Para responder essa pergunta primeiro devemos entender, o que é a árvore da vida? Essa árvore se refere a uma filogenia que tenta recriar o antepassado de todos os seres vivos que já passaram por nosso planeta, incluindo as vidas passadas e as vidas presentes. Atualmente, essa árvore contém três principais ramos: os domínios Archaea, Bacteria e Eukarya, este último é o domínio onde todos os eucariotos, assim como nos humanos, estão incluídos. Mas onde estariam os vírus?
Atualmente em lugar nenhum. A história evolutiva dos vírus ainda é cercada por mistérios e incertezas, sendo que ainda é debatido se são seres vivos ou não. A NASA endossa essa visão, já que ela leva em conta que “A vida” é um sistema químico “auto sustentável capaz de evolução darwiniana”. Como os vírus não têm capacidade de se auto manterem por serem parasitas obrigatórios (organismos que necessitam de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida), eles não são considerados por muitos autores como seres vivos. Mas isso não é um consenso, já que vários outros organismos que são considerados vivos também são parasitas obrigatórios.
Outro argumento sólido para a inclusão dos vírus na árvore da vida reside na sua significativa contribuição para a evolução de uma variedade de organismos ao longo dos séculos. Isso se deve, em grande parte, à ocorrência da transferência horizontal de genes, um processo pelo qual fragmentos de DNA de um organismo são transferidos para outro. Um dos exemplos mais notáveis desse fenômeno é o da endossimbiose, que desempenhou um papel crucial no surgimento e desenvolvimento de estruturas celulares como os cloroplastos e as mitocôndrias.
Este evento, em particular, ocorreu entre bactérias e eucariotos, mas também é observado com considerável frequência nos vírus, o que representa uma das explicações plausíveis para o surgimento do Coronavírus. Dada a relevância significativa dos vírus no controle populacional e na promoção da transferência de genes, há um argumento convincente a favor de sua inclusão na árvore da vida. No entanto, essa inclusão é complexa devido à imensa diversidade que caracteriza os vírus.
Os vírus podem apresentar material genético sob a forma de RNA ou DNA, que pode ser de fita simples, positiva ou negativa, ou de fita dupla, variando em tamanho, até mesmo com genomas extremamente reduzidos contendo apenas alguns poucos genes. Além disso, os vírus demonstram uma notável capacidade de mutação, tornando desafiador estabelecer linhagens claras para esses organismos. É possível que os vírus tenham múltiplas origens distintas, o que dificulta a reconstrução completa de suas filogenias. Ainda mais complicado é o fato de que não podemos encontrar fósseis de linhagens de vírus já extintas.
No entanto, com base nas evidências disponíveis hoje, podemos inferir a existência de grupos virais que provavelmente surgiram antes do Último Ancestral Comum Universal (LUCA) e outros que parecem ter se originado posteriormente. Assim como a questão da vitalidade dos vírus ainda é objeto de debate na comunidade científica, a inclusão dos vírus na árvore da vida também permanece uma questão em aberto. No entanto, essa incerteza faz parte do processo científico, que envolve discussões profundas e exaustivas até que possamos chegar a conclusões mais sólidas e fundamentadas.
Referências:
HARRIS, Hugh MB; HILL, Colin. A place for viruses on the tree of life. Frontiers in Microbiology, v. 11, p. 604048, 2021.
Rafael Augusto Silva Soares é graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa – Campus Rio Paranaíba.