Spinosaurus é um dos gêneros de dinossauros mais populares atualmente. Ele se tornou bem conhecido pelo público em 2001, após aparecer no filme Jurassic Park 3 derrotando o dinossauro mais popular de todos: o T. rex. A história desse dinossauro começa no início do século XX no Egito, com a nomeação de Spinosaurus aegyptiacus por Ernst Stromer em 1915. O que mais chamou a atenção de Stromer foram os estranhos espinhos nas costas do animal que em vida sustentavam uma vela dorsal bastante característica.
Infelizmente o exemplar estudado por Stromer foi armazenado em um museu alemão e destruído em um bombardeio na segunda guerra mundial. Somente mais tarde, com a descoberta de outras espécies próximas e mais restos fragmentários do Spinosaurus, que mais informações sobre sua biologia foram conhecidas. Naquele momento, sabia-se que o Spinosaurus tinha um focinho comprido semelhante a um crocodilo, dentes cônicos, narina recuada para trás no crânio e que tinha nos peixes sua principal fonte de alimento.
No entanto, as novidades acerca da biologia do Spinosaurus estavam, e ainda estão, longe de acabar. Em 2014 o paleontólogo Nizar Ibrahim e colaboradores descreveram um novo espécime descoberto nas Camadas Kem Kem do Marrocos, o novo fóssil exibiu pernas e pélvis curtas em comparação com o resto do esqueleto, sugerindo que o animal deveria ser quadrúpede! Além disso, a equipe também apontou uma alta densidade em alguns ossos do animal, o que o permitia submergir com mais facilidade na água, além propor um formato de “M” para sua vela dorsal e estimar seu tamanho em estrondosos 15 metros.
Seis anos mais tarde, o mesmo Nizar Ibrahim e seus colaboradores colocaram novamente os holofotes sobre o Spinosaurus. Dessa vez com a descoberta de uma cauda no mesmo local, o que indica serem mais restos do mesmo indivíduo anunciado em 2014. A nova cauda exibia prolongamentos neurais que em vida sustentariam uma espécie de barbatana, e elementos em sua estrutura indicavam que ela era muito mais eficiente em impulsionar o animal pela água do que as caudas de outros dinossauros. Além disso, é possível que ela servisse como um contrapeso para o resto do corpo, permitindo ao animal ser bípede mesmo com as pernas curtas.
Pode parecer que essas novas descobertas solucionaram os mistérios do Spinosaurus, mas na verdade levantaram muito mais perguntas. Não existem evidências suficientes para sustentar a vela em forma de “M” proposta por Ibrahim e colaboradores, assim o real formato da vela segue incerto. Outra dúvida é sua postura, alguns paleontólogos têm sugerido uma postura mais ereta, com as costas inclinadas na diagonal e a cauda próxima ao chão, outros permanecem fiéis à postura tradicional com cauda e costas alinhadas horizontalmente. Por fim, fica a dúvida se as adaptações para hábitos semi-aquáticos do Spinosaurus significam que ele era um caçador ativo, perseguindo suas presas enquanto nadava, ou um predador semelhante a garças, que vagava por águas rasas e capturava os peixes com rápidos e ferozes movimentos. Ficamos ansiosos à espera de novos fósseis que nos ajudem a responder essas perguntas.
Reconstrução de Spinosaurus nadando no pôr do sol do Cretáceo (Ilustração: Igor Henrique Rodrigues Oliveira)
Igor Henrique Rodrigues Oliveira é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba e mestrando em Manejo e Conservação de Ecossistemas Naturais e Agrários pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal.