Seriam as primeiras plantas responsáveis pelo resfriamento da Terrano período Ordoviciano?

No período conhecido como Ordoviciano Superior, o clima da Terra esfriou drasticamente, havendo como consequência períodos de glaciação temporária que começaram de repente, sendo elas intrigantes pois ocorreram quando as concentrações de CO2 atmosférico eram aproximadamente 14-22 vezes os níveis atmosféricos atuais (14-22 PAL – present-day atmospheric level). Vale ressaltar que o nível de CO atmosférico não é o único fator que regula o clima, temos também, por exemplo, as posições dos continentes e intensidade do brilho solar, que antigamente era menor. No entanto, modelos climáticos complexos sugerem que os níveis de CO2 atmosférico tiveram que cair para cerca de 8 PAL para desencadear as glaciações nesse período. Logo fica o questionamento, o que teria provocado essa queda?

O aumento do intemperismo do silicato, um dos minerais constituintes de rochas mais importantes, poderia provocar um lento declínio nos níveis de CO2, uma vez que, no oceano, o silicato faz parte do processo de fixação do carbono em carbonato de cálcio. Um exemplo de mecanismo geológico que poderia ocasionar esse aumento seria o movimento dos continentes através da zona de convergência intertropical¹, próxima à linha do equador, onde as taxas de chuva são bastante altas. Entretanto, apenas mecanismos geológicos provavelmente não seriam suficientes para baixar os níveis de CO2 o tanto necessário para que ocorressem as glaciações ou outras mudanças marcantes no Ordoviciano Superior.

Há suposições de que a origem e expansão das primeiras plantas terrestres, que seriam avasculares, poderia ser parte da causa dessas mudanças, já que elas desenvolveram uma variedade de sistemas e relações simbióticas que aceleram o intemperismo e liberação de minerais das rochas necessários para seu crescimento. No intuito de determinar se essas plantas avasculares teriam aumentado o intemperismo químico, alguns pesquisadores realizaram um estudo intitulado “First plants cooled the Ordovician”, publicado na Nature Geoscience em 2012, no qual utilizaram um musgo para as análises. Como resultado, eles verificaram que de fato o intemperismo das rochas testadas foi maior nas amostras onde o musgo estava presente. Considerando que nas pequenas proporções do experimento já houve diferença significativa, provavelmente no ambiente isso teria impactado bem mais. Após isso, fizeram algumas análises utilizando modelos geoquímicos que apontaram excelente redução do CO2 atmosférico e da temperatura média global, mas ainda não o suficiente para que ocorresse uma glaciação.

Sendo assim, ainda faltam algumas peças para o quebra cabeça. Contudo, as plantas também ocasionaram outras mudanças. Nesse período as plantas extraíram das rochas mais fósforo do que eram capazes de consumir, isso porque não tinham mecanismos muito eficientes de reaproveitamento deste nem substrato ainda para retê-lo, o que levou ao escoamento e altas entradas deste fósforo no oceano. Como o fósforo é um elemento bastante importante para o crescimento e reprodução dos organismos, essas entradas de fósforo provocaram um “boom” na produção nos oceanos, o que em algum momento ocasionou a eutrofização² regional e, posteriormente, o soterramento de grandes quantidades de carbono orgânico, e consequentemente a redução do CO2 atmosférico e das temperaturas globais. Podemos concluir que essas grandes mudanças climáticas nesse período foram causadas tanto por fatores geológicos como pelo surgimento e desenvolvimento das primeiras plantas terrestres avasculares, sendo que as últimas tiveram um papel muito importante.

Glossário:
Zona de convergência intertropical¹: A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é um dos mais importantes sistemas meteorológicos atuando nos trópicos, ela é parte integrante da circulação geral da atmosfera. Dentro desta circulação geral da atmosfera, existem três cinturões de ventos que são observados em cada hemisfério do planeta Terra;
Eutrofização²: processo de poluição de corpos d´água, como rios e lagos, que acabam adquirindo uma coloração turva ficando com níveis baixíssimos de oxigênio dissolvido na água. Isso provoca a morte de diversas espécies animais e vegetais, e tem um altíssimo impacto
para os ecossistemas aquáticos.

Imagem: Species:Physcomitrella patens – GreeNC (sequentiabiotech.com)

Samyra Stéphane Neves Pereira é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.

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