Semente: não reluz, mas vale mais que ouro, luxo e fama!

Há 350 milhões de anos atrás, as plantas com sementes começaram a aparecer e até hoje este evento evolutivo é considerado um dos mais importantes no reino vegetal. Sementes são órgãos reprodutivos das plantas e compreendem a principal estratégia para a dispersão e sobre- vivência dos vegetais nas diversas regiões do mundo. De dentro para fora, essa estrutura é composta por um embrião, com ou sem reservas nutricionais e uma camada protetora chamada de tegumento, uma verdadeira casca que impede a perda de água, dificulta a ação de predadores e permite a sobrevivência das sementes em ambientes inóspitos como desertos, áreas alagadas, águas salinas, ambientes ácidos ou muito frios. Ao encontrar condições adequadas de iluminação, água e temperatura elas germinam e dão origem a um novo vegetal com caracteres semelhantes aos da planta mãe.

Existem dois grupos de plantas com sementes, onde o primeiro a surgir foram as gimnospermas. Este grupo é composto pelos vegetais que possuem sementes nuas, ou seja, não têm um fruto para envolvê-las. Neste grupo está a cica, espécie muito usada no paisagismo; os pinheiros e as sequoias, grandes árvores que se distribuem em florestas de clima temperado. No Brasil, temos um importante representante na região Sul, a Araucaria angustifólia (Bertol.) Kuntze, conhecida popularmente como araucária ou pinheiro-do paraná. Outro agrupamento são as angiospermas, provavelmente o mais conhecido, pois são os vegetais que exibem flores e suas sementes são guardadas em frutos, também é o maior grupo. Alguns de seus representantes mais populares mundialmente são os tomates (Solanum spp.), maçãs (Malus spp.) e laranjas (Citrus spp.); no Brasil, a depender da região, entre os destaques estão o açaí (Euterpe precatoria), o pequi (Caryocar brasiliense), a jabuticaba (Plinia spp.), a castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), o cacau (Theobroma cacao).

A base da alimentação humana e animal é proveniente de plantas, sendo as sementes importantes fontes nutricionais. Na alimentação dos homens, por exemplo, algumas sementes mais consumidas diretamente são os feijões, milho, trigo, arroz entre outros. Ainda, as sementes mantêm a perpetuação das plantas nos ambientes naturais como a Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga e possuem um papel fundamental na produção de ali- mento em larga escala.

Devido à grande importância que as sementes possuem para a humanidade e a recorrente preocupação com sua extinção, em 2008 criou-se um Banco Mundial de Sementes (Svalbard Global Seed Vault), apelidado de “Arca de Noé”. Ele foi construído em uma montanha rochosa na ilha de Svalbard, no arquipélago ártico, entre a Noruega e o Polo Norte. É um verdadeiro tesouro composto pelas principais espécies alimentícias do planeta. Atualmente, são mais de 1.000.000 de sementes oriundas dos quatro cantos da terra! A principal meta desse projeto é preservar 90% das sementes do mundo. O Brasil tem contribuído bastante com a manutenção deste banco, em seu último envio (fevereiro de 2020), foram 3.438 materiais genéticos, especificamente 3.037 acessos de arroz, 119 de cebola, 132 de pimentas, 87 de milho e 68 acessos mesclando abóboras, maxixe, melancia, melão, morangas e pepino.

Diante de toda a importância das sementes, é possível imaginar viver em um mundo em que elas deixassem de existir? É certo que a natureza vive em uma harmonia criada entre diversos grupos de plantas e animais, são diversas interações que mantém a dinâmica entre o homem e o meio ambiente. A extinção das sementes implicaria a extinção de mais de 240.000 plantas, sendo quase 19.000 com ocorrência exclusiva no território brasileiro, assim, aconteceriam diversos distúrbios ambientais, como efeito dominó, afetando todos os seres vivos. Algumas das consequências desse acontecimento ainda podem ser inimagináveis e elas poderiam impossibilitar ou tornar cada vez mais difícil a sobrevivência do homem neste planeta.

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Sâmara Magdalene Vieira Nunes é graduanda em Engenharia Florestal pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG. Realiza pesquisas sobre mensuração florestal.

Márcio Venícius Barbosa Xavier é graduando em Engenharia Florestal pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG. Desenvolve pesquisas com florística e fitossociologia.

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