Volume 4 – 2013

Desconhecidos e ameaçados

Ana Lúcia Tourinho

 

O que é um opilião?  

Essa questão é bem frequente, mesmo entre alunos de classes de pós-graduação das áreas biológicas e relacionadas. Esses aracnídeos muito abundantes e distribuídos no mundo todo são pouco conhecidos. Possuem hábitos crípticos e noturnos, atingem seu pico de diversidade em regiões tropicais da América do Sul, principalmente o Brasil. Entretanto, diversas espécies brasileiras desses ocultos animais correm o risco de desaparecer do planeta antes mesmo de serem conhecidas.

Os opiliões são aracnídeos.  

Sim, eles parecem aranhas, mas não são. Assim como todas as aranhas, possuem o corpo dividido em dois segmentos, o anterior se chama prosomo ou cefalotórax, e o segundo se chama opistosomo ou abdômen. Também compartilham quatro pares de pernas, um par de pedipalpos (estruturas que parecem pernas, mas são usadas para manusear objetos), e um par de quelíceras (parte do aparelho bucal dos aracnídeos). Porém eles não tecem teias porque não têm fiandeiras (estruturas responsáveis pela emissão dos fios de seda). Além disso, visualmente as duas regiões do corpo dos opiliões não estão separadas por uma cintura como ocorre com o corpo das aranhas.  Ao longo de sua evolução, cinco dos segmentos da região posterior do corpo do animal, o opistosomo, se fundiram à região anterior, o prosomo, formando uma carapaça externa inteiriça chamada de escudo dorsal. Por este motivo a divisão de seu corpo em duas regiões, só pode ser visualmente notada internamente. Diferentemente das aranhas, que possuem muitos olhos (de quatro a oito olhos), eles têm … Leia mais

Conservação ou Preservação?

Willian Lopes Silva

Wagner M. S. Sampaio

 

Os termos Preservação e Conservação são utilizados para estabelecer a relação Homem e Natureza e proteger o meio ambiente, porém são ideologicamente distintos. Esses termos foram introduzidos por dois precursores do ambientalismo Norte Americano com o intuito de proteger o meio ambiente, o naturalista John Muir e o engenheiro florestal e político Gifford Pinchot. O primeiro nos dá o sentido de intocabilidade, onde o ambiente precisa ser preservado no seu estado natural sem nenhuma intervenção humana por ser importante por si mesmo. Já o segundo nos trouxe a ideia da conservação em longo prazo, onde os recursos naturais devem ser usados com parcimônia para não serem esgotados pelas necessidades humanas. As ideias de Muir e Pinchot são muito importantes para proteção da natureza, mas nos trazem um resultado muito diferente quando colocadas em prática e se usadas erroneamente podem trazer prejuízos socioambientais incalculáveis. O Preservacionismo de Muir foi um movimento romântico e espiritual, acreditava que Deus criou o universo para o gozo de todos os seres vivos, e não apenas para os seres humanos. Já o conservacionismo de Pinchot foi um movimento progressista e científico. Fato tão verdadeiro que, por exemplo, a legislação Brasileira e muitos pesquisadores adotam uma integração entre esses termos.  Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis, para garantir a proteção da diversidade biológica de um país é preciso estabelecer um sistema de áreas protegidas. No Brasil, as áreas protegidas incluem as áreas de proteção permanente, … Leia mais

Carbono Zero: um passo a mais para a sustentabilidade .

Daniel Brianezi

Laércio Antônio Gonçalves Jacovine

Ricardo Martiniano dos Santos

O Brasil é um dos principais emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente em função do desmatamento e da mudança no uso do solo. Por outro lado, também é um dos países com maior potencial para reduzir as emissões projetadas até 2030, pois o aumento das suas emissões ocorre em taxas menores que a de outros países em desenvolvimento, como China e Índia, e desenvolvidos; estes sujeitos a quotas de redução obrigatórias.

O Brasil, mesmo estando entre os maiores emissores de GEE, é considerado em desenvolvimento no Protocolo de Quioto (não -Anexo I), por isso não possuía metas de redução até 2012. No entanto, na 15a Conferência das Partes (COP-15), ocorrida no final de 2009 em Copenhague, os países signatários, como o Brasil, se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE de forma voluntária. Para isso, criou-se a Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), que no artigo 12 relata o compromisso nacional de ações de mitigação das emissões de GEE, visando à diminuição de 36,1% a 38,9% das emissões brasileiras projetadas até 2020. Assim, do total das metas de redução de GEE voluntárias que o Brasil propôs em seus NAMAs (Nationally Appropriate Mitigation Action), aproximadamente 90% são originários da agropecuária e da mudança no uso da terra, que representam 75% das emissões de GEE nacionais.

Dentre as medidas estabelecidas pela PNMC para reduzir as emissões de GEE brasileiras está o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que procura Leia mais

Um poema sobre Ciência

Flávia Fróes de Motta Budant

 

Imagine você que seu professor de ciências (biologia, física ou química) chega na sala com um novo texto sobre a matéria. Um texto que fala de animais. Que também fala a respeito da óptica. E também sobre átomos. Em que formato ele viria? Provavelmente em prosa, cheio de nomes gigantes e, dependendo da bondade do autor, com algumas figuras ilustrativas. Bom, talvez não fosse bem assim…

