Rubens Pazza
Você certamente já observou cachorros ou gatos correndo pelas ruas de sua cidade, não? Já parou para pensar se alguém cuida deles, se os está vacinando e os mantendo vermifugados? Já parou para observar seu comportamento, a maneira como viram o lixo na rua e correm na frente dos carros? Pois bem, estes animais inocentes podem ser transmissores de zoonoses. Zoonoses são doenças típicas de animais que podem ser transmitidas para os seres humanos ou vice-versa. Estas doenças são causadas por vermes parasitas, fungos, vírus ou bactérias, e os cães e gatos, juntamente com morcegos, ratos, aves e insetos são os principais transmissores. Dentre as zoonoses mais comuns, pode-se destacar a raiva (hidrofobia), a hantavirose, a leptospirose, a Leischmaniose, a peste bubônica, a toxoplasmose, a psitacose, a histoplasmose, o bicho-geográfico, entre outras. Os modos de transmissão vão desde o contato direto com o animal como também do contato indireto, através de água ou hortaliças contaminadas com fezes ou urina, por exemplo, ou ainda através de um vetor (em geral um mosquito ou pulga).
Animais de companhia são abandonados nas ruas, onde se reproduzem e aumentam o problema das zoonoses. Todos são responsáveis e devem incentivar a posse responsável. Fotos: World Wide Web.
Não é brincadeira!
Várias destas doenças são fatais, especialmente por terem sintomas confundidos com os de uma gripe comum. O tempo de incubação (tempo entre a infecção e o aparecimento dos sintomas) pode ser longo, dificultando também o diagnóstico, pois o paciente pode não se lembrar de explicar ao médico onde esteve há uma ou duas semanas. Até por isso, a prevenção é extremamente importante. E os principais mecanismos de prevenção são puramente de saneamento básico. Lixo na rua atrai ratos, que por sua vez podem transmitir leptospirose e peste bubônica. Especialmente em grandes cidades onde a enxurrada causada pelas chuvas é frequente, ou ainda em regiões com grandes infestações de ratos em armazéns ou galpões, a leptospirose transmitida pela urina do rato (ou eventualmente sua mordida) é uma preocupação constante. Por isso, o controle dos ratos nas cidades passa pelo controle do lixo. Outro problema de saneamento básico está relacionado com aquele cãozinho que você viu na rua. Na rua, ele está sujeito à brigas com outros cães e à mútua infecção pelo vírus da raiva, por exemplo.
A propagação do vírus da raiva pode ser evitado com a vacinação, inclusive nas campanhas municipais. Mas quem leva os cães de rua para vacinar? Quem examina os cães de rua para identificar quando são hospedeiros da Leishmania, um protozoário que causa lesões dolorosas e de difícil cicatrização na pele ou ainda, na forma visceral, febre e aumento do baço (esplenomegalia) e do fígado (hepatomegalia). A leishmaniose visceral é o segundo maior assassino parasitário, perdendo apenas para a malária. Podemos evitar estas doenças terríveis apenas com saneamento básico, mantendo animais de estimação sob nossos cuidados, dentro de nossas casas e com um bom sistema de coleta de lixo. Uma das ações mais efetivas para diminuir os cães nas ruas é que eles sejam adotados por uma família e, de preferência, que sejam castrados para evitar o aumento indesejado. Cuidados básicos com nossos amigos podem aumentar a qualidade de vida deles e também a nossa!
Rubens Pazza é biólogo, mestre em Biologia Celular e doutor em Genética e Evolução. Atualmente é professor da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e atua na área de Genética Ecológica e Evolutiva.
Como citar esse documento:
Pazza, R. (2011). O perigo esta próximo, abandonado na rua. Folha biológica 2 (2): 3