Os Peixes de Minas Gerais

Willian Lopes Silva

Patrícia Giongo

Wagner M. S. Sampaio

A América do Sul possui a mais rica fauna de peixes do mundo, e isso se deve ao fato de ela possuir os maiores sistemas fluviais. O Brasil, apresentando a maior parte desses sistemas, incorpora uma parcela significativa dessa biodiversidade. O nosso país concentra 20% de todas as espécies de peixes descritas no mundo, o que equivale, aproximadamente, a 3.000 espécies. Este número é subestimado e podem chegar até 8.000, segundo alguns especialistas. O mais importante é que uma parcela muito significativa dessa fauna é considerada endêmica, isto é, ocorre apenas em um lugar (no nosso país, neste caso). O estado de Minas Gerais apresenta aproximadamente 12% das espécies que ocorrem no Brasil.

 

Os Peixes de Minas Gerais

O assoreamento dos rios é um dos principais problemas no Estado de Minas Gerais, e falta de Mata Ripária ou Ciliar está diretamente ligada esse fenômeno.

Podemos destacar sete das 15 bacias mineiras em termos de riqueza: A bacia do rio São Francisco com 173 espécies, do rio Paranaíba com 103, do rio Grande com 88, do rio Doce com 64, do rio Paraíba do Sul com 55, do rio Mucuri com 51 e do rio Jequitinhonha com 35. As famílias de peixes com maior número de espécies descritas para Minas Gerais são a Loricariidae (sendo representada pelos populares cascudos), a Rivulidae (que possui os peixes temporários) e Characidae (que englobam os lambaris ou piabas), muitas das quais encontram-se em perigo de extinção. As principais ameaças aos peixes de Minas Gerais são a poluição, o assoreamento, o desmatamento, a mineração, a introdução de espécies exóticas, a pesca predatória e a construção de hidrelétricas.  Minas Gerais tem sido foco de usinas hidrelétricas nos últimos 50 anos, e atualmente estima-se em 600 o número de barragens para produção de energia no Estado. O principal foco dos impactos ambientais em rios barrados se direciona aos peixes comerciais que normalmente são as espécies migradoras. Como estes peixes de importância econômica, acabam sendo usados como espécies bandeiras (as que representam os esforços de preservação de determinada área), porém esse procedimento tem contribuído para o declínio de peixes nativos de pequeno porte que também requerem ambientes de cachoeiras ou com correnteza, mas não necessariamente realizam grandes migrações ou apresentam importância econômica. A introdução de espécies exóticas ocorre em todas as bacias mineiras e essa prática ameaça à diversidade de peixes. A aquicultura e os programas de peixamento (introdução de alevinos em rios e represas) são as principais fontes de introdução de espécies, práticas que não estão sendo fiscalizadas e coordenadas com a atenção necessária. Colocar uma espécie exótica (que não pertence naturalmente à bacia) em um sistema hídrico pode trazer sérias consequências ao equilíbrio ambiental. Atualmente existem 63 espécies de peixes introduzidas em Minas Gerais. A bacia com maior número de peixes exóticos é a do Paraíba do Sul com 41 espécies, seguida da bacia do rio Doce com 30 espécies e depois as bacias do Paranaíba e Grande com 20 espécies. O grande número de espécies exóticas na bacia do rio Paraíba do Sul está relacionada ao polo de criação de peixes ornamentais no rio Muriaé, o maior do continente. O Estado de Minas Gerais apresenta-se como uma das regiões chave para entendermos a fauna aquática Sul Americana e para traçamos modelos estratégicos de conservação da biodiversidade. Os motivos para essa consideração são:

  • Sua posição geográfica que incorpora alguns dos mais importantes domínios geohidrológicos onde se encontram os dois principais hotspots do continente (Cerrado e a Mata Atlântica);
  • Englobar a maior parte das bacias brasileiras, exceto a bacia Amazônica.

Estudos recentes levantaram áreas prioritárias de água doce para conservação da biodiversidade, considerando desde níveis de endemismo, estado de conservação do habitat e níveis de proteção desse habitat. A maioria dos peixes com áreas prioritárias de conservação se encontram dentro dos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica.  O Brasil possui atualmente 819 espécies com área de vida restrita. Isto é, espécies que vivem em locais de ampla perda de habitat e que podem sofrer extinção se nenhuma medida de conservação for tomada. Dentre as regiões que englobam as bacias mineiras destacam-se a bacia do Paraná, Atlântico Sudeste e do São Francisco com 78%, 37% e 30% respectivamente das espécies com área de vida restrita.  Os problemas para a conservação da ictiofauna de Minas Gerais estão ligados a problemas desde socioeconômicos e políticos, como a questão da conservação de matas ripárias tão desvalorizadas no Projeto do Novo Código Florestal Brasileiro, até os processos de divulgação de inventários e das reais condições da fauna de peixe e das bacias hidrográficas pelas empresas que solicitam estudos e relatórios de impactos ambientais, pois estão atrelados aos licenciamentos do novo modelo energético brasileiro.  Outra questão é a falta de estratégias específicas para a conservação da fauna de peixes. Ictiólogos apontam que talvez a solução fosse pensar em estratégias direcionadas para as microbacias ou microrregiões, a criação de comissões interinstitucionais de cientistas para gerenciar a dinâmica em ambientes de água doce. Assim teríamos maiores condições de concentrar esforços em locais prioritários como riachos de cabeceiras, veredas e córregos intermitentes, conservando importantes sítios de manutenção da diversidade das grandes bacias. A verdade é que precisamos mudar nossas direções para o combate da perda de água doce e começar a pensar na dinâmica do ecossistema como um todo, mitigando os efeitos das influências antrópicas nas assembleias de peixes e na comunidade.

Willian Lopes Silva é acadêmico do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba, e bolsista do Programa de Iniciação à Extensão-PIBEX.

Patrícia Giongo é bióloga, mestranda em Biologia Animal pela Universidade Federal de Viçosa, e atua na área de Ictiologia.

Wagner M. S. Sampaio é biólogo e mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Viçosa, e atua na área de Ictiologia.


 

Como citar esse documento:

Silva, W.L; Giongo, P; Sampaio, W.M.S. (2012). Os Peixes de Minas Gerais. Folha biológica 3 (1):2

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