Um peixe bem mineiro

Uma das tarefas iniciais mais difíceis quando se é pai (ou mãe) é dar o nome ao filho. Imagino que dar um nome a uma espécie seja uma tarefa no mínimo tão complicada quanto. No entanto, diferentemente dos nomes dos bebês, os nomes de espécies na maioria das vezes são reflexos de suas características morfológicas distinguíveis. Outras vezes são homenagens a outros pesquisadores e até a astros do rock.

Foi publicado no último número da revista Neotropical Ichthyology um artigo descrevendo uma nova espécie de peixes do gênero Hyphessobrycon com nome bastante interessante. A revista Neotropical Ichthyology é uma publicação da Sociedade Brasileira de Ictiologia e é responsável por publicar a descrição de inúmeras espécies novas de peixes todos os meses.

Exemplar de Hyphessobrycon uaiso

Hyphessobrycon uaiso (Uai, sô!). Será que eu preciso dizer que este nome sugere que o espécime tipo (o representante principal da espécie, depositado em um museu) foi coletado em Minas Gerais? Para ser mais exato, a localidade tipo da nova espécie é próximo à cidade mineira de Uberaba, com distribuição na drenagem do rio Grande, um dos formadores e principais afluentes do rio Paraná. É bem verdade que o rio Grande drena uma boa parte do Estado de São Paulo também mas, e daí?

O gênero Hyphessobrycon pertence à família Characidae, da ordem dos Characiformes. Esta ordem é uma das principais dentre os peixes da região Neotropical (Sul da América do Norte até a América do Sul), tendo como principal característica o corpo coberto de … Leia mais

Cheiro de quê?

Segundo um trabalho publicado em março desse ano na revista Science, pesquisadores estimam que o nariz humano consegue detectar, através de seus 400 receptores olfativos, mais de 1 trilhão de cheiros ou aromas! Para se ter uma idéia de quão grande é esse número, podemos comparar com o número de estímulos que outros sentidos humanos conseguem distinguir: nosso olho usa três receptores de luz que trabalham juntos para ver até 10 milhões de cores, enquanto que o ouvido pode ouvir “apenas” meio milhão de tons.

Nós somos adaptados para sentir cheiros, e reagir de acordo, assim como outros animais. Existem vários cheiros característicos que você conhece, e que podem ter um significado adaptativo.

Por exemplo, sabe quando começa a chover, e logo você sente aquele cheiro bem agradável de terra molhada? Esse cheiro é chamado Petricor, e acontece devido a uma combinação de duas substâncias: a primeira, um óleo que é liberado por algumas plantas no período de seca e que é absorvido pela terra e pedras argilosas. Esse óleo retarda a germinação de sementes e desenvolvimento inicial da planta.

A segunda é a geosmina, uma molécula que é produzida principalmente por algumas bactérias do grupo Actinobacteria. É possível que sua função seja controle de inimigos, então é liberada no solo antes da chuva para se espalhar melhor pelo ambiente. O olfato humano pode detectar concentrações extremamente baixas de geosmina, a partir de 5 partes por trilhão! Uma hipótese para explicar essa sensibilidade, é que nossos ancestrais usaram esse odor … Leia mais

Como a natureza semeia suas sementes?

Todos os organismos da natureza são encontrados em determinados locais porque eles se deslocaram até lá. Esse conceito é valido até para espécies sésseis, ou seja, que não se locomovem e vivem fixas, como as plantas. Dispersão e migração são termos utilizados para descrever deslocamentos de organismos em busca de melhores condições para a sobrevivência das espécies. A dispersão está relacionada ao distanciamento aleatório dos organismos entre si, enquanto a migração a movimentos direcionais em massa de um grande número de indivíduos de uma espécie de um local para outro.

Para se dispersarem as plantas utilizam seus diásporos, ou unidades de dispersão, que são os frutos e sementes. A dispersão dos diásporos para longe do seu local de origem é um processo fundamental no ciclo de vida das plantas, pois evita a competição entre as plantas jovens e a elevada predação próximo à planta-mãe. Além disso, se as sementes forem dispersas por uma área ampla, maior será a chance de encontrarem locais favoráveis à sua germinação e estabelecimento.

