Karine Frehner Kavalco
A “geração saúde” de alguns anos atrás era caracterizada por um corpo malhado e pele dourada. Depois de anos de cultura ao sol e às peles bronzeadas, foi apenas na década de 80 que as pesquisas mostraram o perigo da exposição irrestrita ao sol.
O bronzeamento ou escurecimento da pele é causado pelo aumento de melanina (um pigmento castanho) dentro das células da pele, no período logo após a exposição à radiação solar. A melanina é produzida e liberada por células chamadas melanócitos, e atua na proteção da pele. Ela impede o corpo de absorver radiação solar em excesso, o que pode ser prejudicial. Dependendo de sua etnia e constituição genética, algumas pessoas podem adquirir um bronzeado muito maior e mais rapidamente que outras. Embora atue na proteção da pele, a melanina não tem o poder de bloquear a incidência de radiação solar, e mesmo pessoas mais morenas podem ter queimaduras de pele devidas à exposição em excesso.
A radiação emitida pelo sol pode ser dividida em função de suas frequências de onda. A radiação ultravioleta (UV) é a radiação eletromagnética ou os raios ultravioleta com um comprimento de onda menor que a da luz visível e maior que a dos raios X, de 380 a 1 nm (nanômetros). O nome significa “mais alta que violeta”, pois o violeta é a cor com comprimento de onda mais curto e com maior frequência dentre todas as cores da luz visível. Mesmo em dias nublados de verão, a incidência de raios UV é alta, pois eles atravessam as nuvens.
Responsável pelo bronzeamento, a radiação UV é frequentemente subdividida nas faixas UVA (comprimento de onda de 315 a 400 nm) e UVB (comprimento de onda de 280 a 315 nm). As ondas UVB têm maior energia que as ondas UVA e são, consequentemente, mais danosas e mutagênicas (causadoras de mutações no DNA). Os raios UV são absorvidos pelas bases do DNA (purinas e pirimidinas), prejudicando o ajuste da dupla fita e os processos de multiplicação celular. A multiplicação celular descontrolada gera o que chamamos de câncer.
Embora nossas células tenham mecanismos próprios de reparo do DNA, as mutações frequentemente levam ao surgimento de cânceres de pele (melanomas, carcinomas e sarcomas). Não apenas os cânceres estão associados à exposição solar exagerada e à influência de radiação UV, mas também o envelhecimento acelerado e as queimaduras de pele (não é o ar aquecido pelo sol que a queima).
Em casos extremos, pessoas com predisposição genética (deficiência no reparo pós-mutacional de DNA) podem desenvolver um quadro grave de uma doença conhecida por “Xeroderma pigmentoso”. Devido a essa deficiência no mecanismo de reparo do DNA os pacientes apresentam elevada fotossensibilidade e desenvolvem precocemente lesões degenerativas na pele, tais como sardas, manchas, e diversos cânceres da pele. Aspecto ressecado e extremamente manchado na pele, adquirido normalmente depois de muitos anos de exposição ao sol, se desenvolve em crianças com esta alteração. No xeroderma pigmentoso a precaução mais importante é proteger-se da exposição à radiação ultravioleta. Pessoas com esta doença devem evitar atividades externas durante o dia, utilizar barreiras de proteção como roupas especiais, bloqueador solar, óculos escuros e chapéu.
Felizmente não é preciso tomar medidas extremas na maioria dos casos, e praticamente todas as pessoas podem usufruir dos benefícios da vida ao ar livre. Justamente por isso é que o uso de um protetor solar (que bloqueie UVA e UVB) torna-se obrigatório no dia-a-dia, faça chuva ou faça sol!
Karine Frehner Kavalco é bióloga, mestre em Genética e Evolução e doutora em Genética. É professora do campus de Rio Paranaíba da UFV e atua na área de Genética e Evolução.
Como citar esse documento:
Kavalco, K.F. (2010). Bronzeamento e saúde. Folha biológica 1 (4): 4