Luciano Bueno dos Reis
Quando olhamos para um campo ou mata, diferentemente da aparente calma e convívio harmônico entre as plantas e outros componentes dos ecossistemas, grandes batalhas podem estar sendo travadas entre as plantas. Na competição por luz, água e nutrientes, as plantas podem lançar mão de diversas estratégias e armas para sobrepujar suas adversárias.
Dentre essas estratégias, as plantas podem usar um vasto arsenal bioquímico, com substâncias secretadas pelas raízes, volatilizadas pelas folhas ou mesmo resultantes da decomposição de partes mortas do vegetal. Tais compostos podem interferir no crescimento de outras plantas ou mesmo de microrganismos do solo. Essa interferência no crescimento de uma planta sobre a outra, por meio de uma substância química liberada, é conhecida como alelopatia.
Diversas classes de compostos podem agir como substâncias alelopáticas. Contudo,
o modo de ação de cada substância muitas vezes não é conhecido. Outras vezes, nem mesmo a substância responsável pelo efeito alelopático é identificada. Dessa forma, este é um campo que ainda demanda muita pesquisa científica básica.
Essas pesquisas na área de alelopatia podem ser bastante simples, já que os testes iniciais são realizados comumente verificando o efeito de extratos vegetais sobre a germinação de sementes como as de alface e tomate. E, identificada a ação alelopática, pode-se investir na identificação do composto responsável por esse efeito.
Tais estudos e a identificação de compostos que causam efeitos alelopáticos podem ser bastante úteis, não apenas para se conhecer melhor a ecologia vegetal, mas também porque essas substâncias têm potencialidade de uso na indústria farmacêutica (produção de remédios)e agroquímica (defensivos agrícolas).
No ambiente agrícola também há alelopatia e uma planta bastante conhecida pelos seus efeitos alelopáticos é o sorgo. Algumas culturas não se desenvolvem bem em solo onde sorgo estava plantado. Uma das substâncias alelopáticas produzidas pelo sorgo é a sorgoleona, que inibe a respiração mitocondrial. Dessa forma, o produtor deve tomar cuidado ao escolher a cultura que será plantada onde havia sorgo, pois isso pode interferir no crescimento de determinadas culturas e trazer prejuízos econômicos. A autotoxidez também pode contribuir para a redução da produtividade, como verificado para alguns cultivares de trigo e espécies da família Curcubitaceae, como o melão e pepino. Esses efeitos podem ser minimizados com a rotação de culturas. Em ambientes naturais essa ação autotóxica impede que sementes da mesma espécie germinem próximas das plantas que as produziram. Com isso, a planta “mãe” pode minimizar a competição com as plantas “filhas”. No campus de Rio Paranaíba, da Universidade Federal de Viçosa, alguns estudos sobre o efeito alelopático da macaúba têm sido realizados por estudantes do ensino médio da E. E. Adiron Gonçalves Boaventura, de Rio Paranaíba, vinculados ao programa de Iniciação Científica Júnior fomentado pelo CNPq, FAPEMIG e UFV. Atualmente, Rafaela Rocha e Amanda Mendes, ambas estudantes do 2º ano, trabalham no projeto coordenado pelo professor Luciano Bueno dos Reis.
Luciano Bueno dos Reis é biólogo formado pelaUniversidade Federal de Juiz de Fora, com mestrado e doutorado em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é professor da Universidade Federal de Viçosa, campus de Rio Paranaíba, atuando nas áreas de Fisiologia Vegetal e Cultura de Tecidos de Plantas.
Como citar esse documento.
Reis. L. (2013). Alelopatia. Folha biológica 4: (3) 4.