Daniel Brianezi
Laércio Antônio Gonçalves Jacovine
Ricardo Martiniano dos Santos
O Brasil é um dos principais emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente em função do desmatamento e da mudança no uso do solo. Por outro lado, também é um dos países com maior potencial para reduzir as emissões projetadas até 2030, pois o aumento das suas emissões ocorre em taxas menores que a de outros países em desenvolvimento, como China e Índia, e desenvolvidos; estes sujeitos a quotas de redução obrigatórias.
O Brasil, mesmo estando entre os maiores emissores de GEE, é considerado em desenvolvimento no Protocolo de Quioto (não -Anexo I), por isso não possuía metas de redução até 2012. No entanto, na 15a Conferência das Partes (COP-15), ocorrida no final de 2009 em Copenhague, os países signatários, como o Brasil, se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE de forma voluntária. Para isso, criou-se a Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), que no artigo 12 relata o compromisso nacional de ações de mitigação das emissões de GEE, visando à diminuição de 36,1% a 38,9% das emissões brasileiras projetadas até 2020. Assim, do total das metas de redução de GEE voluntárias que o Brasil propôs em seus NAMAs (Nationally Appropriate Mitigation Action), aproximadamente 90% são originários da agropecuária e da mudança no uso da terra, que representam 75% das emissões de GEE nacionais.
Dentre as medidas estabelecidas pela PNMC para reduzir as emissões de GEE brasileiras está o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que procura incentivar os produtores rurais a adotar técnicas agrícolas de baixo impacto negativo sobre o meio ambiente, através de atividades que emitam menos GEE. Além disso, tem sido adotada a campanha do Carbono Zero, comum em empresas e escolas dos Estados Unidos e Europa. O Carbono Zero é um tipo de crédito de carbono que consiste em compensar as emissões de GEE por pessoas, empresas ou eventos,
através do sequestro de carbono pelas plantas. Nesse sentido, diversas ações têm sido tomadas de forma voluntária, por segmentos da sociedade. A Universidade Federal de Viçosa (UFV) também tem feito a sua parte, desenvolvendo ações que minimizam o efeito estufa. No ano de 2010, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFV – campus Viçosa, organizadora da 81a Semana do Fazendeiro (evento que ocorre em Viçosa-MG), com o Departamento de Engenharia
Florestal da mesma instituição e, em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF),
aderiu ao Projeto Carbono Zero. Esse projeto objetiva quantificar as emissões de GEE do
evento e neutralizá-las com o plantio de árvores da Mata Atlântica, vegetação nativa da região, em uma área degradada da UFV, além de trabalhar junto aos produtores rurais questões ligadas às mudanças climáticas e ao meio ambiente. O projeto, executado também nos anos de 2011 e 2012,
terá continuidade em 2013, na 84a Semana do Fazendeiro.
Durante a Semana do Fazendeiro, são quantificadas as emissões de GEE relacionadas aos transportes (ônibus que levam os participantes para os cursos, veículos que trazem artistas para os
shows e também a infraestrutura); à energia (energia elétrica, gás de cozinha e caldeiras a vapor); aos resíduos (sólidos e efluentes); aos animais usados no leilão e na exposição; e às emissões oriundas do plantio. Para o cálculo das emissões de GEE são utilizadas metodologias nacionais e internacionais, como a NBR ISO 14.064:2007, GHG Protocol Brasil e também do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês). Posteriormente, o montante de emissões de GEE contabilizado é convertido em uma unidade comum (tCO2e – toneladas de dióxido de carbono equivalente), de acordo com o Potencial de Aquecimento Global de cada GEE avaliado. Com base na quantidade de GEE quantificado, calcula-se o número de árvores nativas necessárias para neutralizar tais emissões. Para isso se utilizam dados de estocagem de carbono de florestas similares, advindos de pesquisas científicas desenvolvidas na região de Viçosa.
As árvores são conhecidas como grande sumidouros de carbono terrestre e podem neutralizar as emissões devido à fotossíntese. A capacidade de neutralização variará de acordo com fatores externos, como clima e solo, tratos silviculturais, manejo e fatores intrínsecos à planta. Nos trés anos de projeto, emitiu-se 127,73 tCO2e., sendo 40,60 tCO2e, 38,43 tCO2e e 48,70 tCO2e, nos anos de 2010, 2011 e 2012, respectivamente. As mudas plantadas nos mesmos anos foram 223, 210, 324, totalizando 757 mudas, que neutralizaram as emissões de GEE dos eventos.
Paralelo ao Projeto Carbono Zero foi criada a Tenda Carbono Zero, onde são trabalhadas, junto aos produtores rurais participantes da Semana do Fazendeiro, questões ambientais e ações de mitigação das mudanças climáticas. Além disso, na tenda, são calculadas as emissões de GEE e a estocagem de Carbono pelas propriedadescap rurais. Para isso, faz-se o balanço das emissões e das remoções de GEE e o produtor fica sabendo onde está a maior parte de suas emissões e onde se encontra o maior “sequestro” de CO2 da sua propriedade. Posteriormente, ele é orientado sobre o que pode fazer para reduzir suas emissões e recebe uma muda de espécie arbórea para plantar em sua propriedade e um certificado de colaborador do clima, atestando seu compromisso em plantar a árvore recebida.
Iniciativas de neutralização de carbono, como o Projeto Carbono Zero, são de suma importância para amenizar a problemática das mudanças climáticas e contribuir para a socialização das questões ambientais. Assim, a UFV, instituição já conhecida pelo seu nível de excelência em pesquisa, ensino e extensão no país e no exterior, quer ser referência também na área ambiental, dando exemplo para toda a sociedade.
Daniel Brianezi é Engenheiro Florestal, mestre e doutorando em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Atua na área de Economia Ambiental, com ênfase em fixação de carbono; inventário e neutralização de GEE.
Laércio Antônio Gonçalves Jacovine é Engenheiro Florestal, mestre e doutor em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Florestal da UFV. Atua na área de Economia Ambiental, com ênfase em fixação de carbono pelas florestas; certificação florestal e gestão e controle de qualidade nas atividades florestais.
Ricardo Martiniano dos Santos é Analista de Tecnologia de Informação, mestre em Sistemas de Gestão do Meio Ambiente. Atualmente, é assessor da Divisão de Assuntos Culturais – DAC da Universidade Federal de Viçosa e um dos coordenadores do Projeto Carbono Zero.
Como citar esse documento:
Brianezi, D; Jacovine, L.A.G; Santos, R.M (2013). Carbono Zero: um passo a mais para a sustentabilidade. Folha biológica 4 (Edição especial 2-3): 4