Devido aos benefícios da dispersão, as plantas desenvolveram muitas adaptações que favorecem a disseminação dos seus frutos e sementes. As características dos frutos e sementes trazem pistas sobre a forma de dispersão de uma espécie. Certas plantas espalham suas sementes sozinhas (autocoria), como é o caso da maria-sem-vergonha ou beijo, cientificamente conhecida como Impatiens walleriana, pois seu nome científico lembra a palavra “impaciente” em referência à cápsula de sementes que explode ao menor contato, espalhando as sementes nos arredores. Outras dependem de … Leia mais

As plantas que vivem sobre o ferro

As diferentes espécies e formas de vida da vegetação que existem ao nosso redor estão intimamente relacionadas com o tipo de solo em que estão estabelecidas. A fertilidade e a profundidade do solo selecionam as plantas que vão ocupar cada ambiente. Geralmente, onde há florestas os solos são profundos e férteis, pois as árvores são exigentes em nutrientes e em uma área maior de solo para expandir suas raízes, indispensáveis para a sustentação do tronco. Por outro lado, em solos rasos ou mais pobres em nutrientes estabelecem formas de vida de menor porte e adaptadas a essas condições.

Fig 1- Campo rupestre.

Diferentes tipos de vegetação, em resposta a diferentes solos, podem ser observadas na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. No Cerrado existem vegetações campestres (campo limpo), savânicas (cerrado sensu stricto) e até florestais (cerradão); classificadas em função do hábito dominante, da composição florística e das propriedades dos substratos, que vão de rasos e pobres nos campos a profundos e ricos nas florestas. As vegetações campestres caracterizam-se por serem mais abertas, com predominância de gramíneas e poucas espécies lenhosas. As fitofisionomias savânicas são dominantes na paisagem e ocupam cerca de 65% da área do Cerrado. A vegetação do cerrado sensu stricto é formada por um estrato arbustivo-arbóreo com caule suberoso, ramificado e retorcido e outro herbáceo-graminoso e contínuo. As vegetações florestais apresentam espécies lenhosas com galhos tortuosos, distribuídas de forma mais adensada, com alturas variando de seis a oito metros.

Fig 2- Vegetação de canga.

Em muitos locais no Brasil … Leia mais

Campos de murundus: Pouco conhecidos e muito ameaçados

Os pequenos animais que vivem no solo desempenham papeis de grande importância, os quais, na maioria das vezes, nem mesmo percebemos. Desde 1881, o grande naturalista Charles Darwin já havia observado a importância das minhocas para a formação dos solos e estabelecimento de diferentes vegetações. Desde então, pôde-se perceber que os distintos animais presentes no solo não são apenas habitantes, são também agentes fundamentais para diversos processos que ocorrem ali, fazendo que esse solo seja um complexo ecossistema. A constante atividade desses seres ao logo do tempo faz com que o ambiente e os elementos que o compõem (tipo de solo, nutrientes do solo, vegetação, etc.) sejam dinâmicos.

Os campos de murundus são exemplos claros da importância da atividade de pequenos animais na formação de um ecossistema diferenciado. Murundus são montes de terra que possuem forma arredondada, distribuídos ao longo de terrenos mais baixos, periodicamente alagados, encontrados em algumas paisagens do Cerrado. Esses “montes de terra” são formados por colonizações sucessivas de cupins, correspondendo a ninhos ativos ou não, que resistem aos processos de erosão do solo. A erosão, processo de carreamento de partículas do solo dos locais mais altos para os mais baixos, tenderia a nivelar a paisagem se não fosse a atividade intensa dos cupins em transportar solo de baixo para a superfície. Esse comportamento contribui para o aumento dos murundus, e consequentemente, para o aumento do território de forrageamento dos cupins durante os períodos de alagamento.

O processo de formação dos murundus é dinâmico, mesmo após a … Leia mais

O fantástico mundo das orquídeas

As orquídeas, plantas de uma exuberante beleza, pertencem à família Orchidaceae, umas das maiores dentre as angiospermas. Este grupo é composto por aproximadamente 790 gêneros e o número de espécies é estimado em 25000 a 30000. Possuem ampla distribuição, não sendo encontradas apenas em regiões polares e desérticas, e a maior diversidade localiza-se nas regiões tropicais da América e da Ásia.

Há estimativas que no Brasil ocorram cerca de 195 gêneros e entre 2500 e 3000 espécies de orquídeas distribuídas em todos os biomas. Nosso país é o terceiro em número de espécies destas plantas, precedido apenas pela Colômbia e Equador.

As Orchidaceae apresentam hábitos diversos, entre eles: rupícolas, crescendo sobre rochas; epífitas, crescendo sobre arbustos e árvores próximas ao solo abrigadas da luz, ou perto do topo das árvores e cactos, submetidas a bastante luz; terrestres, crescendo tanto em campinas e savanas em meio à relva, como sobre o solo de florestas.

As características morfológicas e reprodutivas das orquídeas são bastante diversificadas. Como exemplo, existem orquídeas com variadas dimensões, desde plantas extremamente pequenas, até plantas com mais de três metros de altura. Entretanto, elas são classificadas em uma única família devido às estruturas florais idênticas.

Em uma flor típica de orquídea, existem três sépalas e três pétalas. Uma destas pétalas é o labelo, bem diferente das outras, sendo maior, mais vistoso, projetando-se do centro da flor e auxiliando na reprodução. A partir deste labelo, surge um órgão carnudo (coluna ou ginostêmio), resultado da fusão dos órgãos femininos (carpelos) e … Leia mais

Crianças da Lua, aprisionadas pelo Sol

Estas crianças são portadoras de uma rara doença chamada Xeroderma Pigmentoso. É uma doença genética (autossômica recessiva) em que seu portador possui alelos não funcionais (genes mutados) herdados de ambos os pais. Esses alelos fazem com que o organismo dos seus portadores seja incapaz de corrigir os danos nas moléculas de DNA causados pela luz UV (ultravioleta) presente nos raios solares.

Devido à deficiência nesse mecanismo de correção, os portadores do xeroderma pigmentoso desenvolvem, ainda muito jovens, lesões degenerativas na pele nos locais expostos à luz solar. Primeiro aparecem manchas e sardas em grande quantidade e a pele se apresenta mais ressecada que o normal e logo após aparecem as lesões.

Caso a doença não seja diagnosticada, o portador pode desenvolver de maneira acelerada variados tipos de cânceres de pele, através das lesões causadas pelos raios UV, que podem gerar mutações e/ou morte nas células expostas ao sol.

As lesões ocorrem através de alterações indiretas nas bases do DNA, pela geração de espécies reativas de oxigênio que podem reagir com bases de nitrogênio, levando à quebra da molécula de DNA. Quando os raios UV são absorvidos diretamente pelas bases, possibilitam que ocorram ligações covalentes entre pirimidinas (moléculas que compõem o DNA – citosina e timina) adjacentes nas fitas, o que causa graves distorções estruturais na dupla hélice, causando o bloqueio da replicação (a célula é incapaz de se reproduzir) e a parada na transcrição (a célula não consegue mais produzir proteínas).

Os tumores e as manchas na pele não são … Leia mais

Dúvidas comuns sobre Paleontologia

Os homens das cavernas caçavam dinossauros?

Os dinossauros foram extintos mais de 60 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros hominídeos e portanto, não conviveram com eles.

Porém, outros animais pré-históricos foram contemporâneos dos humanos, como os mamutes, as preguiças gigantes, os tigres de dentes de sabre e muitos outros. Os humanos caçaram e inclusive pintaram alguns destes animais nas cavernas.

Se o ser humano evoluiu a partir do macaco, por que o macaco ainda existe?

