Afinal, somos mamíferos.

Karine Frehner Kavalco

Se fizermos uma busca no Google® pela palavra “mamíferos”, logo nas primeiras entradas vem a definição da Wikipédia: “Os mamíferos constituem uma classe de animais vertebrados, que se caracterizam pela presença de glândulas mamárias que, nas fêmeas, produzem leite para alimentação dos filhotes…”. É claro que esta não é a única característica compartilhada pelos mamíferos, mas até o nome “mamífero” indica da importância da lactação na alimentação dos filhotes neste grupo de animais.

Há mamíferos que tem formas incríveis de amamentar seus filhotes, muito diferentes do que estamos acostumados a presenciar em animais domésticos, de fazenda ou na nossa espécie. Há exemplos extremos, como o ornitorrinco. Esse mamífero que põe ovos não possui mamas, mas o leite escorre por poros, sendo lambido pelos filhotes. Nas baleias jubarte, por exemplo, a fêmea vira seu corpo e fica com as mamas próximas da superfície da água, permitindo que o filhote possa respirar com mais facilidade durante as mamadas.

Independente da adaptação de cada mamífero para a amamentação, o leite produzido sempre possui todos os nutrientes que o filhote precisa, embora seja muito variável entre diferentes espécies e mesmo entre raças de uma mesma espécie. Via de regra, todo leite tem água, minerais, carboidratos, lipídios e proteínas, mas as proporções entre estes compostos variam bastante. O leite pode ser extremamente calórico e rico em gordura, como no caso de mamíferos aquáticos e de regiões frias, ou ser um dos menos gordurosos, como o da égua e da asna, mas ele sempre será adequado aos filhotes destas espécies. E como somos também mamíferos, o leite produzido pelas mães é o ideal para a alimentação dos filhotes humanos, os bebês.

Entre os benefícios do aleitamento para o bebê, talvez o mais importante seja a composição perfeita para a sua nutrição e manutenção de sua saúde. Não apenas os nutrientes estão em equilíbrio, mas há água suficiente para deixá-lo hidratado, além de uma gama de compostos que atuam na proteção contra infecções e para o seu desenvolvimento adequado. Se compararmos o leite humano com o leite de vaca, veremos que a grande quantidade de proteínas do segundo, associada a muitos eletrólitos, pode fazer com que um bebê alimentado com leite de vaca tenha uma sobrecarga renal. O leite materno é tão importante que nenhuma fórmula artificial o substitui de maneira totalmente eficiente. Nenhuma.

Leite de mãe não é só amor em estado líquido. Além dos benefícios psicológicos para a mãe e o bebê pelo fortalecimento do vínculo afetivo, há uma lista de vantagens em amamentar e em ser amamentado. Apesar disso, muitas mulheres não o fazem. Algumas delas, contra sua vontade, tornamse inaptas para o aleitamento materno. Outras, acreditam que o ato de amamentar lhes fará mal, como por exemplo, que deixará seus seios flácidos. Esse é um mito que já se provou errado. Há vários fatores que podem deixar as mamas flácidas, mas amamentar não é um deles. Talvez o fato de atrizes e modelos famosas estarem optando pelo parto natural e pelo aleitamento mostre para estas mulheres que não é preciso ter medo de amamentar seu filho. Talvez percebam que seu corpo está preparado para isso. A natureza o tem moldado para esta função há milhões de anos…

Mas e quando a mãe não consegue amamentar o recém-nascido, mesmo sabendo de todos os benefícios para sua nutrição e desenvolvimento? Pela necessidade de alimentar de maneira eficiente bebês mais sensíveis e debilitados, surgiram as inciativas de bancos de leite. No Brasil, só neste ano, pouco mais de 90 mil bebês já receberam leite materno doado. No ano passado, mais de 172 mil recém-nascidos foram beneficiados. Pouca gente conhece a Rede de Bancos de Leite Humano, mas ela faz a diferença para milhares de crianças internadas em unidades neonatais (UTIs e CTIs), muitas delas prematuras ao nascimento. Pode parecer grande, mas o número de recém-nascidos beneficiados pelos bancos é ainda muito pequeno. Estas crianças recebem leite materno selecionado e pasteurizado, o que lhes garante uma fonte de alimento segura, que ajuda a protegê-las de infecções.

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Qualquer mulher que esteja amamentando e que seja saudável (que não esteja usando alguns medicamentos e esteja bem nutrida) pode doar o excedente do seu leite (aquele que não será usado por seu próprio bebê) a um banco de leite. Como a produção de leite materno aumenta conforme a necessidade, ou seja, com a quantidade e com o tempo das mamadas, potencialmente toda mãe tem leite suficiente para seu bebê e para doar. Poucos minutos por dia são suficientes para a coleta do leite, que pode ser guardado no freezer até ser encaminhado ao banco.

Em Minas Gerais, há 12 unidades e 19 postos de coleta da Rede de Bancos de Leite Humano. No mês de maio, a unidade de Uberaba informou que estava com seu estoque baixo, com menos de três litros, e os estoques continuaram baixos no mês de julho. Para saber mais sobre como doar e para obter o endereço dos postos e dos bancos, acesse: http://www.fiocruz.br/redeblh

Karine Frehner Kavalco é bióloga, mestre em Genética e Evolução e doutora em Genética. Atualmente é professora da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba e atua na área de Genética Ecológica e Evolutiva.


Como citar esse documento.

Kavalco. K (2013). Afinal, somos mamíferos. Folha biológica 4:(2) 4

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