Ciência em versos

Há cerca de dois mil e cem anos vivia em Roma um sujeito chamado Lucrécio, sobre o qual sabemos pouco. O mais seguro que temos é a sua obra: um livro chamado De Rerum Natura – Sobre a natureza das coisas.  Lucrécio era seguidor de Epicuro, um filósofo grego que pregava a busca da felicidade através da dissolução dos medos, como o medo da morte. São eles que nos prendem, que impedem que vivamos bem.  Para os superarmos, precisamos conhecer o universo no qual estamos imersos, do qual somos uma pequena parte. Precisamos entender a natureza das coisas. Lucrécio, que, como bom romano, pagava tributo à cultura helenística (da Grécia Antiga), decidiu fazer uma obra para divulgar essas ideias filosóficas. E a fez – em versos. À época, o verso pertencia não só ao conteúdo lírico, mas também ao épico e ao didático, gênero ao qual pertence o De Rerum Natura.  Ele contém quase oito mil versos, separados em seis livros (ou cantos, divisões como capítulos), que tangem várias áreas do conhecimento: física, química, biologia, … Leia mais

Mudanças climáticas globais: verdades e consequências

Daniel Meira Arruda

Atualmente somos bombardeados com notícias sobre aquecimento global e mudanças climáticas, evidenciando causas e as consequências dessas alterações para o mundo em que vivemos. Neste texto, veremos o que são essas mudanças e como elas afetam os processos naturais. Veremos também que as alterações climáticas são um processo natural, que sempre ocorreu, mas que é intensificada pelas atividades do homem.

Nossos cientistas, por meio de diversas técnicas, conseguem obter estimativas do clima que a terra já experimentou ao longo de milhões de anos atrás. Considerando os últimos 65 milhões de anos, o clima global alterou drasticamente pelo menos seis vezes. Essas alterações são variações globais de temperatura entre 5-10°C, que representam os períodos glaciais, quando varia para menos, ou interglaciais, quando variam para mais. Desde o início do período considerado, se manteve uma fase bem quente com temperatura global próxima dos 33°C até 32 milhões de anos, quando tem peratura diminui bastante, formando a primeira geleira permanente na Antártica. Mesmo com algumas oscilações, a queda da temperatura continuou com ritmo acelerado até dois milhões de anos atrás, dando início a Era do Gelo. Nesse período as calotas polares ocupavam dois terços da extensão atual. O volume de água convertida em gelo foi tão grande que o nível dos oceanos era de 120 a 130 metros mais baixo que o atual. Os trópicos também sentiram os efeitos da glaciação, nessa fase a temperatura média tropical estava entre 5 e 10°C e, com a diminuição do nível dos oceanos, Leia mais

Sequestro de Carbono

Silvana da Costa Ferreira

Os impactos ambientais, ocorrentes em todo o planeta, aumentaram consideravelmente durante as últimas décadas do século passado. As emissões poluentes na atmosfera são feitas por todos os países do mundo e o gás dióxido de carbono (CO2), um dos compostos lançados na atmosfera, é produzido em todas as partes do planeta, principalmente pela queima de combustíveis derivados

do petróleo e pela produção de cimento que totalizam 75% das emissões. Os processos de uso da terra, sobretudo os desmatamentos e as queimadas, são responsáveis por grande parte dos 25% restantes.

Porém quando pensamos no título desse artigo, surge a pergunta: sequestro de carbono, como assim? Quem sequestrou o carbono? Na verdade o sequestro de carbono refere-se a processos de absorção e armazenamento de CO2 atmosférico, com intenção de minimizar seus impactos no ambiente, já que se trata de um gás de efeito estufa (GEE). A finalidade desse processo é conter e reverter o acúmulo de CO2 atmosférico, visando a diminuição do efeito estufa. Este processo ocorre principalmente em oceanos, florestas e outros locais onde os organismos por meio de fotossíntese, capturam o carbono e lançam oxigênio na atmosfera. Trata-se de uma captura e estocagem segura do CO2, evitando, deste modo, sua emissão e permanência na atmosfera terrestre.

A forma mais comum de sequestro de carbono é naturalmente realizada pelas florestas. Na fase de crescimento, as árvores demandam uma quantidade muito grande de carbono para se desenvolver e acabam retirando parte do gás carbônico do ar. Esse processo Leia mais

O que acontece com as espécies quando o clima muda?

Rúbia Santos Fonseca

Em ecologia denominamos comunidade como o conjunto de espécies que interagem entre si em uma área. Cada espécie apresenta um número diferente de indivíduos, por isso na comunidade algumas espécies são raras (com poucos indivíduos) e outras comuns (muitos indivíduos). A presença das espécies em um local, assim como a sua abundância, está relacionada a diversas características essenciais para sua sobrevivência, tais como precipitação, temperatura e recursos do ambiente. Muitas espécies apresentam distribuição restrita a uma pequena região, enquanto outras ocorrem sobre boa parte da superfície terrestre. Esses diferentes padrões de distribuição são relacionados às exigências de cada espécie para a sua sobrevivência, que é o nicho dessa espécie; e quanto mais exigente for a espécie, menos lugares aptos à ocupação ela terá.

Em função da relação das espécies com o clima, mudanças climáticas podem tornar o ambiente em que uma espécie ocorre inapropriado para a sua permanência, e a espécie pode ser extinta ou pode buscar outros locais com condições ideais para a sua sobre vivência. Esse fenômeno, denominado migração, já ocorreu muitas vezes durante o tempo em que a vida é registrada na Terra, nos períodos glaciais e interglaciais. Nos períodos glaciais as espécies das regiões temperadas deslocaram-se para a zona tropical, enquanto as espécies típicas da zona tropical ficaram restritas a pequenos refúgios climáticos. Nos períodos interglaciais, as espécies das regiões

temperadas retornaram para as suas áreas de origem, enquanto os refúgios tropicais se expandiram por toda a zona tropical, formando o padrão de Leia mais