Ao ler um texto, interpretar o que nos dizem ou realizar ações simples, como amarrar um sapato, utilizamos diversas funções cognitivas fundamentais, entre elas a memória, o raciocínio e a coordenação motora. Quando uma pessoa apresenta dificuldades nesses aspectos, é essencial que sejam feitas investigações, pois esses sinais podem indicar a presença de transtornos que afetam o desenvolvimento neurológico.
A dislexia é um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento que mais impacta a linguagem escrita, sendo caracterizada por uma dificuldade persistente nesses domínios. Comumente, a dislexia se manifesta em diferentes fases da infância, sendo percebida principalmente nos primeiros anos escolares. Por isso, exige atenção especial no ambiente escolar e familiar, uma vez que pode interferir no rendimento acadêmico e na autoestima da criança.
De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é classificada como um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. Pessoas com dislexia podem apresentar dificuldades como a precisão gramatical, organização da escrita, compreensão leitora, raciocínio matemático e até na fala, impactando o desenvolvimento cognitivo, físico e social. Apesar do reconhecimento clínico, ainda não há consenso sobre sua causa exata. Contudo, sabe-se que a dislexia possui origem neurobiológica e está relacionada a alterações no funcionamento cerebral, especialmente em áreas responsáveis pela linguagem verbal. Observou-se que o cérebro de uma pessoa com dislexia apresenta alterações: há diferenças anatômicas, como o hemisfério esquerdo (envolvido com a linguagem) sendo menor que o direito, o oposto do padrão observado em indivíduos sem dislexia.
Além das dificuldades linguísticas, pessoas com dislexia frequentemente enfrentam desafios motores, que afetam a coordenação motora global e fina, o equilíbrio, a lateralidade, a noção corporal, a estruturação espaço-temporal e o controle postural. Assim, é comum que essas pessoas também apresentem dificuldades em tarefas cotidianas que exigem coordenação motora, como cortar com tesoura ou amarrar os sapatos. Essas dificuldades podem interferir não apenas no desempenho escolar, mas também na vida social, impactando o aspecto emocional.
É importante destacar que a dislexia não é uma deficiência intelectual. Crianças com e sem dislexia podem apresentar níveis de inteligência compatíveis com sua idade. Contudo, é necessário que ocorram intervenções e que sejam traçadas estratégias de ensino que auxiliem no aprendizado das crianças com dislexia, respeitando seus processos individuais.
A dislexia não desaparece com o tempo. Embora os sintomas possam se tornar mais sutis, jovens e adultos continuam necessitando de suporte, especialmente em situações que exigem o uso de funções cognitivas como coordenação motora, gramática, escrita, raciocínio e habilidades de comunicação oral. A aplicação de testes permite a identificação precoce, sendo o reconhecimento desses déficits essencial para uma compreensão do quadro e para a formulação de estratégias de intervenção adequadas. Ações direcionadas dependem de análises e de testes diagnósticos apropriados. Por isso, sempre que houver suspeita ou dúvida, é imprescindível buscar avaliação com profissionais especializados, como neurologistas, fonoaudiólogos e psicopedagogos.

Fonte: Fotografia Alila Medical Images
Imagem: Visão completa de um cérebro normal versus cérebro com dislexia.
Referência:
BOSCOLO, Isabela Andrade. Coordenação e dislexia: estudo de revisão sobre métodos de avaliação motora. 2019.
Laiena Luz Bassam Amadeu é doutoranda em Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa.