Avanços na clonagem genética: O futuro do melhoramento de raças?

Quando falamos sobre clonagem genética o que vem em sua mente? Talvez cenas antigas de um animal fofo e branquinho em alguma fazenda escocesa cercada por cientistas? Bem, as chances são altas de falar sobre o tema e evocar no imaginário do leitor, quase que instantaneamente, a imagem de uma ovelha com um nome inusitado, Dolly. Isso devido às incessantes reportagens jornalísticas que tomaram o mundo no início do século. Dolly foi o primeiro animal a ser clonado em laboratório pela humanidade, mas não foi o único. Desde fevereiro de 1997 até os dias atuais, a corrida continua (embora os métodos de se conseguir tal feito tenham se diversificado desde então).

A partir do momento que a possibilidade surgiu no horizonte científico, diversas tentativas de clonagem foram feitas a fim de compreender melhor suas implicações e recentemente uma das técnicas demonstrou excelentes resultados, conhecida como Clonagem por Transferência de Células Somáticas (TNCS).

O experimento ocorreu pelo ICAR-Central Institute for Research on búfalos, situado no norte da Índia, onde cientistas decidiram avaliar os impactos da clonagem genética nas espécies de Búfalo Murrah, no intuito de contribuir no entendimento das implicações na qualidade de vida do clone bovino e em seus descendentes. Para isso foram utilizadas metodologias que já demonstraram eficiência na clonagem bovina e a clonagem de transferência de células somáticas foi aplicada em fêmeas através de reprodução assistida.

O método consiste na obtenção do núcleo de células somáticas¹ do doador macho, que são coletadas das células ordinárias da pele e do sêmen do búfalo doador. Diferentemente das células gaméticas, como o espermatozoide, as células somáticas demandam de um tratamento químico e enzimático para revitalizar sua potência de diferenciação celular. Após isso, esses núcleos celulares, onde contém o código genético idêntico ao do doador, são fundidos aos óvulos sem núcleos das respectivas fêmeas. As próximas etapas consistem em estímulos elétricos para o desenvolvimento embrionário e na inoculação do embrião nas fêmeas hospedeiras.

De todas as inseminações, houve apenas uma gestação que deu a luz a um bezerro. No entanto, devido ao grau de complexidade e o pequeno número de tentativas os resultados foram positivos, já que o clone gerado não apresentou nenhuma anormalidade física e patológica, além de ter desenvolvido uma vida saudável até as últimas avaliações do estudo, onde apresentava 40 meses de idade e 760 kg. Exames de vários parâmetros pós-natais, como crescimento, hematologia, e fertilidade foram feitos, demonstrando que o clone apresentava parâmetros similares ao do seu doador, inclusive manchas no corpo e atributos físicos. Além disso, foi testada a viabilidade da sua prole, comprovando que seus doze descendentes são saudáveis e férteis.

A ausência de dados contribui para a falsa sensação de que necessariamente ocorre algum tipo de problema de desenvolvimento ao longo da vida do clone, sensação essa que é corroborada pelos mitos difundidos sobre a época da morte da ovelha Dolly, que embora conspiradores atribuam o envelhecimento precoce devido à clonagem, morreu de complicações naturais da sua linhagem genética.

O fato é que mais estudos precisam ser feitos para entendermos as reais implicações à qualidade de vida dos animais, além da prática ser economicamente viável, já que clones produzidos podem ajudar a ampliar os impactos genéticos de animais de elite nas criações, aumentando oferta de sêmen e contribuindo para o melhoramento genético das raças contornando complicações naturais como o envelhecimento e a infertilidade.

Imagem: Selokar, N. L., Sharma, P., Saini, M., Sheoran, S., Rajendran, R., Kumar, D., … & Yadav, P. S. (2019). Successful cloning of a superior buffalo bull. Scientific Reports9(1), 11366.

Vitor Augusto Rezende Santos é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.

Deixe um comentário