Abreu Almeida é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.
Maria Júlia Maciel Corrêa é bióloga pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e mestranda em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Campus Viçosa.