O Homo sapiens não se originou de nenhum macaco existente na atualidade. O ser humano e os outros “macacos” compartilham um ancestral comum, e fazem parte do mesmo grupo, o dos primatas.

Nossos parentes mais próximos na atualidade são os chimpanzés e os bonobos, com os quais compartilhamos um mesmo ancestral que encontra-se extinto. Portanto o chimpanzé não deve ser visto como o nosso “avô” e sim como o nosso “primo”.

Qual foi a causa principal da extinção dos dinossauros?

Um meteoro de grandes proporções atingiu a Terra há 65 milhões de anos, no final da era dos dinossauros. A sua cratera ocupa parte da Península de Yucatán e o Golfo do México. Este impacto teria tido conseqüências catastróficas não apenas para os dinossauros, mas também para a muitos seres vivos na Terra, incluindo vários grupos de invertebrados, plantas e protistas que também se extinguiram. No entanto, no caso particular dos répteis, ao parecer mudanças na flora e no clima já afetavam a alguns grupos antes mesmo da queda do meteoro, pelo que … Leia mais

Transgênicos são naturais?

Há tempos que agricultores de todo o mundo manipulam genes de plantas e animais, sem mesmo sabermos sobre a existência de genes e cromossomos. A seleção das melhores sementes e dos melhores animais de um rebanho para cruzá-los entre si existe no mínimo há 10 mil anos. O melhoramento genético tradicional, como é chamado, transformou as plantas e os animais radicalmente, daquilo que eram quando o homem começou a trabalhar com eles para o que temos hoje. O objetivo dessas modificações é óbvio: aumentar a produção e a qualidade de sementes, frutos, plantas, bois, cavalos etc. Ao cruzar animais e plantas com características desejáveis os produtores conseguiram criar variedades importantes para o melhoramento. Entretanto, ao mesmo tempo, tiveram um grande trabalho para tirar, também por meio de cruzamentos, características indesejáveis nessas novas variedades.

Esquema mostrando transgênese utilizando cultura de tecidos vegetais. Fonte: World Wide Web (com modificações).

Existem dois métodos para produzir uma planta transgênica: usar uma bactéria chamada Agrobacterium tumefaciens ou por meio de biobalística. A técnica de se utilizar uma bactéria para transferir genes específicos a um vegetal surgiu quando cientistas observaram que o A. tumefaciens inseria trechos de seu DNA numa planta, provocando a doença galha de coroa, ou seja, é um processo que acontece na natureza.

A partir da observação dessa interação, pesquisadores criaram a técnica que consiste em três passos: 1) Retira-se do micróbio o seu plasmídio (uma pequena molécula de DNA) e dele se extrai o gene causador da doença. 2) No plasmídio é … Leia mais

A falsa dualidade entre Criação e Evolução

A questão sobre as origens do homem e do mundo remete a um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para explicar, a seu modo, como foi que isso ocorreu. Desde as primeiras manifestações mítico-religiosas o homem busca resposta para essa questão. Neste âmbito, até hoje a teoria criacionista é a que tem maior aceitação. Ao mesmo tempo, ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram uma versão própria.

O cristianismo, uma das crenças religiosas mais adotadas no mundo e protagonista das principais discussões sobre o tema, adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criação do homem. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou céus e terra. Feito a partir do barro e a imagem e semelhança de Deus, o homem teria ganho vida quando Deus insuflou o hálito da vida em suas narinas (Gn 2,7). O fato é que o livro do Gênesis não tem a intenção de descrever como se deu a criação, mais sim, apenas demonstrar que tudo provém de Deus (CIC)*. Vê-se pois, criacionismo é a crença de que o mundo e tudo o que existe nele são potencialidades de um ato criador de um deus.

Em contrapartida ao criacionismo há a teoria do evolucionismo. A Evolução Biológica consiste na mudança das características hereditárias de grupos de organismos ao longo de gerações. Grupos de organismos, denominados populações e espécies são formados pelas divisões de populações e espécies ancestrais; posteriormente os grupos descendentes … Leia mais