Ilustração da morfologia ultraestrutural dos coronavírus (Foto: CDC, Centers of Diseases Controls and Prevention)
Desde o início de 2020 uma palavra até então inédita no vocabulário de muitas pessoas passou a ser a mais frequente em nosso dia a dia: Coronavírus. Tudo começou em 08 de dezembro de 2019, quando um novo coronavírus foi detectado em pacientes com pneumonia na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, China. Naquele momento, a humanidade não só estava diante de um novo vírus, como também de uma nova doença respiratória: a COVID-19, cujo significado em português é Doença do Coronavírus de 2019.
O novo vírus foi nomeado como SARS-CoV-2, cujo significado em português seria Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Como o próprio nome já diz esse não é o primeiro coronavírus que causa doenças em seres humanos. Na verdade, existem outros seis coronavírus em humanos. Desses seis, quatro causam resfriados leves e apenas outros dois coronavírus causam doenças graves. O contato prévio com esses dois coronavírus são uma das justificativas de porque alguns países, como a China, Coréia do Sul e Taiwan, souberam controlar a disseminação do vírus em seus territórios de forma bem melhor que o Brasil.
Esses dois coronavírus são chamados SARS-CoV e MERS-Cov, e são os agentes etiológicos das enfermidades chamadas SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). A semelhança desses coronavírus com o SARS-CoV-2 não para apenas no nome, suas enfermidades também são semelhantes à COVID-19. Tendo isso em mente, é natural pensar que eles são parentes próximos do SARS-CoV-2, não? Mas na realidade, não é bem assim…
Análises moleculares têm demonstrado que a similaridade genética entre esses coronavírus com o SARS-CoV-2 é bem baixa (79,6% para o SARS-CoV e 50% para o MERS-CoV). O coronavírus mais semelhante geneticamente ao SARS-CoV-2 foi encontrado em morcegos: o BATCoV RaTG13 (96,2% de similaridade). Desde 2013, já se sabe da existência de coronavírus em morcegos que são capazes de usar o ACE2, um receptor celular que o SARS-CoV usava para invadir células humanas. Esse conjunto de informações tem sido usado desde o início da pandemia como evidência de uma possível origem do SARS-CoV-2 a partir de morcegos.
Porém, ainda não é possível afirmar que o SARS-CoV-2 “saltou” dos morcegos para humanos. Apesar da alta similaridade entre o SARS-CoV-2 e o BATCoV RaTG13, essa semelhança genética ainda é menor do que a encontrada em humanos e chimpanzés, por exemplo. Além disso, outros coronavírus muito semelhantes ao SARS-CoV-2 foram encontrados em pangolins. Dessa forma, é bem provável a existência de um animal intermediário entre o morcego e os humanos na transmissão do SARS-CoV-2.
Essas questões só podem ser solucionadas com mais pesquisas sobre o tema. A pandemia em que vivemos ressalta a importância da ciência e da pesquisa básica, afinal, se um pesquisador dissesse que trabalha com vírus de morcegos muitos questionariam a importância de seu trabalho, mas a pesquisa básica pode ajudar no nosso entendimento e nos antecipar no enfrentamento de grandes problemas que o futuro nos reserva.
Igor Henrique Rodrigues Oliveira é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba e mestrando em Manejo e Conservação de Ecossistemas Naturais e Agrários pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal.