Author name: folhabiologica

Surgimento e radiação dos Tetrápoda

A origem e evolução dos tetrapoda é bastante evidenciada no registro fóssil e apresenta uma enorme corrida evolutiva. A diversificação conhecida como transição peixe-tetrápode ocorreu do meio para o final do Devoniano há cerca de 380 milhões de anos atrás, começando mais especificamente durante o Givetiano. O grupo basal mais antigo conhecido são os Osteolepidídeos e parece improvável que mais tetrapomorfos ocorreram antes deles. O processo entre a origem e radiação de novas espécies levou cerca de 10 milhões de anos e novas descobertas acerca dos grupos fósseis achados ajudam cada vez mais na estruturação teórica sobre eventos que proporcionaram a radiação dos tetrápodes.

Entre os tetrapodomorfos, os aspectos da morfologia importantes são: região do espiráculo, arco hióide e os membros anteriores. A região espiracular está intimamente relacionada à respiração aérea, enquanto os membros anteriores foram sugeridos como apoio para a porção anterior do corpo quando os animais emergiram parcialmente da água. O ato de respirar ar atmosférico e com os membros oferecendo maior suporte, foi o necessário para que eles pudessem explorar o ambiente terrestre, e depois, radiar e se diversificar no grupo tetrápode que conhecemos hoje.

Informações a respeito do ambiente e estudos sobre a composição geológica predominante no período explicaram alguns eventos que levaram à adaptação da respiração atmosférica. A temperatura diminuiu, em média, 5°C desde o início do Devoniano até meados do Carbonífero. Os níveis de CO2 na atmosfera eram mais elevados, enquanto os níveis de gás oxigênio eram relativamente baixos nesse período. Assim, pensando que … Leia mais

Um legítimo rioparanaibano, a resiliência de uma recém descrita espécie

Na grande área das ciências biológicas uma das tarefas mais difíceis, e recorrentes, que um cientista tem é delimitar espécies. Mas afinal, o que é uma espécie? O que parece ser uma pergunta fácil de ser respondida geralmente causa um verdadeiro nó na cabeça dos biólogos. O motivo disso é que os organismos vivos se diferenciam mais ou menos uns dos outros, e essa variação acontece tanto acima quanto abaixo do nível de espécie. Desta forma, “espécie” nada mais é do que um termo criado por nós humanos para delimitar organismos que são suficientemente diferentes entre si. A grande dificuldade fica em se determinar quão diferente um organismo precisa ser do outro para serem considerados de diferentes espécies, ou em outras palavras, onde termina uma espécie e onde começa outra.

Diferentes conceitos foram propostos ao longo dos anos para auxiliar neste dilema, levando em consideração aspectos como reprodução, genética, morfologia, história evolutiva, nicho ecológico e etc. Cada um desses conceitos apresenta seus méritos e suas falhas, mas no geral os pesquisadores concordam que usar diferentes métodos e fontes de informação biológica é a melhor solução. Uma última questão que devemos discutir é a distribuição geográfica das espécies, já que algumas, como a nossa, ocorrem em todo planeta, enquanto outras podem ter uma distribuição mais restrita, podendo até serem encontradas em um único local, sendo chamadas de espécies endêmicas. Agora já imaginou que legal seria ter uma espécie que ocorre apenas em sua cidade? Pois esse é um orgulho que os … Leia mais

Cromossomo Y, como ele surgiu?

Provavelmente você já estudou ou ouviu falar sobre cromossomos¹ sexuais e sabe que eles são os responsáveis por determinar o sexo de um indivíduo. Os seres humanos e mamíferos em geral apresentam o que chamamos de sistema sexual XX/XY, onde a fêmea possui as duas cópias do cromossomo X, sendo classificada como homogamética (em grego, homo=igual) e o macho possui uma cópia do X e outra do Y, sendo assim heterogamético (em grego, hetero=diferente).

Mas o que diferencia o Y do X? Como o Y é responsável por determinar o sexo masculino?

Em relação as suas diferenças é possível identificar que o cromossomo Y possui um gene² exclusivo chamado SRY, situado em uma região responsável pelas características masculinas e diferenciação do sexo. Porém, o Y também possui uma região chamada Região Pseudoautossomal, e esta se encontra em homologia³ com o X, o que nos indica que o Y provavelmente surgiu do cromossomo X.

Então como surgiu o Y? E por que o X não possui o gene SRY?

Sabemos que há milhões de anos atrás não existiam cromossomos sexuais em mamíferos e esse grupo apresentava somente cromossomos autossomos⁴. Um desses pares homólogos de cromossomos autossomos apresentava um gene chamado S0X3 e em determinado momento na história evolutiva houve um evento de quebra sobre esse par. Em função disso o gene S0X3 se fusionou com outro gene que era responsável pela expressão bipotencial das gônadas⁵, surgindo assim o gene SRY com sua nova função de determinação dos testículos.

Anos mais tarde, … Leia mais

Por que o azul é a cor mais rara da natureza?

Você já viu felinos azuis? Ratos azuis? Cachorros azuis? Quando penso em animais azuis consigo me lembrar de pouquíssimos animais que apresentam essa coloração. Até a chamada baleia azul não é realmente azul, né?

Animais no geral não produzem seus pigmentos do nada, eles são produzidos através dos alimentos que são consumidos. Os flamingos são um exemplo disso, pois a coloração rosa que apresentam é devido às concentrações de carotenoides encontrados nos crustáceos que eles ingerem. Então basicamente, você é o que você come, exceto quando se trata do azul. O fato é que embora essa cor seja uma das cores primárias, ela é a cor mais rara de se encontrar na natureza e quando encontrada, ela se destaca no meio de todas as outras.

Sobre esse tema vamos analisar as borboletas que, no geral, apresentam os padrões mais diversos que podem ser encontrados na natureza, como asas de todas as formas e cores. A razão pela qual essas estruturas são tão diferenciadas é justamente para mandar algumas mensagens para outros animais como “eu sou tóxica”. De acordo com o Doutor Bob Robins, curador de Lepidópteros no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Washington D. C., as borboletas são seres incríveis cuja evolução permitiu que fossem ativos durante o dia possibilitando a grande vantagem da comunicação através da luz. Acontece que, podemos perceber nas asas das borboletas estruturas minúsculas que refletem a luz. Essas estruturas são escamas e podem apresentar diversas cores provenientes de pigmentos orgânicos que absorvem … Leia mais

Spinosaurus: o dinossauro mais badalado do século

Spinosaurus é um dos gêneros de dinossauros mais populares atualmente. Ele se tornou bem conhecido pelo público em 2001, após aparecer no filme Jurassic Park 3 derrotando o dinossauro mais popular de todos: o T. rex. A história desse dinossauro começa no início do século XX no Egito, com a nomeação de Spinosaurus aegyptiacus por Ernst Stromer em 1915. O que mais chamou a atenção de Stromer foram os estranhos espinhos nas costas do animal que em vida sustentavam uma vela dorsal bastante característica.

Infelizmente o exemplar estudado por Stromer foi armazenado em um museu alemão e destruído em um bombardeio na segunda guerra mundial. Somente mais tarde, com a descoberta de outras espécies próximas e mais restos fragmentários do Spinosaurus, que mais informações sobre sua biologia foram conhecidas. Naquele momento, sabia-se que o Spinosaurus tinha um focinho comprido semelhante a um crocodilo, dentes cônicos, narina recuada para trás no crânio e que tinha nos peixes sua principal fonte de alimento.

No entanto, as novidades acerca da biologia do Spinosaurus estavam, e ainda estão, longe de acabar. Em 2014 o paleontólogo Nizar Ibrahim e colaboradores descreveram um novo espécime descoberto nas Camadas Kem Kem do Marrocos, o novo fóssil exibiu pernas e pélvis curtas em comparação com o resto do esqueleto, sugerindo que o animal deveria ser quadrúpede! Além disso, a equipe também apontou uma alta densidade em alguns ossos do animal, o que o permitia submergir com mais facilidade na água, além propor um formato de “M” … Leia mais

SARS-CoV-2, de onde você veio?

Ilustração da morfologia ultraestrutural dos coronavírus (Foto: CDC, Centers of Diseases Controls and Prevention)

Desde o início de 2020 uma palavra até então inédita no vocabulário de muitas pessoas passou a ser a mais frequente em nosso dia a dia: Coronavírus. Tudo começou em 08 de dezembro de 2019, quando um novo coronavírus foi detectado em pacientes com pneumonia na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, China.  Naquele momento, a humanidade não só estava diante de um novo vírus, como também de uma nova doença respiratória: a COVID-19, cujo significado em português é Doença do Coronavírus de 2019.

O novo vírus foi nomeado como SARS-CoV-2, cujo significado em português seria Coronavírus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Como o próprio nome já diz esse não é o primeiro coronavírus que causa doenças em seres humanos. Na verdade, existem outros seis coronavírus em humanos. Desses seis, quatro causam resfriados leves e apenas outros dois coronavírus causam doenças graves. O contato prévio com esses dois coronavírus são uma das justificativas de porque alguns países, como a China, Coréia do Sul e Taiwan, souberam controlar a disseminação do vírus em seus territórios de forma bem melhor que o Brasil.

Esses dois coronavírus são chamados SARS-CoV e MERS-Cov, e são os agentes etiológicos das enfermidades chamadas SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). A semelhança desses coronavírus com o SARS-CoV-2 não para apenas no nome, suas enfermidades também são semelhantes à COVID-19. Tendo … Leia mais

Aves frugívoras: Ecologia e conservação

Os serviços ecológicos, ecossistêmicos ou ambientais, são os papéis que cada espécie exerce no planeta. Estes serviços influenciam na vida e sobrevivência de todo ser vivo, inclusive na nossa. Ao admirar o fascinante tucano, com aquela beleza que mais parece uma pintura; ao ouvir a barulhenta vocalização das maritacas; ao contemplar a elegância do canto de um sanhaço ou de um sabiá, muitos nem imaginam o quão estamos ligados ecologicamente às aves.

Ave da família Psittacidae se alimentando de um fruto (PEREIRA, 2010)

As aves frugívoras, por exemplo, podem ser consideradas espécies dispersoras de sementes. Funciona assim, ao se alimentarem de alguns frutos as aves podem excretar ou regurgitar suas sementes, além de ocasionalmente carregarem alguns grãos em seu bico ou em suas garras, os eliminando durante o voo e o pouso. Em muitos casos, as sementes carregadas ao serem dispersas germinam no local depositado. Considerando que as aves, de forma geral, visitam muitos locais durante o dia, estes animais são muito importantes na dispersão de espécies, podendo transportar sementes a quilômetros de distância da planta mãe, fazendo assim que grupos vegetais prevaleçam e conquistem novos territórios. Devido a isso pode-se dizer que as aves auxiliam na restauração natural de áreas degradadas, sem que haja intervenção humana.

Em um estudo publicado na revista PeerJ em 2016, intitulado “Internal seed dispersal by parrots: na overview of a neglected mutualism”, foi observada a eliminação de sementes viáveis para germinação, em fezes de aves da família Psittacidae. Essa família trata-se do grupo ao … Leia mais