Entre cobras, sapos e lagartos… E milhões de anos de evolução!

 Rodrigo de Mello

 

Certa vez, depois de dizer que participaria de um congresso de herpetologia, minhas sobrinhas – Ana Carolina e Maria Fernanda, de 11 e 8 anos – me perguntaram o que era isso. Logo depois de explicar que tal evento é uma reunião entre pessoas que estudam anfíbios e répteis, detalhando que o primeiro grupo abriga todos os sapos, rãs e pererecas, e o segundo, todos os lagartos, crocodilos, cobras e tartarugas, ouvi: “credo… cobras, sapos e lagartos!”, combinado com os rostos com feições de nojo das meninas. A reação – ou opinião— da Carol e da Fernanda é bem comum; As pessoas geralmente propagam uma imagem asquerosa, perigosa ou maléfica desses animais em desenhos animados, filmes ou lendas. Entretanto, quando vemos esses animais estudados pela herpetologia de outro prisma, começamos a ver quão interessantes eles são começando pela sua história evolutiva.

O surgimento dos primeiros anfíbios e répteis aconteceu entre 300 a 400 milhões de anos atrás, quando a Terra ainda tinha seus continentes diferentes da conformação atual; eles aparecem simultaneamente com inovações evolutivas únicas para a conquista do ambiente terrestre – um lugar até então inexplorado por qualquer vertebrado. Desde então, a herpetofauna se tornou extraordinariamente rica e diversificada, representando porção significativa da fauna de vertebrados, particularmente em ambientes áridos e tropicais, onde são os vertebrados mais abundantes. No mundo todo, são mais de 6.700 espécies de anfíbios e mais de 9.500 espécies de répteis; só no Brasil o número de anfíbios e répteis catalogados está em torno de 900 e 750 espécies, respectivamente.  Esses animais desempenham importantes funções ecológicas na natureza, predadores de vários organismos. Sapos, rãs, pererecas e lagartos se alimentam de vários insetos e aranhas, são toneladas de insetos predadas todo ano; Imagine como seria a quantidade de insetos sem esses predadores! Muitas cobras predam ratos, animais associados à transmissão de algumas doenças e, por vezes, pragas de lavouras. Seus venenos produzem vacinas e salvam mais vidas humanas do que matam ou deixam sequelas, já que cobras só picam pessoas quando se veem ameaçadas por elas. Além disso, anfíbios e répteis também servem de alimento para vários animais como aves e mamíferos.

Portanto, sapos, cobras e lagartos são mais do que ingredientes em poções de bruxas malvadas das histórias ou criaturas que causam asco. Esses fascinantes animais que a herpetologia estuda, além de terem um papel ecológico e evolutivo crucial nos ecossistemas onde vivem, foram (e ainda tem sido!) fundamentais no desenvolvimento de disciplinas como Evolução, Biogeografia, Fisiologia, Ecologia, Conservação, entre outras, já que são ótimos modelos de estudo para o desenvolvimento de pesquisas. Assim, quando olhamos para anfíbios e répteis dessa forma, fica mais fácil compreender as palavras do poeta que diz que “a natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas páginas”

Entre cobras, sapos e lagartos... E milhões de anos de evolução!   (rodrigo)

Rodrigo de Mello é biólogo, mestre em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, e  doutorando em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás. Atua na área de filogeografia animal.


 

Como citar esse documento:

Mello, R. (2012). Entre cobras, sapos e lagartos… E milhões de anos de evolução! Folha Biológica 3. (1): 4

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